Quanto vale saber quem será o próximo
presidente dos Estados Unidos ou que time de
futebol tem mais possibilidade de ganhar a
Liga dos Campeões? De acordo com reportagem
publicada pela
BBC, especialistas
assinalam que os dados que circulam na
internet com a computação em nuvem, as redes
sociais, os correios eletrônicos, uso de
smartphones ou de sistemas de geolocalização,
formam uma extensão de nosso próprio
cérebro, de nossa alma e, em seu conjunto,
uma intelgência coletiva digital. Agora
pense em como nós, em nível individual,
lidamos com estes dados para realizar
predições e tomar decisões no dia a dia.
Quanto poder teria quem pudesse fazer o
mesmo com a internet aplicada ao mundo
político, financeiro, bélico e, porque não,
pessoal? Por conta disso, uma frase soa com
insistência pelos corredores do Vale do
Silício: os dados pessoais são o novo
petróleo.
A reportagem cita o dado de que
a cada dia são gerados 2,5 quintilhões de
bytes de informação - segundo a IBM - no
mundo, fluxo que só cresce na medida em que
nossa realidade se povoa de objetos
inteligentes. Nunca na história da
humanidade houve registro de tanta
informação e com tanto potencial para ser
usada na construção de um mundo mais
previsível e, consequentemente, menos
volátil. É por isso que, exemplifica a
BBC, a Agência Nacional de Segurança dos
Estados Unidos está envolvida na construção
de um gigantesco centro de processamento de
dados da internet em pleno deserto de Utah.
Citado na reportagem, o diretor de
pesquisas da Telefônica Digital, Pablo
Rodríguez, disse num fórum de comunicação em
Madri que atualmente "somos como insetor que
deixam seus feromônios pelo caminho" e assim
como essas criaturas, esta informação nos
ajuda cada vez mais a nos conectarmos e nos
coordenarmos. Para Rodriguz, 90% desses
dados ninguém vê hoje, mas em 2030 a
internet vai ser capaz de transportar toda a
informação que os humanos captam através de
seus sentidos, informação que será usada
pelas máquinas, robôs e sensores que serão
nosso cérebro ampliado".
O que especialistas destacam é que muitos
usuários não perceberam ainda essa realidade
e não têm consciência do quanto valem seus
dados. Por isso, dizem, a internet estaria
funcionando com uma estrutura feudal: os
usuários geram riqueza em troca do uso da
"terra" da internet, enquanto os monarcas
(como Facebook, Google ou Microsoft)
repartem o butim.
"Não há nada grátis na internet. O que
muita gente não sabe é que dar seus dados em
páginas web é dar dinheiro", diz Ignacio
Suárez, advogado especializado em direito da
internet e proteção de dados citado pela
BBC. "As pessoas teriam que estar
preocupadas, os jovens, por exemplo, não
sabem até que ponto estão jogando com seus
dados, que é possível que eles sejam
manipulados por empresas de outros
continentes a quem não importa a proteção
desses dados".
Mas, afinal, quanto valem nossos dados?
De acordo com emarketer, webpronews e o blog
de tecnologia Tech Crunch, o Facebook teria
lucrado, apenas com publicidade, mais de US$
1,8 bi em 2010, liderando uma lista em que
vêm a seguir YouTube, MySpace, LinkedIn e
Twitter. Entretanto, nesta espécie de "Oeste
selvagem", já começam a aparecer iniciativas
para restabelecer a ordem e devolver aos
usuários uma certa soberania sobre sua vida
digital. No início deste ano, a Comissão
Europeia propôs uma reforma legal para
proteger com mais eficiência os dados
pessoais dos usuários e garantir essa
proteção independentemente de onde eles
estejam armazenados. Os usuários, amparados
pelo "direito ao esquecimento", poderão
solicitar seus dados e as companhias terão
que informar claramento sobre o que está em
jogo em seus termos e condições de uso.
Neste cenário, diz Rodrigues, se os
usuários retomam o controle de seus dados e
sabem gerenciá-los, "as possibilidades são
enormes"."Poderemos desenvolver aplicações
que nos permitam entender qual é nosso
potencial de crescimento". Ou seja,
poderíamos doar nossos dados, por exemplo,
para projetos científicas que tentem
descobrir curas ou predizer, por exemplo, o
desenvolvimento de um câncer, ou saber o que
podemos fazer para otimizar nossos gastos e
chegar mais folgados ao fim do mês. Mas,
destaca a reportagem, para aproveitar todos
este petróleo de dados, fazem falta muitas
refinarias: supercomputadores para conhecer
o significado dos quintilhões de dados que
circulam todo dia pelas vias da internet, ou
aplicações que permitam adaptar esta
tecnologia às nossas necessidades.