Brenda Parke é uma das mais de 15 mil vítimas de fraudes que fizeram denúncias à agência britânica de combate às fraudes nos seis primeiros meses deste ano.
À primeira vista, ela parece uma vítima improvável. Atraente, confiante e independente, Parke vive com seu cachorro Oscar em uma casa confortável numa região rural em West Sussex, no sul da Grã-Bretanha, após uma carreira de sucesso no setor de turismo.
No fim do ano passado, ela decidiu compartilhar isso com alguém. "Estava sozinha por vários anos e cheguei a um ponto no qual decidi que precisava fazer algo sobre isso", explica.
Ela então se afiliou a um site de encontros pouco antes do Natal de 2009 e logo recebeu seu primeiro e-mail, de um suposto empresário holandês que trabalhava na Grã-Bretanha chamado "Bradford Cole".
Perfil interessante
"O perfil dele parecia muito interessante", disse ela. "Eu gostei de sua descrição, gostei de sua aparência. E a primeira linha de seu perfil dizia: 'honestidade é a melhor política', o que foi um pouco o que me fisgou", conta Parke.
Ela e "Bradford" começaram a trocar e-mails com frequência e logo estavam conversando também ao telefone. "Ele disse que tinha 46 anos, que tinha uma filha de 14, e que sua mulher havia morrido alguns anos antes", conta ela.
"Ele era um homem de negócios, estava procurando alguém para dividir sua vida com ele. Eu apontei a ele que havia uma grande diferença de idade, mas ele respondeu que eu ainda era uma mulher atraente, e claro que fiquei lisonjeada com isso", diz.
Parke admite que, apesar de que tudo o que conhecia sobre "Bradford" eram alguns poucos detalhes pessoais e sua pequena foto em seu perfil no site de encontros, em fevereiro eles estavam conversando até três vezes ao dia pelo telefone, e estavam desenvolvendo "uma ligação forte".
Viagem de negócios
Foi então que ele disse a ela que precisava viajar à República do Benin, em uma viagem de negócios. "Ele disse que supria e instalava computadores e que tinha alguns problemas com um carregamento e com impostos que precisava resolver", conta Parke.
Inicialmente, não havia nenhuma referência a dinheiro. Mas então "Bradford" jogou uma nova cartada: disse que ele e sua filha tinham sofrido um acidente e que precisava de dinheiro para pagar o hospital.
"Ele me envolveu pela emoção", diz ela. "Eu fui muito sutilmente e muito espertamente colocada por ele numa posição de responsabilidade pelo bem-estar de sua filha."
Ela concordou em enviar 9,6 mil libras (cerca de R$ 25 mil) em dinheiro para pagar por contas de hospital. Depois ele pediu mais - 22 mil libras (cerca de R$ 58 mil) para pagar taxas de importação devidas por sua empresa.
Erro
"Você se vê como um jogador, uma vez que enviou a primeira quantia de dinheiro. Esse é o maior erro", avalia Parke.
No fim, com histórias falsas de impostos de importação, taxas de exportação e custos de viagem, apoiadas por faturas falsas e notas promissórias sem validade, "Bradford" conseguiu tirar quase 60 mil libras (R$ 159 mil) de Parke.
"É uma quantia enorme", diz ela, com tristeza. "No final, não estava mais dormindo, estava em frangalhos, estressada com toda essa história", conta. "É muito embaraçoso. Fui enormemente humilhada", disse.
Parke diz que a parte mais difícil foi contar aos amigos e à família e que agora resolveu tornar sua história pública em um esforço para ajudar outras pessoas a evitar as armadilhas nas quais ela caiu. "Por mais forte e sensato que você seja, sempre há um calcanhar de Aquiles", adverte.
"Se eu fui enganada, acho que qualquer um pode ser enganado. Essas pessoas são muito sutis e convincentes. A história foi muito bem desenvolvida e cobria todos os tipos de pequenos detalhes", diz.
Segundo ela, o autor do golpe jogou com seus pontos fortes tanto quanto com seus pontos fracos. "Ele sugeriu que eu era muito boa em organizar coisas e assumir responsabilidades. No final, eu era retratada como a única pessoa que poderia possivelmente ajudá-lo em todo o mundo", diz.
BBC Brasil