Instagram, o aplicativo fotográfico para
celulares, foi vendido ao Facebook por US$ 1
bilhão (R$ 1,8 bilhão). Mas teria ele gerado
uma verdadeira onda de aplicativos
fotográficos de aspecto retrô? É o que
pergunta o fotógrafo
Stephen Dowling: "Instagram -
assim como como seus parceiros Hipstamatic,
Camerabag and Picplz - despertaram no mundo
da fotografia digital uma verdadeira febre
em torno de um tipo de imagem".
Fotos
sacadas com smartphones ganham cores
saturadas e molduras similares às de uma
Polaroid, com efeitos, filtros e luzes
estouradas, como os "momentos Kodak" das
gerações anteriores. Podemos até estar em
2012, mas a última vez que a fotografia se
pareceu com isso foi no início dos anos 70.
A tendência começou há alguns anos com o
Hipstamatic, um aplicativo que confere às
imagens o visual de câmeras de brinquedo de
baixa definição. Agora, o Instagram permite
que uma foto seja feita com seu smartphone,
que um "filtro" digital seja aplicado e que
a imagem resultante desse processo possa ser
vista por uma comunidade cada vez maior.
Instagram: 1 bilhão de fotos
Lançado em março de 2010, o Instagram só foi
alcançar seu milionésimo usuário no final
daquele ano, mas daí para a frente sua
ascensão foi atordoante. Apenas 15 meses
depois, ele conta com mais de 30 milhões de
usuários e seus servidores possuem 1 bilhão
de fotos.
O uso de filtros pelo aplicativo reproduz
alguns dos processos que fotógrafos usavam
para expandir as fronteiras da fotografia,
como o uso de cores supersaturadas criadas
ao se revelar um negativo em um composto
químico que serviria para revelar outro tipo
de filme ou utilizar a paleta de cores
suaves de filmes vencidos ou ainda brincar
com as configurações da câmera ou com
equipamentos da sala de revelação, para
realçar o contraste.
O co-fundador do Instagram, Kevin Systrom
afirmou: "A ideia era fazer com que a
fotografia por telefones celulares fosse
rápida, linda e divertida. Nós aprendemos
que tirar fotos com o telefone não garantia
os resultados que queríamos, por isso
criamos filtros e ferramentas para se obter
uma experiência mais artística".
Systrom e os outros subitamente muito
ricos criadores do Instagram podem ter boas
causas para agradecer a um homem chamado
Michail Panfiloff. Panfiloff não é um alto
executivo do Facebook e nem é um analista de
tecnologia que previu o súbito êxito do
Instagram.
Na verdade, ele foi o chefe de uma grande
empresa fotográfica soviética, na antiga
Leningrado (atual São Petersburgo), que
decidiu em 1982 criar uma réplica de uma
humilde câmera japonesa capaz de registrar
uma foto e revelar a imagem pouco depois.
A câmera resultante desse intuito, a Lomo
LC-A, pode ser considerada a mãe do
Instagram e a razão pela qual a fotografia
digital se parece subitamente tão retrô.
Fotógrafos de cinema passaram por essa
fase retrô há cerca de uma década e meia,
após estudantes austríacos terem descoberto
uma série de Lomo LC-As em uma loja
fotográfica de Praga e depois de eles
criarem o ideal de "não pense, apenas
clique", característico da lomografia, de
meados dos anos 90, muitas vezes utilizando
câmeras de brinquedo com lentes de plástico
e filme que havia há muito passado da sua
data de validade - e que era bem mais barato
que o filme tradicional.
A sensação em torno da câmera transformou
a LC-A em um ícone que levou à retomada de
sua produção. Agora, o universo do Facebook
e dos Flickrs da vida está cheio de imagens
"lomo", mas a diferença está nos bits e
bytes.
Repetição e criação
A capacidade de transformar uma foto
rotineira em algo "artístico" ao clicar um
botão está na essência da conveniência que
representa a fotografia digital - sem longas
curvas de aprendizado ou a experiência de
tentativa e erro que envolve rolos de filme
caro. Mas ela é criativa?
