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Cientistas
tentam criar células inteligentes para atacar câncer
Da Universidade de Michigan
É uma ironia amarga da terapia contra o câncer: os
tratamentos fortes o bastante para matar as células do
tumor também matam as células saudáveis, causando efeitos
colaterais que reduzem a qualidade das vidas que são
salvas.
Os pesquisadores do Centro para Nanotecnologia Biológica da
Universidade de Michigan esperam prevenir tal problema
desenvolvendo dispositivos "inteligentes" de
ministração de drogas, que atingirão as células
cancerosas com doses letais, deixando as células normais
ilesas e até mesmo voltando para relatar seu sucesso.
O grupo da Universidade de Michigan está usando moléculas
feitas em laboratório chamadas dendrímeros, também
conhecidos como nanopartículas, como base de seu sistema de
entrega. Os dendrímeros são minúsculas esferas cuja
largura é dezenas de milhares de vezes menor do que a
espessura de um fio de cabelo humano, explica a estudante de
doutorado em física Almut Mecke. "Estas esferas têm
todo tipo de ponta solta onde você pode ligar coisas -por
exemplo, um agente capaz de reconhecer uma célula cancerosa
e distingui-la de uma célula saudável. Você também pode
unir a droga que mata as células cancerosas. Se você tiver
estas duas funções na mesma molécula, então você tem
uma droga inteligente que sabe quais células atacar."
Parte do projeto de Mecke se concentra em descobrir como
inserir o dendrímeros nas células cancerosas sem afetar as
células saudáveis. Um trabalho anterior mostrou que altas
concentrações de dendrímeros são tóxicas -mesmo sem sua
carga de droga contra câncer- mas ninguém sabia ao certo o
motivo ou o que poderia ser feito a respeito. Mecke usou um
microscópio de força atômica -um dispositivo tão sensível
que pode tirar fotos de moléculas individuais- para espiar
as interações entre os dendrímeros e membranas
semelhantes às que cercam as células vivas.
O microscópio de força atômica é parecido com um fonógrafo
com um detector de movimento ligado em sua agulha. "À
medida que a ponta percorre a superfície, você pode
detectar seu movimento cada vez que ela atinge uma elevação",
disse Mecke. "Se você esquadrinhar a superfície,
linha por linha, e gravar o movimento da ponta, você obtém
uma imagem tridimensional da superfície", onde cada
elevação é uma molécula individual. Tirando uma série
de fotos e as unindo em um filme, Mecke conseguiu observar
os dendrímeros em ação. O que ela viu foi que
"certos tipos de dendrímeros destróem as membranas
literalmente perfurando buracos nelas".
Não era exatamente isto os que os pesquisadores desejavam,
então eles tentaram manipular os dendrímeros para ver se
conseguiam impedir os dandos. "Os dendrímeros
geralmente possuem uma carga, assim como as membranas
celulares", disse Mecke. "É a interação entre
estas cargas que faz os dendrímeros se ligarem às
membranas celulares e as danificarem. O que nosso grupo
descobriu é que se você modificar quimicamente a superfície
dos dendrímeros, eles passam a não ter carga" e não
mais atacam as membranas.
Outra pesquisa no centro mostrou que os dendrímeros
carregados apresentam probabilidade igual de penetrar nas células
saudáveis tanto quanto as cancerosas -um hábito que os
torna indesejáveis para uma terapia contra câncer- mas que
os dendrímeros não-carregados não invadem célula nenhuma
a menos que tenham agentes detectores de câncer ligados a
eles. "Nós podemos mostrar que, com uma molécula guia
unida, um dendrímero não-carregado pode entrar nas células
cancerosas -e apenas nas células cancerosas- que é o que
desejamos", disse Mecke.
Os primeiros resultados dos estudos com ratos mostram que os
drogas em nanopartículas tratam eficientemente o câncer
com menos efeitos colaterais do que as drogas de
quimioterapia convencionais, como os pesquisadores
esperavam. "É bom ver como tudo se encaixa -meu
trabalho com o modelo de membrana, o trabalho de meu colega
com cultura celular e o trabalho de outras pessoas com os
estudos em animais", disse Mecke. A seguir, os
pesquisadores esperam adicionar mais funções aos
dispositivos de drogas por dendrímeros, como biosensores
capazes de informar a morte da célula cancerosa, indicando
quão bem-sucedido está sendo.
Tradução:
George El Khouri Andolfato
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