O Brasil deve se tornar pioneiro em
regulação da internet em nível mundial. O
conjunto de regras para uso da web, chamado
de Marco Civil, que vem sendo discutido
desde 2009 já foi citado inclusive no âmbito
da Organização das Nações Unidas (ONU) como
"uma iniciativa pioneira e muito avançada",
afirmou o deputado federal Alessandro Molon
(PT-RJ). Ele é o relator da comissão
especial da Câmara que analisa o Marco Civil
e participou, na tarde desta quinta-feira de
audiência pública sobre o tema em Porto
Alegre.
O Marco Civil, que estabelece
direitos e deveres dos usuários e dos
provedores de internet, além dos princípios
para o uso da rede de computadores no Brasil
e determina as diretrizes para atuação da
União, Estados e municípios em relação ao
tema, deve ser votado até junho, para
posteriormente ser enviado ao Plenário da
Câmara de Deputados, projeta Molon.
"Nós já estamos sendo citados em outros
países, até mesmo na ONU, em debates sobre
legislação na internet, como uma iniciativa
pioneira e muito avançada do que deve ser a
legislação mundial sobre a internet, que
proteja o usuário, que garanta a privacidade
e prime pela segurança", disse o relator da
comissão. A deputada federal Manuela D'
Ávila (PCdoB-RS) reafirma o pioneirismo da
proposta e acrescenta que também está em
discussão uma nova legislação penal para
crimes cometidos em ambiente virtual,
diferente do polêmico projeto de lei 84/99,
conhecido como AI-5 Digital, que prevê o
armazenamento de informações de usuários
pelos provedores, sem especificar de que
forma isso seria feito e por um prazo de
três anos, o que levantou a discussão sobre
a privacidade dos usuários.
"Já existe um avanço na construção de
outra legislação penal, que não é a 84/99. É
a tipificação penal elaborada pelo deputado
Paulo Teixeira (PT-SP), pelo Brizola Neto
(PDT-RJ) e por mim, então nós temos uma
outra proposta alternativa e já há um
consenso em ser votado em plenário", disse a
deputada.
Segundo Molon, a proposta deve assegurar
a liberdade e privacidade do internauta.
"Nossa preocupação é que na aprovação do
Marco Civil fique garantida a liberdade de
expressão e a liberdade e de acesso a
informação dos cidadãos brasileiros. Então,
nós temos a preocupação de evitar qualquer
mecanismo de censura, garantindo que, apenas
em caso de uma decisão judicial, algum
conteúdo possa ser retirado do ar, para que
o poder judiciário possa dar a última
palavra e não qualquer mecanismo de censura
prévia", afirmou.
Enquanto o projeto de Marco Civil da
Internet está em discussão, o Ministério das
Comunicações (MC) também trabalha em um
marco para as comunicações. Segundo a
Secretária de Inclusão Digital do MC, Lygia
Pupatto, o foco principal deve se voltar
para a concessão de radiodifusão, cuja
legislação data da década de 60, sem
impactos sobre a liberdade na internet. "O
foco é na legislação e regulação,
particularmente, da radiodifusão que é muito
antiga".
Para ela, o Marco Civil da internet
ajudará a balizar as ações governamentais de
inclusão digital. "(o marco) define muitas
coisa importante, a internet sendo usada
como suporte de transparência de todos os
níveis de governo, de promoção da inclusão
digital, da acessibilidade, de fazer uma
grande discussão sobre os aplicativos, que
você tenha uma política nacional", disse.
A proposta de regulação da internet foi
enviada pelo Executivo à Câmara há cerca de
um ano e passou por um processo de consulta
pública no qual milhares de pessoas
apresentaram sugestões. O relator do projeto
diz que essas propostas são levadas em
consideração na elaboração do marco, assim
como as observações sobre os logs (registros
de usuários na internet) e privacidade dos
internautas, tema do seminário realizado
hoje em Porto Alegre.
"Fizemos questão de colocar disponível
para toda a população o texto desse projeto
de lei e receber contribuições de se toda a
população brasileira que tenha acesso a
internet (...) essas sugestões estão sendo
levadas em consideração para o nosso
relatório final", garantiu Molon.