Dooce, o
blog de Heather Armstrong cheio de humor malicioso sobre a
maternidade, é mais do que uma mera válvula de escape para a
criatividade e as frustrações de uma mãe moderna. O site, repleto de
anúncios, é uma máquina de fazer dinheiro - tanto que Armstrong e seu
marido largaram seus empregos.
Posts com as conversas de Armstrong e sua filha de quatro anos, Leta,
são recheados com anúncios das lojas de mobília J.C. Penney e Crate &
Barrel, que também dão dicas de decoração. A Walgreens oferece seus
serviços de impressão de fotos ao lado das fotografias do cão da
família. E a rede W Hotels, de Starwood, anuncia seus quartos com
acesso à Internet na página principal.
Esses anunciantes procuram influenciar os 850 mil leitores, a maioria
mulheres, que seguem avidamente as aventuras de Armstrong. Apesar de
Armstrong não divulgar os números exatos, a receita do Dooce neste ano
deverá ser sete vezes o valor de 2006, de acordo com a Federated Media,
que vende anúncios para o blog.
Os
sites que têm como público-alvo mulheres, dos "blogs de mamães" aos
de maquiagem e moda, cresceram 35% no ano passado - mais rápido do que
qualquer outra categoria na Internet, exceto política, segundo a
comScore, companhia que mede o tráfego na Internet. Sites femininos
tiveram 84 milhões de visitas em julho, 27% a mais do que no mesmo mês
do ano passado, segundo a companhia.
Os anunciantes estão acompanhando a tendência e ocuparam 4,4 bilhões
de espaços publicitários nos sites femininos em maio. Isso é mais do que
o registrado para sites orientados para crianças, adolescentes e
famílias. "São as mães que decidem o que comprar na casa," disse Chris
Actis, vice-presidente e diretor digital da agência de publicidade
MediaVest.
O rápido crescimento da publicidade e das visitas a sites femininos
atraiu a atenção das maiores companhias de mídia e do capital
financeiro.
Na semana passada, por exemplo, a gigante Comcast de TV a cabo pagou
cerca de US$125 milhões pelo site de compras e entretenimento
DailyCandy, que se auto-intitula "um
e-mail gratuito diário na linha de frente da moda, alimentação e
diversão."
Em julho, a Peacock Equity, uma parceria entre a NBC Universal, a
General Eletric e a Venrock, uma empresa de capital de risco, investiu
US$5 milhões na BlogHer, uma rede de 2,2 mil blogs de e para mulheres.
Em março, o Yahoo criou o Shine, um site que publica material
original, mensagens de leitores e artigos de editoras de revistas
femininas tradicionais, como Hearst e Conde Nast.
Uma das principais firmas de capital de risco do Vale do Silício, a
Draper Fisher Jurvetson, vê tantas oportunidades que fez várias apostas
no setor, como a Glam Media, uma rede de 650 sites femininos que recebe
mais visitantes que a concorrência e já levantou US$114 milhões de
investidores.
"Eu amo as mulheres. Mulheres são mais da metade da população e fazem
a maioria das compras," disse Tim Draper, co-fundador e administrador da
firma. "Estamos constantemente à procura de mais sites orientados para
mulheres." Além da rede Glam, a Draper Fisher Jurvetson investiu em
sites como CafeMom, MyShape e NearbyNow.
Apesar dos homens serem aficionados pela
web, não costumam visitar sites explicitamente orientados para eles.
O canal feminino Living, da AOL, teve 16,1 milhões de visitantes únicos
em junho, enquanto sua bem-sucedida contraparte masculina, o Asylum,
teve apenas 3,3 milhões. A comScore nem ao menos utiliza a categoria
"sites masculinos" em suas medições de tráfego.
Joni Evans, uma agente literária que encontrou uma segunda carreira
como chefe executiva do wowOwow, site para mulheres acima de 40, disse
que a disparidade de gênero vem do fato das mulheres se alimentarem de
trocar anedotas. "Mulheres adoram se encontrar e conversar," ela disse,
acrescentando que a web é perfeita para isso.
Anunciantes apostam que a confiança e a intimidade surgidas de
conversas sobre sexo após a maternidade e da leitura de blogs sobre a
batalha contra a depressão pós-parto vão se traduzir em vendas através
das discussões sobre os produtos no site ou dos anúncios entre histórias
pessoais.
A colaboração na criação de conteúdos patrocinados entre empresas e
sites femininos é de tamanha proximidade que chocaria muitos editores de
publicações tradicionais. No CafeMom, por exemplo, as lojas Wal-Mart
oferecem aos blogueiros vale-brindes de produtos em troca de comentários
a respeito do que compraram.
Em outra campanha do Wal-Mart, a rede de sites Glam, que oferece aos
anunciantes uma "criação customizada de conteúdo", inventou o jogo "Qual
o Seu Estilo de Bife?", que ajuda o internauta a determinar se a
"personalidade de seu paladar" é casual, saudável, indulgente ou
gourmet. Em cada página do jogo, há um anúncio para a nova linha de
postas de carne do Wal-Mart. A Glam também recorreu a chamadas como
"Churrasco dentro do Orçamento", que pareciam artigos, mas encaminhavam
os leitores aos anúncios das carnes do Wal-Mart.
Outros anunciantes têm abordagens menos diretas. Quando a varejista
J.C. Penney quis divulgar às mães a coleção de cama e móveis de Chris
Madden, a Federated Media montou um site chamado "Guia de Compras de
Outono", patrocinado pela varejista, que colocava os anúncios das
novidades próximos a conteúdos sobre decoração tirados de 10 blogs
pertencentes à rede anunciante da Federated.
Ree Drummond, autora do popular blog Confissões de uma Mulher
Pioneira, estava reformando seu banheiro naquele mês e teve os posts de
seu projeto publicados no novo site. Embora ela não mencionasse a J.C.
Penney, alguns comentários na página faziam a ligação entre os anúncios
e o blog - o sonho de qualquer publicitário. "Te amo mulher pioneira!",
escreveu um leitor. "Também adoro a JCPenney."
A J.C. Penney gostou tanto dos resultados que já começou uma nova
campanha com a Federated para sua linha Linden Street. Armstrong, da
Dooce, Drummond, da Mulher Pioneira, e outras estão escrevendo sobre
decoração para o site.
A idéia de construir um negócio na web em torno dos interesses
femininos não é, certamente, nova. Há uma década, iVillage, Women.com e
muitos outros sites apostaram no mercado para mulheres como seu bilhete
para a riqueza. No entanto, os sites lutaram muito para conseguir
audiência e anunciantes.
Uma razão para isso é que as marcas orientadas para o público
masculino, como carros e empresas de tecnologia, foram as primeiras a se
sentir confortáveis com a publicidade online, disse Chas Edwards,
executivo-chefe de receita e editor da Federated Media. As marcas
voltadas às mulheres agora recuperam o tempo perdido.
Para o desapontamento de mulheres que querem sites focados em
assuntos como política, os anunciantes não estão interessados em todo
tipo de conteúdo feminino. Eles orbitam em torno dos tópicos já
consagrados das revistas femininas: moda, beleza, celebridade e vida
amorosa.
Assim como as leitoras. "De tempos em tempos, mulheres ficam felizes
ao ver sua relação com comida, roupas e parceiros transformados em
entretenimento e guias práticos," disse Lauren Zalaznick, presidente das
redes feminina e de estilo de vida da NBC Universal, que inclui a
iVillage.
Tradução: Amy Traduções