Democratização da leitura
Os dados mais recentes da CBL dizem que o preço médio do livro no Brasil é de R$
10 – em 2011, quando foram vendidos 470 milhões de exemplares, o mercado faturou
R$ 4,8 bilhões. Sergio, então, fez as contas: um tablet bem básico pode ser
comprado por R$ 400, portanto, 40 obras já valeriam o investimento. O problema,
comentou, começa na questão da durabilidade: “O tablet, na mão do aluno, dura
seis meses. O livro impresso dura dez.”
Além disso, a banda larga brasileira não é das melhores e a penetração é muito
baixa, sem contar o fato de que a parcela da população com acesso doméstico ao
computador ainda é baixa. Mas nada disso convenceu Roberto Bahiense, diretor de
Relações Institucionais do Grupo Gol.
“Livro no Brasil é produto de elite. Há em Buenos Aires (Argentina) mais
livrarias do que no Brasil inteiro, e sabe quanto vai custar um device daqui a
alguns anos? R$ 100”, disse ele, lembrando que embora grupos como o comandado
por Sergio façam “esforços legítimos” em prol da difusão da leitura, o ideal é o
digital, que por não ter empecilhos físicos teoricamente chega a todos os
cantos. “Vivemos um divisor de águas, estamos diante de um fato novo,
inegociável.”
A briga do device
Há dois anos, antes que os gigantes olhassem para cá, a Vivo e o Grupo Gol
lançaram a Nuvem de Livros, que disponibiliza obras a clientes da operadora por
uma assinatura semanal. O modelo dispensa o uso de um Kobo ou Kindle e Roberto
garante que o brasileiro pulará uma etapa ao adquirir o tablet, ao invés do
e-reader, outra hipótese que desagrada livrarias.
Sergio, da Cultura, afirmou que aparelhos como iPad dificultam a concentração,
deixam a leitura mais lenta e comprometem a absorção do conteúdo. Por outro
lado, Roberto atacou que os e-readers servem, na realidade, para fidelizar o
consumidor e fazer com que ele compre produtos ou serviços mais caros
futuramente. A Amazon, por exemplo, poderia usar o cadastro de quem adquiriu
livros para oferecer televisores.
Com o tablet você baixa o formato que quiser e pode comprar obras interativas,
vídeos, jogos e outros tipos de aplicativos. “Para o brasileiro que lê dois
livros por ano não faz sentido ter um leitor digital”, disse Carlo, do
Publishnews. Mas um aparelho específico pode ajudar a prender o cliente por
limitar os formatos de arquivo que podem ser lidos ali, criando um cenário
parecido com o que instituiu o iTunes quando o MP3 foi popularizado.
Quando a Apple fez com que a música digital caísse no gosto das pessoas, a
indústria fonográfica levou uma chacoalhada. As primeiras a sentirem o impacto
foram as empresas maiores, o que deve ocorrer com o mercado editorial. Se o
brasileiro pular direto para o tablet, não há como força-lo a comprar de uma
loja específica.
Impresso tem futuro?
“O livro impresso ainda vai durar um tempo; alguns tipos, como os de arte,
existirão sempre - por outro lado, os digitais vão tomar cada vez mais espaço”,
opinou Carlo.
Para ele, as editoras não serão impactadas, desde que façam apenas seu serviço
original. ”O que acontece é que muitas editoras viraram distribuidoras, e como a
ruptura é na distribuição, essa editora está com problema, porque o autor agora
publica direto, sem passar por ninguém. As editoras que souberem fazer a
transição estão salvas.”
Hubert, da CBL, acredita que no futuro o mercado será reorganizado de forma que
existam grandes empresas de conteúdo – “se vai ser para impresso ou digital, não
importa”. O papel deve continuar forte, mas sem ser o principal meio de consumo;
tanto que até o governo, principal comprador de livros do país, já está migrando
para o digital (saiba
mais aqui). Segundo ele, como o brasileiro tende a se apegar rapidamente a
novas tecnologias – como aconteceu com celular ou as eleições, hoje totalmente
eletrônicas -, o e-book deve se consolidar rapidamente.
Mais leitores
Pesquisas dizem que pessoas que compraram e-readers ou passaram a consumir obras
em formato digital começaram a ler mais por causa disso. Outras afirmam que quem
não era leitor, se tornou um. Nada disso, porém, garante que essa novidade pode
fazer com que o brasileiro leia mais.
Há, de acordo com Carlo, um fator determinante: a cultura. E ela só mudaria em
corrente. “O que é mais determinante para criar um leitor é pai e mãe”,
ressaltou. “Ter pais que leem forma leitores.”
Olhar Digital