Facebook não é só para as fotos da festa de ontem: é
o alerta do filósofo Pierre Lévy, ele mesmo um
usuário do Facebook, do Twitter e de outras redes
sociais. Porém, do jeito certo: "Eu leciono em uma
universidade e uso as mídias na minha sala de aula.
Ensino a maneira correta de usar essas ferramentas
para intercâmbio de conhecimento, colocação (no
mercado), etc. Para muitos alunos, o Facebook é só
para colocar foto da festa de ontem e eu tento
ensinar outras maneiras. Qualquer professor pode e
deve fazer isso", completou o filósofo.
Por trás
das fotos da farra de ontem se escondem riscos às
vezes desconsiderados pelos usuários, alerta Lévy.
"A internet é um espaço público, sem restrições, mas
com seus próprios perigos. As pessoas não podem
esquecer disso. É preciso ter muita atenção ao que
fazem na internet, porque tudo o que você grava é
registrado. É muito particular (o uso da internet),
mas a internet não é particular, não existe isso",
enfatiza o escritor.
Censura não, bom senso
Apesar do alerta, Lévy dá a entender que pior do que
ser livre demais seria não ter liberdade alguma: "se
as pessoas querem se expor, elas têm o direito",
acrescenta o filósofo.
Quando questionado sobre um possível controle nas
publicações da rede, Lévy afirmou ao Terra
que é contra qualquer tipo de censura, porém é a
favor do bom senso para que a inteligência coletiva
- um dos conceitos centrais da sua filosofia - não
seja cerceada.
"O único limite da internet é o respeito à lei e
tudo que tem a ver com morte, pedofilia, raiva...
Sou contra todo controle político. Tudo que tem a
ver com conteúdo de conhecimento, por exemplo,
artigos científicos, ou tudo o que foi criado com
dinheiro público deveria ser de livre acesso na web,
e isso não acontece", afirmou.
Lévy, considerado um dos maiores nomes da
filosofia da informação da atualidade, esteve hoje
no R.I.A. Festival, evento organizado pela Fundação
Telefônica, onde participou de um debate intitulado
"A Construção da Cultura Digital - Estética de uma
nova sociedade".
Na palestra, realizada no auditório do Parque do
Ibirapuera, em São Paulo, o pensador falou a
respeito dos rumos da internet na sociedade
contemporânea, passando por pontos importantes como
a inteligência coletiva, o compartilhamento de
conhecimento para melhorar as condições de vida
dentro da sociedade.
Fontes de informação
Entre as fontes de informação utilizadas por
pesquisadores e, principalmente, por jovens que
ainda estão nas escolas para compor esse sistema,
Lévy ressaltou a Wikipedia. Para o filósofo, a
enciclopédia aberta não é uma fonte, mas sim uma
maneira de iniciar uma pesquisa, uma ferramenta que
pode dar o rumo certo ao trabalho.
"Eu disse aos meus alunos que podem usar como
início para as pesquisas, como qualquer
enciclopédia, mas você não pode copiar o que
encontrou. É só o ponto de partida", afirmou. O
mesmo princípio se aplicaria às mídias sociais.
"As instituições têm Facebook, Twitter, mas do
ponto de vista prático deveríamos considerar que as
pessoas que seguimos ou que nos seguem são atores
nesse jogo da comunicação. A rede é a plataforma
onde esse jogo acontece, mas não é uma fonte. É
muito importante porque há uma série de fontes
dentro dessas mídias, mas não a própria mídia",
explicou Lévy.
Desde as fontes aos meios, Lévy defendendo a
ideia de que nós mesmos somos responsáveis e capazes
de modificar e melhorar nosso estilo de vida.
"A inteligência coletiva não é um objetivo, mas a
forma de resolver problemas. Sabemos que temos
problemas e nunca haverá uma sociedade em que não
existem problemas. É uma condição humana, mas também
é parte da nossa condição humana resolver esses
problemas. Há muitos professores que criticam a
sociedade, mas acho que há pessoas suficientes
fazendo isso. Tento assumir um papel diferente, que
mostra algo mais adiante, mais longe, mas que
sabemos que naquela direção haja esperança",
explicou o filósofo.