Carros sem motorista, casas conectadas e
dispositivos cada vez mais inteligentes são um
futuro muito próximo, mas trazem uma dúvida: será
que um vírus poderá atacar seu carro ou sua
geladeira, assim como já acontece com seu
computador? Para o analista de malware da Kaspersky
Fábio Assolini, a resposta é sim. "Qualquer
dispositivo conectado pode ser atacado", disse ele
em encontro com a imprensa nesta sexta-feira, em São
Paulo.
"Existem toda uma tecnologia e
conectividade em um veículo moderno que permitem que
ele seja hackeado. Tecnologias de comunicação
Bluetooth, Wi-Fi ou via rádio são facilidades, mas
oferecem riscos, e os fabricantes precisam levar em
consideração esses riscos. Depende apenas da vontade
de um atacante em fazê-lo", disse Assolini. "Os
ladrões de carro hoje já usam da tecnologia para
furtar veículos", analisa.
"Esses ataques ainda não ocorrem porque esses
softwares não são homogêneos, não há um líder de
mercado, como acontece com o Windows ou o Android",
avalia Assolini. "Nós acreditamos que essas
tecnologias serão de maior interesse do criminoso
tradicional, do ladrão de carro. Acreditamos que
essas falhas poderão ser usadas dessa forma em um
futuro próximo", disse.
Pesquisadores já conseguiram simular alguns
ataques. Nos Estados Unidos, foi desenvolvido um
software capaz de hackear um veículo pela rede
wireless. Eles tiveram acesso à rede interna do
carro e conseguiram modificar um texto do painel do
veículo. Com esse poder, o atacante poderia, por
exemplo, falsificar alertas (como um problema nos
freios) ou destravar portas. Foi apenas uma
demonstração de conceito e um ataque desse tipo
nunca foi detectado, mas mostra que a indústria
precisa prestar atenção também na segurança
cibernética.
Em 2010, dois pesquisadores demonstraram em um
conferência de segurança nos Estados Unidos o
hackeamento de um veículo por SMS. O carro era
equipado com um aplicativo que permitia destravar ou
travar as portas e dar a partida remotamente. Os
cientistas descobriram uma falha nesse sistema, e
conseguiram remotamente, com uma simples mensagem de
texto, abrir a porta do carro.
Outra pesquisa feita por uma universidade
americana mostrou um ataque feito por um CD de
música. Eles gravaram um CD com músicas MP3 e
embutiram comandos que atuavam como cavalos de troia
no sistema do carro. O veículo lia esses comandos e
os executava, comprometendo o funcionamento, "Esse é
o ataque mais próximo que conhecemos sobre como um
vírus pode afetar um veículo", disse.
Com a chegada do novo protocolo de internet, o
IPV6, teremos diversos dispositivos conectados à
internet. Geladeiras, torradeiras e carros, por
exemplo. "Nesse cenário, os ataques serão mais
constantes, porque esses dispositivos estarão
conectados diretamente à internet", afirma Assolini.
E o que os usuários devem fazer para se proteger
dessas ameaças? Por enquanto, nada. "A tecnologia
traz comodidade e diversos recursos interessantes.
Esses ataques são possíveis, mas ainda não são
disseminados. Do lado do usuário não há muito o que
fazer. Estamos em um momento em que a segurança dos
veículos inteligentes é responsabilidade do
fabricante", alerta.
Cenário atual
Os ataques, segundo o analista da Kaspersky,
acontecem cada vez mais discretamente. Ele cita o
Flashback, que atacou
mais de 750 mil Macs neste ano, e de um
ataque a modems ADSL que afetou mais de 4 milhões de
aparelhos brasileiros. "Esse é objetivo dos
cibercriminosos. Atacar silenciosamente para atingir
cada vez mais gente", disse.
Assolini destaca o número crescente de arquivos
maliciosos que circulam pela rede. No ano passado, a
Kaspersky detectava 125 mil novas amostras de
malware por dia. Esse número hoje chega a 200 mil
novos arquivos suspeitos diariamente. Além disso, a
companhia afirma que 350 mil exploits - arquivos
maliciosos instalados em sites - são bloqueados
todos os dias.