Seu novo livro "The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains" (O Superficial: O que a internet está fazendo com nossos cérebros) argumenta que os últimos avanços da tecnologia nos tornou menos capazes de pensamento aprofundado. Carr se descobriu tão distraído que não podia trabalhar no livro enquanto estava conectado.
"Eu descobri que minha incapacidade de me concentrar é uma grande deficiência", disse Carr à Reuters.
"Então, abandonei minhas contas no Facebook e no Twitter e reduzi o uso de email de modo que eu apenas checava algumas vezes por dia em vez de a cada 45 segundos. Descobri que esses tipos de coisas realmente fazem a diferença", afirmou ele.
Depois de inicialmente se sentir "perdido" por sua súbita falta de conexão online, Carr afirmou que após algumas semanas foi capaz de se concentrar em uma tarefa por um período sustentado e, felizmente, conseguiu terminar seu trabalho.
Carr escreveu um artigo para a revista Atlantic Magazine em 2008 em que trouxe a público a famosa dúvida "O Google está nos tornando estúpidos?" e resolveu estudar mais fundo como a Internet altera nossas mentes.
O livro examina a história da leitura e aborda como o uso de diferentes mídias muda nossos cérebros. Explorando como a sociedade mudou da tradição oral para a palavra escrita e para a internet, ele detalha como o cérebro se reorganiza para se ajustar a novas fontes de informações.
A leitura na Internet mudou de forma fundamental a maneira como nós usamos o cérebro, segundo o autor. Encarando uma enxurrada de textos, fotos, vídeos, músicas e links para outras páginas, além de incessantes interrupções geradas por mensagens de texto, emails, atualizações no Facebook, tweets, blogs e feeds RSS, nossas mentes se acostumaram a navegar e a escanear informações.
Como resultado, desenvolvemos habilidades na tomada de decisões rápidas, particularmente as baseadas em estímulos visuais, afirma Carr. Mas, agora, a maioria de nós lê com pouca frequência livros, ensaios longos ou artigos que nos ajudam a concentrar e sermos mais introspectivos e contemplativos, diz o autor.
Para Carr, estamos nos tornando mais como bibliotecários, capazes de encontrar rapidamente informações e perceber quais são as melhores, do que acadêmicos que são capazes de digerir e interpretar a informação.
A falta de foco afeta a memória de longo prazo, levando muitas pessoas a se sentirem distraídas, afirma o autor.
"Nunca ativamos as funções mais profundas, interpretativas de nossos cérebros", disse ele.
Para ilustrar esse ponto, ele compara a memória de curto prazo a um dedal e a de longo prazo a uma grande banheira. Ler um livro é como encher a banheira com água a partir de um fluxo constante de uma torneira, com cada porção de informação sendo construída a partir da anterior.
Em contraste, a internet é um conjunto infinito de torneiras abertas ao máximo, nos deixando tomados de porções pequenas de informações desconexas para encher a banheira, o que torna mais difícil para nossas mentes fazer as conexões necessárias que permitiriam seu uso posteriormente.
"O que estamos perdendo é todo um conjunto de outras habilidades mentais, aquelas que requerem não a mudança de nosso foco, mas a manutenção dele sobre um ponto", disse o autor. "Contemplação, introspecção, reflexão, não há espaço ou tempo para isso na internet."
Carr sustenta que durante séculos os livros protegeram nossas mentes da distração, concentrando o foco em um assunto por vez. Mas com aparelhos como Kindle e iPad, que incorporam leitores de livros digitais a browsers de internet, se tornando comuns, Carr afirma que os livros também vão mudar.
"Novas formas de leitura sempre exigem novas formas de escrita", diz ele. Se os escritores atuam em uma sociedade que é cronicamente distraída, eles inevitavelmente vão desistir de argumentos complexos que requerem atenção contínua para escreverem pequenas quantidades de informação.
Carr tem uma sugestão para aqueles que sentem que navegar pela Internet os deixou incapazes de concentração: reduza o ritmo, se afaste da Internet e pratique as habilidades de contemplação, introspecção e reflexão.
"Está muito claro na ciência do cérebro que se você não exercita habilidades particularmente cognitivas, você vai acabar perdendo-as", disse ele. "Se você está constantemente distraído, não vai pensar do mesmo modo de que se estivesse prestando atenção".
Reuters