Uma das causas da dificuldade em se encontrar
talentos para trabalhar com a tecnologia no Brasil
está no modelo de ensino adotado no País. Essa é a
visão da diretora de responsabilidade social da
Intel para a América Latina, Rosângela Melatto, que
participou nesta quinta-feira de uma conferência
sobre os desafios da educação, em Porto Alegre (RS).
Segundo ela, as escolas só ensinam para passar no
vestibular.
"As carreiras técnicas vão exigir, dentro das
competências do ensino fundamental e médio, muito
conhecimento de matemática, física e química,
justamente as matérias que estão cada vez mais
esquecidas pelo ensino público e até mesmo pelo
privado. Hoje se aprende apenas o suficiente para
passar de ano, para ser aprovado no vestibular, mas
não se aprende para se apaixonar. O professor não
ensina com experimentos, apenas decorando fórmulas,
e tudo isso é muito chato", disse a executiva em
entrevista ao Terra.
Rosângela defende a capacitação dos educadores
para lidar com as novas tecnologias como uma forma
de deixar as aulas mais atrativas. "Com essa
juventude do século 21 olhando para coisas que são
mais experimentais, o que acontece quando você vai
lá ensinar matemática física e química do jeito
tradicional? Ninguém se interessa. Os professores
precisam usar uma metodologia de ensino que seja
mais atraente, e isso passa pelas tecnologias",
defende.
Para a executiva, quem faz a "mágica" do
aprendizado é o professor, e não a tecnologia. Mas
para isso ela argumenta que o educador precisa saber
lidar com as novas tecnologias. "O aluno 'dá um
Google' e aparecem várias respostas. Aí entra o
professor para mostrar quais são as corretas. Esse
professor vai estar mais preparado para ensinar de
forma divertida".
Ela ainda falou sobre a dificuldade enfrentada
pela Intel para encontrar profissionais capacitados
no Brasil, principalmente entre as mulheres. "Muitas
famílias quando têm a oportunidade de educar alguém,
mandar para a universidade, escolhem o filho homem.
A mulher nesse aspecto ainda é preterida da própria
educação. Criou-se também um tabu que mulher não é
boa para a carreira da tecnologia, não é boa para a
matemática. Mulher pode ser professora, pedagoga,
mas não uma engenheira", afirma.
A executiva, formada em engenharia química, disse
que mudar esse preconceito com as mulheres requer
uma ação coletiva, que envolva as empresas, os
governos e principalmente as escolas. "Na escola
acho que o importante é não preterir as meninas de
estarem gostando de matemática, por exemplo. É muito
normal achar que menino deve gostar de matemática,
mas menina não. Esses tabus precisam acabar".
Rosângela Melatto palestrou nesta tarde para mais
de 1 mil estudantes e professores reunidos no centro
de eventos da Fiergs, em Porto Alegre, durante a
segunda edição do TEDx Unisinos, uma conferência
promovida pela Universidade do Vale do Sinos (Unisinos)
para discutir ideias para melhorar a educação.