A face feminina de Deus



O culto a Maria muda o perfil da espiritualidade e reforça o misticismo no novo milênio

Camila Artoni e Pablo Nogueira

A fé no Ocidente está mudando e a figura tímida de Maria de Nazaré é o símbolo desta transformação. Contrária ao confronto e dotada de um perfil sereno, a Virgem ganha espaço entre os fiéis e desafia uma hegemonia do Deus patriarcal que, há algum tempo, parecia intransponível. Nas últimas três décadas, o culto à mãe de Jesus vem experimentando um boom mundial. Novos santuários foram erigidos a ela em países sem tradição cristã, como Ruanda, Coréia e Japão. No mundo católico, sua figura se torna 'cult' e estampa até camisetas; aqui no Brasil a novidade é o filme 'Maria, Mãe do Filho de Deus', que conta em seu elenco com atores globais e com o padre popstar Marcelo Rossi. E até tradições protestantes já mostram mais interesse por ela. Sem dúvida, o fator mais desconcertante dessa onda é o crescimento do número de supostas aparições marianas. Estima-se que o número de eventos desse tipo relatados passe de mil atualmente. Será o fim do mundo? Ou um surto psicótico em larga escala? Para os cientistas que estudam os fenômenos religiosos, as aparições são uma valiosa ferramenta para compreender as novas características que estão brotando no mundo religioso no século 21. Para eles, o interesse por Maria reflete o avanço dos valores femininos na espiritualidade, a globalização da comunicação entre os fiéis e a procura por uma experiência que permita contato direto com a divindade


 

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