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Rede vazia e mesa sem peixe
Em dez anos, o atum, o bacalhau e o salmão
podem desaparecer dos oceanos
Cristina
Amorim
No imaginário popular, corajosos pescadores partem em
seus barcos quando o Sol nasce para enfrentar a
natureza e voltar para casa com as redes fartas. Mas
essa visão romântica pode estar fadada ao fim.
Como as florestas, por muito tempo os
oceanos foram vistos como uma fonte infinita de
recursos. Desde o início da civilização, a pesca é
uma das principais fontes de alimento para o homem. E,
exatamente como ocorreu em terra, o aumento da exploração
desse recurso, em escala industrial e sem freios, tem
ameaçado os ecossistemas marinhos e a
sustentabilidade da própria produção pesqueira.
Os cientistas e os ambientalistas
cantam a bola há alguns anos. Em 2003, o alerta foi
intensificado. Dezenas de pesquisas sobre o assunto,
seguidas de livros e artigos, foram publicadas nos últimos
meses. Em todos os segmentos, um retrato quase apocalíptico
desponta: as populações de peixes estão minguando.
Espécies populares nas mesas podem desaparecer caso a
demanda não diminua e os métodos não mudem.
"Os maiores peixes, como o
bacalhau, o salmão, o atum e o peixe-espada, foram tão
consumidos que corremos o risco de comer sanduíches
de água-viva em dez anos", disse a GALILEU o
pesquisador Richard Ellis, autor do livro "The
Empty Ocean" (Oceano Vazio, ainda sem tradução
no Brasil). "Pode ser um pouco tarde para soar o
alarme, mas acho que é necessário deixar as pessoas
cientes do problema que encaramos hoje. Não o
problema que teremos em dez anos, mas o que existe
agora." Nesse ritmo, as tradicionais histórias
de pescador terão de ser repensadas.
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