Roupas do futuro poderão conduzir eletricidade

Do Nist


Nanotubos de carbono fortes e versáteis estão encontrando novas aplicações ao melhorar fibras e películas convencionais baseadas em polímeros. Por exemplo, fibras compostas feitas de nanotubos de carbono de parede única e poliacrilonitrilo -um precursor de fibra de carbono- são mais fortes, rígidas e encolhem menos do que as fibras comuns.

Compostos reforçados por nanotubos poderão eventualmente fornecer a fundação para uma nova classe de fibras fortes e leves, com propriedades como condutividade elétrica e térmica, não disponíveis nas atuais fibras têxteis.

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Georgia Tech), da Universidade Rice, da Carbon Nanotechnologies e da Força Aérea dos Estados Unidos têm desenvolvido novos processos para incorporar nanotubos em fibras e películas. Os resultados desse trabalho foram no 227º encontro nacional da Sociedade Química Americana, em Anaheim, Califórnia.

"Nós teremos desenvolvimentos dramáticos no campo dos materiais têxteis ao longo dos próximos 10 ou 20 anos devido à nanotecnologia, especificamente aos nanotubos de carbono", previu Satish Kumar, professor da Escola de Engenharia de Polímeros, Têxteis e Fibras da Georgia Tech. "Usando nanotubos de carbono, nós poderemos fazer fibras têxteis com condutividade térmica e elétrica, mas com o toque e sensação de um têxtil comum. Você poderá ter uma camisa na qual fibras condutoras de eletricidade permitirão que a função de telefone celular seja inserida nela sem o uso de fiação metálica ou fibras ópticas."

Graças ao trabalho de Kumar e de pesquisadores no Laboratório de Pesquisa da Força Aérea, os nanotubos já encontraram espaço em fibras conhecidas como Zylon, a mais forte fibra de polímero do mundo. Ao incorporar 10% de nanotubos, a pesquisa mostrou que a força desta fibra pode ser aumentada em 50%.

Recentemente, a equipe de pesquisa de Kumar tem colaborado com Richard Smalley, um professor da Universidade Rice que recebeu o Prêmio Nobel em 1996 pelo seu trabalho no desenvolvimento de nanotubos, que são de grande interesse devido à sua alta força, peso leve, condutividade elétrica e resistência térmica.

Os pesquisadores desenvolveram uma técnica para produção de fibras compostas contendo percentuais variados de nanotubos de carbono, até um máximo de cerca de 10%. Produzidos pela Universidade Rice e pela Carbon Nanotechnologies, os nanotubos de parede única existem em aglomerados de 30 nanômetros de diâmetro contendo mais de 100 tubos.

Para produzir fibras compostas, os feixes são primeiro separados em um solvente orgânico, ácido ou água contendo surfactantes. Os materiais polímeros são então dissolvidos com os nanotubos dispersos, e as fibras produzidas utilizando equipamento e técnicas de manufatura padrão para têxteis. As fibras compostas resultantes apresentam toque e sensação semelhante às fibras têxteis padrão.

A adição de nanotubos de carbono às fibras tradicionais pode dobrar sua rigidez, reduzir o encolhimento em 50%, aumentar a temperatura na qual o material amacia em 40º C e melhorar a resistência a solventes. Kumar acredita que estas propriedades tornarão as fibras compostas valiosas para o setor aeroespacial, onde um aumento da força poderia reduzir a quantidade de fibras necessárias para estruturas compostas, reduzindo o peso.

"Se você puder aumentar a rigidez do módulo em um fator de dois, em muitas aplicações você poderá reduzir o peso em um fator de dois", notou Kumar.

Mas o maior impacto dos nanotubos de carbono só ocorrerá se os pesquisadores conseguirem aprender como separar os aglomerados para produzir nanotubos individuais, um processo chamado esfoliação. Se isto puder ser feito, a quantidade de tubos necessária para melhorar as propriedades das fibras poderia ser reduzida de 10% para menos de 0,1% do peso. Isto poderia ajudar a tornar o uso dos tubos -que atualmente custam centenas de dólares por grama- viável para produtos comerciais.

A inclusão de nanotubos individuais em fibras compostas poderá ajudar a melhorar a orientação das cadeias de polímero que elas contêm, reduzindo a quantidade de emaranhamento de fibras e uma maior taxa de cristalização. Isto poderia introduzir novas propriedades atualmente não disponíveis nas fibras.

"Se pudermos fazer isto, poderemos mudar conceitualmente como as fibras são feitas", disse Kumar. "Ter um material resistente a temperaturas muito severas com uma densidade menor que a da água parece um sonho hoje, mas poderemos ser capazes de ver isto com esta nova geração de materiais."

Além de separar os aglomerados de nanotubos, os pesquisadores também enfrentam o desafio de dispersar uniformemente os nanotubos de carbono nos polímeros e orientá-los apropriadamente.

Além das estruturas de aeronaves, Kumar vê as fibras compostas de nanotubos adicionando capacidades eletrônicas a tecidos, talvez permitindo que celulares e computadores sejam tecidos utilizando fibras com toque e sensação de têxteis convencionais. Mas a produção de fibras condutoras exigirá a ampliação do percentual de nanotubos para até 20%.

Para avançar estes conceitos, Kumar espera formar um "Consórcio de Materiais Dotados de Nanotubos de Carbono" na Georgia Tech, para conduzir tanto a pesquisa básica quanto a aplicada em áreas de interesse da indústria.

Ele espera que a fibras compostas baseadas em nanotubos de carbono promoverão as mudanças mais significativas na indústria têxtil desde que as fibras sintéticas foram introduzidas nos anos 30.

"Em 1900, o nylon, poliéster, polipropileno, Kevlar e outras fibras modernas não existiam, mas a vida atual parece depender delas", disse ele. "A taxa em que a tecnologia está mudando está crescendo, logo, mudanças mais dramáticas podem ser esperadas para os próximos 100 anos. Cada grande empresa de fibras de polímeros do mundo agora está prestando atenção no impacto potencial dos nanotubos de carbono."

O trabalho aparecerá nas revistas "Advanced Materials", "Chemistry of Materials", "Macromolecules", "Nano Letters" e "Polymer". O trabalho em nanocompostos tem sido financiado pela Fundação Nacional de Ciência, Escritório de Pesquisa Científica da Força Aérea, Laboratório de Pesquisa da Força Aérea, Escritório de Pesquisa Naval, Carbon Nanotechnologies e pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (Nist).

Tradução: George El Khouri Andolfato

 

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