Na internet, e nas redes particulares que vemos hoje nas empresas ou mesmo
nas residências, o protocolo de comunicação usado pelos computadores chama-se IP
- sigla para Internet Protocol. Criado no fim dos anos 70, o protocolo IP tem
como "missão" não só fazer dois computadores "conversarem", mas também
possibilitar a interligação de duas ou mais redes separadas. Com raríssimas
exceções, praticamente todas as redes do mundo acabaram, de uma forma ou de
outra, sendo conectadas entre si e foi essa comunhão de redes que acabou
formando o que conhecemos hoje por internet (nome que, em português, pode ser
traduzido por "inter-redes" ou "redes interligadas").
O protocolo IP possui um esquema de endereçamento parecido com os números de
telefone. Assim como qualquer telefone, no mundo todo, é único (considerando o
DDD e o código de país), cada computador ligado na internet possui um número
único, que é chamado de endereço IP ou número IP. Esse número serve para
identificar o computador na internet. Se você precisar conversar com alguém pela
internet, basta mandar mensagens endereçadas ao endereço IP do computador da
pessoa.
Para que um email da Alice saia de seu computador e chegue ao computador do
Beto, por exemplo, é preciso que os dados (no caso, o texto do email) sejam
divididos em pacotinhos pequenos (chamados de pacotes IP) que possuem marcados
dentro de si o endereço IP de origem (ou seja, o número único do computador da
Alice) e o IP de destino (o número único do computador do Beto). A internet "se
vira" para encontrar o caminho entre Alice e Beto, sem que nenhum dos dois
precise se preocupar com isso.
No entanto, o protocolo IP em sua versão atual (a versão quatro, rotulada
como IPv4) já é bastante antiga e tem muitos problemas. Os mais graves são
falhas de segurança, que periodicamente são descobertas e não têm solução. A
maioria dos ataques contra computadores hoje na internet só é possível devido a
falhas no protocolo IP. A nova geração do protocolo IP, o IPv6, resolve grande
parte dos problemas de segurança da internet hoje, herdados justamente do
projeto antiquado do IPv4.
Mas o IPv4 tem um problema ainda mais premente do que sua inerente
insegurança: já esgotou sua capacidade de expansão. Cada computador ligado à
internet - seja um computador pessoal, uma estação de trabalho ou um servidor
que hospeda um site - precisa de um endereço único que o identifique na rede. O
IPv4 define, entre outras coisas importantes para a comunicação entre
computadores, que o número IP tem uma extensão de 32 bits. Com 32 bits, o IPv4
tem disponíveis em teoria cerca de quatro bilhões de endereços IP mas, na
prática, o que está realmente disponível é menos da metade disso. Se contarmos
que o planeta tem seis bilhões de habitantes e que cada dispositivo ligado na
internet (o que inclui smartphones, PCs, notebooks e afins) precisa de um número
só dele, é fácil perceber que a conta não fecha. Esse número, sendo finito, um
dia acaba.
Em cima disso, os endereços IP são "travados" geograficamente. Dois endereços
próximos estão necessariamente na mesma cidade ou região. Se considerarmos que
cerca de três quartos dos endereços IP disponíveis para a internet estão
localizados nos Estados Unidos (mesmo que nunca usados), sobram apenas pouco
mais de um bilhão de endereços para o resto do mundo - aumentando ainda mais o
problema de escassez.
A entrada de celulares e outros dispositivos móveis (que são baratos e
extremamente populares) na internet contribuiu para que o número de endereços IP
disponíveis seja ainda mais escasso. De fato, algumas previsões dão conta de que
os endereços IP vão acabar por completo em 2012.
O advento do IPv6, sexta versão do protocolo IP, resolveria todos esses
problemas. Primeiro, porque dá fim a praticamente todos os buracos de segurança
conhecidos do IPv4, tornando as comunicações muitíssimo mais seguras. O IPv6
provavelmente será uma dor de cabeça sem tamanho para os hackers criminosos.
Em segundo lugar, o IPv6 define 128 bits para endereçamento, e portanto conta
com cerca de 3,4 × 10^38 endereços disponíveis (ou 340 seguido de 36 zeros).
Para quem não quiser fazer a conta, basta saber que são muitos bilhões de
quatrilhões de endereços disponíveis, garantindo que não vai faltar números IP
para os humanos por milênios.
Pelo "draft" inicial de um documento proposto pelo IETF - Internet
Engineering Task Force, órgão responsável pelo desenvolvimento tecnológico da
internet, a migração de IPv4 para IPv6 deveria ter começado em algum momento
entre 2009 e 2010, com migração total até o fim de 2011. O cronograma está
atrasado. Google, Yahoo! e Facebook devem adotar o IPv6 em junho deste ano.
Na Campus Party Brasil 2011, quarta edição brasileira do evento de inovação,
criatividade e cultura digital, realizada em São Paulo de 17 a 23 deste mês, a
Telefônica ofereceu aos campuseiros a oportunidade de se conectar à internet com
IPv6. A companhia vem testando a tecnologia há dois anos e espera poder
oferecê-la aos seus clientes ainda em 2011.
Geek