Outro jovem - dá para identificar pela voz e as risadas - deixa que um amigo brinque de "pôquer de marujo" tentando acertar a ponta da faca entre os dedos abertos de sua mão em cima de uma mesa. O amigo erra logo na terceira tentativa, ele é esfaqueado de leve no dedo indicador. Dá um grito. O amigo ri e pede desculpas.
Cenas como estas são fáceis de encontrar em serviços de vídeo na internet. YouTube, Vimeo e muitos outros se tornaram o principal meio de divulgação para jovens que tentam criar - ou imitar - vídeos que se tornaram sensação na web. Uma grande inspiração, nota o jornal The New York Times, é Jackass, programa de TV que virou filme com uma equipe de ex-dublês realizando cenas que quase sempre terminavam de maneira dolorosa.
O galã Johnny Knoxville, o irascível Bam Margera e o insano e tatuado Steve-O saíram dos truques perigosos no Jackass para a fama quase dez anos atrás. Faziam coisas como descer um morro de velocípede em alta velocidade e acabar em um poço de esgoto. Quase sempre se machucavam. Algumas vezes se machucavam de verdade.
Antes do YouTube, Knoxville, Margera e Steve-O tinham fãs. Depois do YouTube, passaram a ter também imitadores - com a diferença de que não são dublês e se machucam mais seriamente. Outros vídeos apenas mostram adolescentes que são simplesmente estúpidos. Um deles tenta brincar com fogos de artifício acesos colocando-os diante do corpo. Os fogos explodem. Não há informação no vídeo sobre queimaduras, mas é provável.
Vídeos bastante populares envolvem "a bola de basquete flamejante". Versões de uma bola sendo incendiada ou lançada numa catapulta chegam a mais de cem no YouTube. Já um homem saltando sobre um carro em movimento e depois sendo atropelado por outtro, que vem na direção contrária - cena que parece ensaiada -, contabiliza 17.430 exibições no site. O sucesso é o estímulo para que mais pessoas tentem reproduzi-lo, provavelmente com um desfecho infeliz.
Uma reportagem da rede de TV americana CBS esta semana mostrou que a moda preocupa médicos dos Estados Unidos. Entre imagens de jovens jogando álcool nos próprios olhos ou brincando de cuspir fogo pela boca, Hani Mnasour, do Saint Barnabas Medical Center, diz que é comum atender crianças e adolescentes feridos no rosto e nas mãos, algumas vezes com severidade. Fraturas não são raras.
Não há muitos vídeos de jovens brasileiros fazendo o mesmo. A popularidade de Jackass nos Estados Unidos, mas não no Brasil, seria uma explicação. Mas não são brincadeiras só de americanos. De acordo com o The New York Times, em abril pesquisadores canadenses denunciaram o número crescente de vídeos online que documentam asfixia recreativa, um passatempo conhecido como "jogo do engasgo". Os participantes costumam se enforcar em busca de euforia causada pela ausência de oxigênio. Tentar sufocar a si mesmo, todavia, pode causar a morte.
Redação Terra