Se o Twitter está
matando o jornalismo e
os jornais locais são
uma espécie em extinção,
um jovem e talentoso
jornalista do
New
York Times desafia a
corrente com a criação
de um site especializado
em tratar os temas
locais de maneira
profunda.
O ritmo de
informação 24 horas, nos
sete dias da semana, os
tweets de 140 caracteres
e os sites de internet
que compilam notícias
produzidas por diversas
fontes converteram
muitos meios de
comunicação americanos
no equivalente
jornalístico do
McDonald's: produção
rápida para consumo
fácil.
Na contramão desta
tendência, o colaborador
do New York Times,
Noah Rosenberg, quer que
seu site, o
Narratively
("Narrativamente"),
produza um material que
esteja mais para uma
espécie de ensopado
cozido em fogo lento.
"Realmente estamos
desacelerando as
coisas", explica
Rosenberg, falando em um
café no Brooklyn
(sudeste de Nova York),
que ele muitas vezes usa
como o escritório de seu
projeto.
A redação do
Narratively,
composta por 30
jornalistas
nova-iorquinos, deixará
de lado as notícias de
última hora para se
concentrar em matérias
originais de longa
pesquisa e artigos com
cinco mil palavras.
As matérias que
interessam a ele são as
"desenvolvidas há um,
dois ou três anos e que
ainda têm algum
significado", explica.
O projeto do
Narratively se soma
a outras iniciativas na
mesma sintonia com sites
como Atavist.com e
Byliner.com - ambos
fundados no ano passado
-, ou o Longform.org,
lançado em 2010, que
estão buscando novos
modos de converter o
material de não ficção
mais longo e de maior
qualidade em algo
rentável.
Jornalismo à
antiga feito de um modo
moderno
O colapso das receitas
geradas pela propaganda
nos jornais reduziu o
número de publicações
com condições para
produzir um jornalismo
investigativo de
qualidade, que houje
interessa a uma pequena
elite, como a revista
The New Yorker ou o
próprio The New York
Times.
O que esta nova mídia
tem de diferente é que
está apenas na internet,
o que significa que não
existem problemas de
espaço e que podem
explorar com maior
facilidade as
possibilidades da
tecnologia digital.
Paul Janensch,
professor de Jornalismo
da Universidade
Quinnipiac, assegura que
este movimento é uma boa
notícia, porque a mídia
tradicional americana
geralmente deixa que
seus trabalhos de
investigação se
transformem em algo
grandiloquente e
autocomplacente.
"Não tenho tempo para
um material longo e me
pergunto quantas pessoas
também têm. É
proibitivo. Minha
expectativa é que, com a
internet, não haverá
apenas mais jornalismo
de longo formato, como
também modos de
transmitir muita
informação complicada",
assinala Janensch.
O site Atavist.com
vende artigos de
não-ficção mais longos
do que aqueles que a
mídia impressa pode
publicar.
Seu próprio programa
informático permite que
essas matérias sejam
apresentadas em formato
multimídia em iPads e
outros tablets. Os
leitores podem ouvir o
autor, ver mapas, fotos
e vídeos, criando assim
uma experiência bastante
diferente de sentar para
ler uma revista.
Para um dos
cofundadores do Atavist,
Evan Ratliff, é crucial
adotar esta inovações
tecnológicas.
Há muita gente que
quer ler coisas em
profundidade. A questão
não é se estão lendo, e
sim se conseguem
entendê-las", afirmou em
uma entrevista
telefônica.
O Byliner.com oferece
longos artigos obtidos
através da internet e
também atende a pedidos
de trabalhos originais
de cinco mil a 30 mil
palavras vendidos
através da Amazon e da
Apple.
Rosenberg espera
explorar o mesmo modelo
e pensa em produzir um
pacote temático por
semana sobre a vida em
Nova York.
Ao contrário das
tradicionais revistas de
investigação, cada
pacote consistirá em
histórias tratadas em
formato longo,
documentais, animação e
ensaios fotográficos. A
cada sexta-feira, haverá
uma seção interativa com
os leitores.
Mas a pergunta é se
este novo jornalismo de
longo formato pode fugir
dos problemas
financeiros que afetaram
as publicações
tradicionais.
"Acreditamos que
ainda é uma pergunta sem
resposta", afirma Evan
Ratliff, do Atavist, que
se encontra bem
encaminhado em seu
objetivo de arrecadar
US$ 1,5 bilhão em
investimentos.
Para o Narratively,
as coisas ainda não são
tão claras, já que está
tentando obter seus
primeiros US$ 50 mil
dólares através do
Kickstarter, um site que
oferece oportunidades de
investimento em novos
projetos.