Química finaCientistas da Universidade de Boston,
nos Estados Unidos, fizeram uma combinação inusitada.
Usando a nanotecnologia, eles construíram um dispositivo que
usa a energia solar para produzir medicamentos.
O processo é uma espécie de
fotossíntese artificial, que várias equipes estão tentando
desenvolver para produzir
hidrogênio ou eletricidade.
Mas Dunwei Wang e Kian Tan fizeram algo diferente.
Eles usaram a energia captada da luz do Sol para induzir
reações químicas capazes de sintetizar os componentes básicos de
dois medicamentos de largo uso, um analgésico e um
anti-inflamatório.
Seletividade
Segundo os pesquisadores, a técnica possui a seletividade
necessária para produzir compostos orgânicos intermediários
necessários para produzir não apenas produtos farmacêuticos, mas
também outras substâncias da química fina, de alto valor
agregado.
"Há um benefício gigantesco na possibilidade de usar dióxido
de carbono e luz para alimentar reações da química orgânica.
Isso vai permitir que você elimine a etapa intermediária de uso
de derivados de combustíveis fósseis, substituindo-os pela luz
do Sol," disse Tan.
A demonstração inédita foi obtida pela junção de dois campos
de pesquisas, o desenvolvimento de materiais e a química
sintética.
Ataque ao dióxido de carbono
Durante a fotossíntese, as plantas capturam a luz do Sol e
usam essa energia e o dióxido de carbono para alimentar as
reações químicas das quais dependem para viver.
Os pesquisadores usaram uma malha de nanofios de silício como
célula solar. Os elétrons liberados pelos átomos nos nanofios
são transferidos para as moléculas orgânicas para induzir as
reações químicas.
Na demonstração, os elétrons atingiam acetonas aromáticas,
que se tornavam ativas, "atacando" e se ligando às moléculas de
dióxido de carbono.
A seguir, depois de fixado o CO2, o sistema gera ácidos
αhidroxi, que permitiram a criação dos precursores do ibuprofeno
e do naproxeno.
"O esquema de reação lembra muito de perto a fotossíntese
natural, e apresenta um rendimento de 98% e alta seletividade,"
disseram os pesquisadores.
O feito mereceu a capa da edição de Julho da renomada
Angewandte Chemie.