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Engenho de talentos
Ao unir esforços,
grupo de inventores brasileiros
consegue ampliar o número de idéias e geringonças
que se tornam produto comercial
Cláudia Pinho
Até mesmo o professor Pardal,
o famoso cientista das histórias em quadrinhos, se surpreenderia ao conhecer o
talento brasileiro por invenções. Tem de tudo e para todos os gostos, desde
inventos de utilidade duvidosa, como óculos retrovisor e capacete com papel
higiênico para uso dos gripados, até aqueles que facilitam a vida do cidadão
e se tornam um sucesso de público, como o escorredor de arroz e o amassador
para latinhas. Boa parte do que é criado no País está no Museu das Invenções,
localizado na sede da Associação Nacional dos Inventores, em São Paulo, que
oferece assessoria aos mais de 70 candidatos a gênio que batem em sua porta
todos os meses. Mesmo que para isso tenha de dar uma porcentagem de até um terço
do seu faturamento ao assinar contrato com alguma empresa. “Muita gente não
sabia por onde começar. Tinha uma idéia e muito medo de ser ridicularizada”,
conta Carlos Mazzei, presidente da associação.
O trabalho tem dado certo.
Desde 1992, quintuplicou o número de inventores que consegue emplacar seu
produto no mercado. De cada 100 pessoas que chegam na associação com novas idéias,
40 são registradas como inventoras, e dez conseguem colocar seus produtos na
prateleira. Há 11 anos, quando a Associação dos Inventores foi fundada,
apenas duas pessoas obtinham sucesso. Pode parecer pouco, mas para um país onde
as dificuldades em se registrar uma patente ainda são uma via-crucis, é um
grande avanço. Entre as engenhocas prestes a ganhar as ruas está a
bike-canguru, uma mistura de patinete com bicicleta que alcança a velocidade de
15 km/h. Ela é um auxiliar nos exercícios físicos porque não possui pedal
nem engrenagem e funciona apenas com o impulso do corpo. “Será uma
cangurumania”, aposta o seu criador, o técnico mecânico Maurílio Ferrazoli,
41 anos. Ele fez seu primeiro protótipo há 26 anos e só agora viu seu sonho
se tornar realidade. “Finalmente assinei um pré-contrato para que uma empresa
produza em grande escala”, diz Ferrazoli, que prefere não divulgar o nome de
seu mecenas.
Cansado de carregar quilos de
equipamentos de pesca e caixa de isopor cheia de latas de cerveja e gelo para as
suas pescarias, o arquiteto paulista Fernando Salemi, 28 anos, criou o cooler
para latas, um recipiente revestido com barras de gelo em gel e capacidade para
conservar oito latas geladas por até oito horas. Basta colocar a caixa dentro
do freezer por 24 horas. O produto também está em fase de negociação para
ser vendido nas lojas. “Tudo começou como uma brincadeira”, diz Salemi.
Algumas invenções podem ainda se tornar grandes aliadas da economia nacional.
Entre eles o chuveiro que funciona com um cartão que permite programar a duração
máxima do banho. Ou a vassoura-hidro, que traz dentro de seu cabo uma mangueira
de água para varrer e esguichar água ao mesmo tempo. Outro invento inusitado
é o aquário com o formato da letra A, criado para proporcionar um espaço
maior e mais agradável aos peixes. Puro deleite visual.
O Brasil tem inventores
espalhados em todos os cantos. Em Porto Alegre, três amigos se uniram para
criar a empresa Zanona, que desenvolveu uma lixeira interativa em formato de
boneco para incentivar as crianças a jogarem o lixo no lixo. Equipada com um
sensor, a boca do boneco se abre assim que alguém se aproxima e depois uma
gravação agradece a gentileza. “Não vendemos idéias, e sim soluções”,
diz Paulo Pierobom, um dos sócios, que testa a sua invenção em um colégio na
capital gaúcha.
Ter boas idéias e acreditar
nelas pode ser um negócio promissor. O administrador de empresas Adriano
Sabino, 38 anos, é prova disso. Há dez anos, ele criou o popular espaguete, um
flutuador esférico e comprido fabricado com material parecido com o isopor, que
não acumula fungos nem afunda. O resultado é que hoje não há academia de ginástica,
clínica de reabilitação, praia ou piscina que não tenham pelo menos um
exemplar de sua engenhosidade. São 53 modelos de espaguete e mais de 2,5 milhões
de peças vendidas a um preço médio de R$ 7, um total de R$ 17,5 milhões.
“No início achavam que eu era maluco, mas somos líderes no mercado”,
comemora Sabino. Professor Pardal que se cuide.
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