A habilidade dos pilotos para fazer os aviões voarem por controle manual está em um limite negativo crítico porque eles confiam demais nos sistemas automatizados de voo.
A conclusão estarrecedora é de um relatório sobre segurança aérea, encomendado pela Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) e que vazou para a imprensa.
Com base em relatórios de incidentes feitos voluntariamente pelos pilotos envolvidos, dados sobre acidentes e relatos de observadores nas cabines em mais de 9.000 voos, o relatório constatou que alguns pilotos mostraram-se "relutantes em intervir" com os sistemas automatizados ou desligá-los em situações de risco.
Segundo o relatório, treinamento ruim e falta de experiência de voo manual significam que alguns pilotos não têm nem o conhecimento para manter-se atualizados com as mudanças nos sistemas automatizados, nem as habilidades manuais para assumir o controle do avião quando os computadores de voo falham.
Isso pode ajudar a explicar uma série de acidentes recentes em que aviões da Colgan Air, Air France e Asiana Airlines caíram depois que os pilotos não conseguiram manter uma exigência aerodinâmica básica: a velocidade suficiente para manter o avião no ar.
Dependência tecnológica
Os sistemas automatizados de voo em questão abrangem toda a gama de auxílios computadorizados de voo, incluindo o piloto automático e o controle automático de velocidade e de aterrissagem.
Os computadores das cabines também executam verificações de segurança que garantam, por exemplo, que a asa do avião sempre ataque o fluxo de ar no ângulo adequado para produzir sustentação.
Mas o relatório da FAA descobriu que os pilotos podem ficar "viciados" na automação - e que essa dependência deve ser combatida com treinamento e reciclagem.
Uma das razões é que os problemas podem acontecer quando os pilotos acreditam que os parâmetros de voo estão sendo mantidos automaticamente quando, por alguma razão, eles não estão.
No acidente da Asiana, em São Francisco, em julho, por
exemplo, os pilotos pensaram que o acelerador automático estava
acionado, quando ele não estava. Isso fez a velocidade diminuir,
fazendo o
avião estolar e cair
Os sindicatos dos aeronautas ainda não foram ouvidos acerca das recomendações.
Afinal, desligar os sistemas automatizados de voo significa uma responsabilidade pessoal do piloto que deve se basear na avaliação que ele próprio faria, em situação de pressão, sobre um sistema desenvolvido por centenas de profissionais.
E, como o próprio relatório reconhece, os pilotos não recebem treinamento para isso.
De outro lado, pesquisadores envolvidos com a automação da aviônica ficam, é claro, do lado dos seus próprios sistemas.
"A mensagem a ser passada aos passageiros é que a automação avançada tornou os voos significativamente mais seguros, por isso não devemos jogar fora o bebê com a água do banho," disse Mary Cummings, engenheira de automação de voo do MIT, ouvida pela revista New Scientist.
"Os programas de treinamento dos pilotos podem ser melhorados, mas provavelmente a principal mudança prática que precisa ser feita é garantir que a própria automação seja altamente confiável," defendeu ela.
De forma bastante interessante, esta é a abordagem exatamente oposta à que as autoridades estão adotando para a aprovação de testes com carros que andam sem motorista.
No caso dos carros, tudo o que se exige é que um motorista humano esteja sempre pronto para assumir o controle se - ou quando - a automação falhar.
Inovação Tecnológica