Dagomir Marquezi
"Seu computador está tentando acessar a internet." Tentando? Vírtua ligado, conta paga, sem terremoto em São Paulo. Pois ele tenta, tenta e tenta. As luzes do modem se apagam. Tenho tanto trabalho antes de viajar! Ligo para a NET. Digito o CPF. Repito o CPF ao operador. Explico que preciso MUITO trabalhar. Quase imploro pela conexão. "Um momento, senhor. Não localizamos se o problema está na residência, no bairro ou no resto do mundo. Nossos técnicos vão verificar o erro. Se ele não for localizado até o fim da madrugada, podemos agendar a visita de um técnico entre 8 da manhã e meio-dia."
Nesse horário estarei no avião! Preciso da conexão agora! "Sentimos muito, senhor." Plano B. Tenho um modem 3G. A luz verde se acende. Agora vai! Ela pisca e fica vermelha. Ligo para a Claro. "Sentimos muito, senhor, mas o sistema de atendimento está em colapso e só poderemos tentar achar uma resposta a partir das 5 horas da manhã. Não podemos nem ouvir sua reclamação."
Dois sistemas de conexão independentes entram em pane na mesma hora. Preciso trabalhar! "Sentimos muito, senhor." Durmo, pego o avião para Ilhéus, sigo para Itacaré. Entro na pousada perguntando: como está a internet? Está muito boa, responde a funcionária. Que alívio.
Chego ao quarto, ligo o netbook e o sinal está muito bom. Conforme avança a madrugada, fica lento. O e-mail demora. Até que nada mais é aberto. O sinal da rede da pousada é forte, mas a conexão externa vai caindo. No dia seguinte, a direção da pousada implora ao servidor para resolver a situação, mas um cabo se rompeu, o morro atrapalhou o sinal e os problemas que serão resolvidos no menor prazo possível...
Como milhões de brasileiros, vivo na internet e da internet. Mando trabalho, acerto preço, me comunico etc. Escrevo colunas no Google Docs e roteiros no aplicativo online Celtx. Nem vou repetir os argumentos para tentar provar que a vida na internet é mil vezes melhor que fora dela — a não ser que você seja um riponga reacionário que não resolveu seu conflito com a civilização. Tudo o que faço está online e pode ser retomado no ponto em que deixei antes. O "escritório em todo lugar" aumenta a produtividade de quem sabe estar conectado. (Tá legal, você tende a trabalhar mais, mas essa é outra história.)
Numa civilização online, não é concebível ser apanhado por três crises de conexão em um dia. Internet deve ser como água. Ou luz. Ligar um computador não pode ser um suspense.
De quem é a responsabilidade? Nossos serviços de internet são considerados caros e terrivelmente lentos. E tem o cai-cai, sem motivo. As operadoras merecem levar chibatadas? Em parte. Existem erros de planejamento e barbeiragens técnicas? Sem dúvidas. Mas por trás da situação está a sombra do Estado, seu pantanal burocrático, as indecentes cargas tributárias que impedem mais investimentos. Pagamos caríssimo à glutonaria estatal e recebemos um país medíocre em quase todos os aspectos. E eles nem sentem muito, senhor.