Don Tapscott
A indústria fonográfica, que nos revelou Elvis e os Beatles, hoje é odiada por muitos consumidores, e decidiu processar crianças. O colapso do setor é rico em lições sobre como construir empresas de sucesso numa economia colaborativa, que envolve a participação do consumidor. Usada de forma conveniente, a internet pode aprofundar os laços entre os artistas e seus fãs. Mas, como a indústria da música se aferrou belicosamente ao velho modelo analógico de negócios, tornou-se o maior exemplo de oportunidade digital perdida.
A porcentagem de americanos classificados como “compradores ativos de música” (aqueles que adquirem mais de quatro CDs por ano) despencou para menos de 20% nos últimos três anos. Apesar dos esforços de Steve Jobs, as vendas de música online, inicialmente combatidas pelas gravadoras, cobrem apenas minúscula porção do faturamento perdido. A federação internacional da indústria fonográfica, IFPI, estima que 95% dos downloads de música feitos no mundo inteiro são ilegais.
Mas a solução para restaurar a saúde econômica da indústria não é vender música a 1 dólar por canção. Em vez de manter os antigos métodos de distribuição, o negócio precisa adotar um modelo m do século 21, usando tecnologia inovadora. Para mim, só há uma solução: tratar a música como serviço, e não como produto. Em vez de comprar canções, os ouvintes pagariam uma pequena taxa — digamos, 4 dólares (7 reais) por mês — para ter acesso a todas as canções do mundo. As gravações seriam enviadas a eles por streaming via internet, para qualquer dispositivo, como laptop, celular, carro ou som doméstico.
O serviço poderia chamar-se Everywhere Internet Audio (EIA), ou áudio em qualquer lugar, via internet. Cada consumidor teria seu próprio canal e poderia usar essa imensa base de dados musical no todo ou em parte, organizando-a por artista, gênero, ano etc. O serviço EIA saberia de que cada usuário gosta, baseado em suas escolhas anteriores. Ao escutar as músicas, você poderia classificá-las (polegar para cima ou para baixo), o que depois ajudaria a refinar sua lista de execução. Você também poderia pedir ao serviço para sugerir outros artistas similares aos seus favoritos ou mesmo criar automaticamente uma lista chamada “As mais ouvidas de Eric Clapton”.
O EIA eliminaria o download ilegal sem pôr nenhum adolescente na cadeia, porque o problema da proteção de copyright desapareceria. Ninguém mais iria “furtar” música. Por que você tomaria posse de uma canção que está à sua disposição em qualquer dispositivo e a qualquer hora?
Variações do EIA já existem. Serviços como Last.fm, We7, Rhapsody, Spotify e Pandora enviam fluxos de música aos seus assinantes, assim como canções sob demanda. Mas essas empresas não oferecem toda a gama de serviços personalizados possível. No ano passado, a Apple comprou o provedor de música digital Lala, e é provável que passe a oferecer muitas das opções que sugerimos aqui. Um serviço do tipo EIA completo pode tornar-se realidade antes do fim deste ano.