Em 1993, ela elucidou a estrutura atômica da
perovskita a altas pressões; a perovskita é o mineral mais abundante
no manto inferior, a camada mais ampla do interior do planeta, com uma
espessura de 2.200 km, bem menos conhecida que as camadas mais externas.
Em 2004 Renata e sua equipe identificaram a pós-perovskita, mineral que
resulta da transformação da perovskita submetida a pressões e
temperaturas centenas de vezes mais altas que as da superfície, como nas
regiões mais profundas do manto.
Os resultados ajudaram a explicar as velocidades das ondas sísmicas,
geradas pelos terremotos, que variam de acordo com as propriedades dos
materiais que atravessam e representam um dos meios mais utilizados para
entender a composição do interior da Terra.
Agora novos estudos da pesquisadora indicaram que a pós-perovskita
tende a se dissociar em óxidos elementares, como óxido de magnésio e
óxido de silício, à medida que a pressão e a temperatura aumentam ainda
mais, como no interior dos planetas gigantes, Júpiter, Saturno, Urano e
Netuno.
"Estamos com a faca e o queijo na mão para descobrir a constituição e
as diferenças de composição do interior de planetas", diz.
Zona de transição
Por meio de trabalhos como os de Renata e seu grupo agora se começa a
ver melhor como os minerais do interior da Terra tendem a perder
elasticidade e se tornarem mais densos quando submetidos a alta pressão
e temperatura, que aumentam com a profundidade.
Em razão do aumento da pressão é que se acredita que a densidade do
centro da Terra - formado por uma massa sólida de ferro a temperatura
próxima a 6.000 graus Celsius (ºC) - seja de quase 13 gramas por
centímetro cúbico, quatro vezes maior que a da superfície, indicando que
em um mesmo volume cabem quatro vezes mais átomos.
Segundo Renata, as técnicas que desenvolveu podem prever o
comportamento de estruturas cristalinas complexas, formadas por mais de
150 átomos. "Ao longo do manto terrestre, as estruturas cristalinas dos
minerais são diferentes, mas a composição química das camadas do
interior da Terra parece ser uniforme."
Sem direito à ficção e apegados a métodos rigorosos, como a análise
dos resultados de cálculos teóricos, de experimentos em laboratório, de
levantamentos geológicos e da velocidade das ondas sísmicas, físicos,
geofísicos, geólogos e geoquímicos estão abrindo o planeta e ampliando o
conhecimento sobre as regiões de massa rochosa compacta abaixo do limite
de 600 km, que marca uma região mais densa do manto, a chamada zona de
transição, a partir da qual se conhecia muito pouco.