Folha - Como será o smartphone de
daqui a cinco anos?
Michell Zappa - Ele terá
dispositivos de biométrica (como
leitura de impressão digital), para
poder identificar de que realmente é
você quem vai acessar sua conta do
Facebook. Além disso, serviços de
pagamento por NFC [comunicação de
campo próximo] farão com que o
smartphone aja como carteira em
muitos lugares.
Em que áreas ocorrerão as
mudanças tecnológicas de maior
impacto sobre nós nos próximos anos?
Considero três áreas mais
importantes: tecnologias embutidas,
biotecnologias e robótica.
A primeira se resume com o
aumento da velocidade dos
dispositivos e das suas capacidades.
Em cinco ou dez anos veremos facetas
desses dispositivos se manifestando
a nosso redor. Telas mais próximas
aos olhos (como o Google Glass) são
inevitáveis, mas conte também com
sensores de atividade física em
todos os seus calçados e peças de
roupa com geolocalização.
Na biotecnologia, vejo a
possibilidade do surgimento de uma
impressora 3D molecular ("chemputers")
para produzir e melhorar órgãos do
corpo.
Robôs substituindo o ser humano
em determinadas funções são há muito
uma via de mão única. Hoje são praxe
robôs simples na indústria, mas o
que acontece quando um automóvel
aprende a dirigir melhor do que um
taxista (com custo mais baixo,
evidentemente), ou quando
sintetizadores de voz com algoritmos
complexos se tornam mais eficientes
do que operadores de telemarketing?
Qual a relação entre inovação
e empreendedorismo, na sua opinião?
É muito mais fácil adaptar uma
ideia existente do que criar
soluções novas. O mercado de
start-ups brasileiro já demonstrou
ser capaz de adaptar todo tipo de
serviços e de produtos. E agora está
começando a inovar de verdade.
E entre inovação e direitos
autorais?
Sou fundamentalmente contra
patentes e direitos autorais.
Acredito genuinamente em entregar o
maior número possível de conteúdo e
de ideias para quem demonstrar
interesse e lucrar por meio daquilo
que é impossível copiar, como a
qualidade de implementação e a
velocidade.
Os cursos da tecnologia
parecem reféns do mercado. Estamos
presos ao que decidem os
departamentos de marketing?
Imagine se todas as empresas que
gerenciam as rodovias do estado de
São Paulo gastassem milhões de reais
anunciando que a suas estradas são
melhores que as dos concorrentes.
Que só as nossas têm asfalto de
qualidade, que temos sinalização de
padrão internacional e que temos
serviços incríveis de apoio para
acidentes. E imagine a estrada toda
esburacada, sem placas ou
sinalização, mal-iluminada, sem
veículos de emergência.
É isso que eu acho das empresas
de telefonia celular e internet no
Brasil. Marketing acima de tudo e
zero preocupação em oferecer um
produto decente.
Você viveu em diversos países.
Para a sua atividade, quais as
diferenças entre o Brasil e o resto?
Infraestrutura não é levada a
sério no Brasil --e isso deixa o
país muito atrás de alguns outros. É
um problema institucionalizado, que
começa no topo da pirâmide, com
sobrefaturamento e corrupção em
projetos públicos. Porém, eu
acredito que isso tende a mudar.
Acho que a inovação tecnológica pode
acontecer de baixo para cima e
resolver tais problemas de
infraestrutura.
Você acredita no "fim da web"?
Acredito que a web se tornará
cada vez mais invisível, e ao mesmo
tempo cada vez mais presente.
Acredito que a tendência para daqui
a dez ou 15 anos seja de surgimento
de "web apps" indistinguíveis dos
aplicativos dedicados, com todos os
benefícios que isso traz, tal como
você poder continuar um jogo em
qualquer browser com a facilidade
que você abre o Gmail no computador
do amigo hoje.
Mas essa adaptação rumo à nuvem
depende de vários fatores, como a
velocidade de conexão.
A tecnologia faz da humanidade
melhor?
A única coisa que nos separa do
nosso passado é tecnologia. Hoje,
tem muita gente com muito dinheiro
procurando resolver problemas
globais, como no campo da energia
--e isso tende a trazer resultados a
longo prazo.