A melhor senha
é uma combinação longa e sem sentido de letras, números e sinais de
pontuação jamais antes combinados. Há pessoas admiráveis que conseguem
mesmo memorizar seqüências aleatórias de caracteres para suas
senhas - e substituí-las por outras senhas igualmente complicadas,
selecionadas de forma aleatória a cada dois meses.
E há também o resto de nós, aqueles que selecionam senhas curtas,
conhecidas e fáceis de lembrar. E as mantêm para sempre.
No passado eu me sentia envergonhado por não respeitar as normas de
seleção de senhas - mas isso passou. Os especialistas em segurança da
computação dizem que escolher senhas difíceis de adivinhar na verdade
propicia pouca segurança. As senhas não nos protegem contra
roubo de identidade, não importa o quanto sejamos espertos ao
selecioná-las.
Esse seria o caso mesmo que respeitássemos mais as instruções.
Pesquisas demonstram que temos muito apego a velhos favoritos como
"123456", "senha" e "queroentrar". O problema subjacente, porém, não
está em sua simplicidade, mas no procedimento mesmo de acesso, sob o
qual vamos parar em uma página de web que pode ou não ser aquilo que
diz, e digitamos uma série de caracteres para autenticar nossa
identidade (ou usamos nossos
software de administração de senhas para fazê-lo em nosso lugar).
Esse procedimento, que agora nos parece perfeitamente natural porque
fomos treinados a fazê-lo por meio de incessante repetição, é uma má
idéia, que nenhum especialista em segurança que eu tenha consultado se
dispôs a defender.
O acesso por senha é suscetível a ataques de diversas maneiras.
Considerem uma única delas, a dos praticantes do
phishing, que iludem usuários e nos levam a visitar sites que
imitam sites legítimos a fim de recolher nossas informações de conexão.
Assim que somos atraídos a um desses sites e nossa senha é recolhida,
ela pode ser tentada em outros sites.
A solução recomendada pelos especialistas é o abandono das senhas - e
a adoção de um modelo fundamentalmente diferente, no qual os seres
humanos teriam pouco ou nenhum papel a desempenhar. Em lugar disso,
máquinas estabeleceriam uma conversação cifrada que determinaria a
autenticidade de ambas as partes, usando chaves digitais que nós, como
usuários, nem precisaríamos ver.
Em resumo, o sistema de acesso passaria a depender de
criptografia e não de nossa memória.
Como usuários, substituiríamos senhas pelos chamados cartões de
informação, ícones em nossas telas que selecionaríamos com um clique
para acesso a um site. O clique daria início a um contato entre
máquinas. O software necessário a criar esses cartões de informação
existe em apenas 20% dos computadores pessoais, ainda que isso
represente grande alta ante os 10% de um ano atrás. As máquinas que
operam com o Windows Vista dispõem desse tipo de recurso
automaticamente, mas as máquinas que operam com Windows XP Mac OS e
Linux precisam de downloads.
E isso é apenas metade da complicação. Os sites anfitriões também
precisam ser convencidos a aceitar a tecnologia dos cartões de
informação, para acesso.
Não conseguiremos grande progresso quanto a isso no futuro próximo,
porém, devido ao desperdício de energia e atenção causado por uma grande
distração, a iniciativa OpenID. A idéia é "acesso unificado", ou seja,
basta se logar em um site, com uma senha, e isso possibilitará acesso a
todos os sites que aceitem o sistema Open ID.
O sistema oferece na melhor das hipóteses uma modesta conveniência, e
ignora a vulnerabilidade inerente a digitar uma senha em site alheio.
Mesmo assim, a intervalos de alguns meses surgem novas empresas grandes
aderindo ao OpenID. Representantes do Google, IBM, Microsoft e Yahoo
anunciaram que apoiariam esse padrão. No mês passado, quando o MySpace
anunciou sua adesão, a OpenID.net, a fundação sem fins lucrativos que
administra o sistema, se vangloriou porque o "número de usuários que
poderão usar o OpenID" havia ultrapassado os 500 milhões e que era
"evidente que estamos apenas começando a ganhar terreno".
Mas o apoio à iniciativa é conspicuamente limitado. Cada uma das
grandes potências que teoricamente apóia o OpenID está disposta a criar
um nome de acesso e senha OpenID para acesso ao seu site por seus
usuários, mas não a aceitar nomes e senhas conferidos por outros
integrantes do sistema. Não se pode usar uma OpenID da Microsoft no
Yahoo, e nem vice-versa.
Por que não? Porque as empresas percebem as muitas formas pelas quais
o processo de acesso por senha, gerido por outra empresa, poderia ser
comprometido. Elas não desejam assumir a responsabilidade por enfrentar
as conseqüências de traquinagens originadas de sites alheios.
A Microsoft e o Google também estão entre as seis empresas fundadoras
da Information Card Foundation, criada para promover a adoção dos
cartões de informação.
O único inconveniente dos cartões de informação é que, em ambientes
de trabalho, por exemplo, um computador deixado ligado poderia ser usado
para acesso por pessoas não autorizadas, que conseguiriam se conectar a
qualquer site usando cartões. Mas isso pode ser contornado pelo uso de
uma senha simples para acesso ao cartão. Essa senha não causa problemas
porque fica sempre na máquina. Não há acesso a ela por sistemas
externos.
Desaprender o hábito de digitar senhas em uma página da web talvez
demore demais, mas precisamos disso para nossa proteção. O acesso a
sites deveria ser mediado por contato criptografado entre máquinas, o
que impediria que sem querer nós revelássemos senhas ou códigos.
Ninguém mais precisaria confiar naquela venha companheira, a senha "queroentrar".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times