A escritora e fotógrafa Kate Bevan
acredita que não. "Se eu acredito que é algo
válido do ponto de vista artístico? Não. Eu
creio que mata o instinto criativo. No
entanto, eu adoro o ato de compartilhar e
compreendo o princípio de quem quer que as
suas fotos se destaquem, ainda que o
Instagram acabe fazendo exatamente o
contrário."
Na primeira vez que alguém vê um filtro
de Instagram aplicado à imagem, o resultado
parece impressionante. Mas e para quem o vê
pela milésima vez? "Sou a favor da
experimentação com imagens e nunca seria uma
elitista a respeito da fotografia", afirma
Kate Bevan.
"Mas eu não creio que (o Instagram)
estimule a experimentação. Ele estimula um
processo preguiçoso de processar a imagem
utilizando somente um clique." A minha
própria conta de Flickr possui imagens que
parecem ter sido feitas com os algoritmos
retrô do Instagram, mas não o foram. As
imagens não são digitais, foram todas
criadas a partir de filme.
Elas são o resultado de uma década e meia
de erros e tropeços. Técnicas como processo
cruzado, para gerar mudanças de cores
dramáticas, cores amenas ou acinzentadas
obtidas com filme vencido ou cores
desbotadas resultantes do uso de lentes
tradicionais, que não se valeram de filtros
modernos e realçadores de contrastes.
Os erros fizeram de mim um fotógrafo
melhor. E os momentos em que tudo acaba
dando certo valeram o suor. O filme é antigo
e vencido e as cores são saturadas, mas o
efeito depende das características daquele
único frame e das limitações da câmera em
que ele foi carregado. Nenhuma outra imagem
se parecerá com aquela.
Nem todos os filtros do Instagram são de
saltar aos olhos e nem todos os seus
usuários seguem o caminho retrô. Alguns
fotógrafos apenas dão um leve toque em suas
imagens com o Instagram.
Aspecto social
Um desses neo-convertidos é Kevin Meredith,
conhecido - no Instagram - como
Lomokev, um autor, fotógrafo e
professor baseado na cidade de Brighton, na
Grã-Bretanha. "Uso o Instagram de uma
maneira diferente da maneira como eu uso o
negativo. As imagens de Instagram podem ser
sobre o imediatismo do momento, quando quero
que as pessoas saibam o que estou fazendo.
Geralmente, mando minhas imagens de
Instagram para o Twitter e o Facebook. Mas
mantenho a minha conta de Flickr para as
fotografias de verdade que faço com filme ou
com câmeras digitais", afirma.
Meredith também acredita que o Instagram
possa servir como uma ferramenta criativa.
"Ele é criativo, afinal uma imagem que é
feita por alguém antes mesmo de ser
submetida a um filtro é única, ninguém nunca
tirou aquela imagem antes, mesmo que outras
muito semelhantes tenham sido feitas
anteriormente."
Outro fã do Instagram é a fotógrafa
especializada em música
Kate Booker. Ela usa o aplicativo
ocasionalmente, em imagens registradas em
câmeras digitais e com negativo. Para ela, o
aspecto social do Instagram é outro ponto a
favor do aplicativo. "Fico intrigada com o
mundo dos outros e Instagram permite que
você veja os usuários mais populares, siga
pessoas e veja a vida de outras pessoas e
suas perspectivas de uma forma muito
simples."
"As imagens transcendem linguagens e eu
adoro o fato de que o Instagram seja usado
internacionalmente e de que alguém no México
possa subir uma imagem e você possa vê-la
instantaneamente e ter uma ideia do que é o
mundo delas. Da mesma forma, eu posso
colocar alguma coisa e compartilhar, para
que alguém possa conhecer o meu mundo."
Meredith também acredita que o fato de o
Instagram ter optado por sua estética retrô
possa gerar uma outra coisa - o renascimento
do filme. "Há muitas pessoas por aí que usam
smartphones para tirar fotos e usam
aplicativos para torná-las mais atraentes.
Mas há também aqueles que querem mergulhar
nos filmes."