Um estudo sobre o uso da internet no Brasil por
crianças e adolescentes mostrou que 14% dos usuários
entre 9 e 16 anos já leu ou teve contato no último
ano com mensagens de ódio contra pessoas ou grupos
de pessoas. Os dados são da pesquisa TIC Kids Online
Brasil, divulgada nesta terça-feira pelo Comitê
Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que além de
mostrar a alta penetração da web entre jovens,
revela dados sobre a segurança da navegação - os
pesquisados relataram já ter topado com formas de
cometer suicídio, por exemplo - e do baixo nível de
mediação dos pais ou responsáveis.
"A internet, ao mesmo tempo em que oferece um
leque de possibilidades, oferece riscos, que podem
ou não causar danos à criança", disse Alexandre
Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as
Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br),
entidade que fez a pesquisa em acordo com a London
School of Economics.
Um dos tipos de perigos a que as crianças estão
expostas é o próprio conteúdo da internet. Por
exemplo, 14% dos usuários de 11 a 16 anos declararam
ter topado, no último ano, com mensagens de ódio
contra pessoas ou grupos de pessoas. Também 10%
encontraram formas para ficar muito magro "a ponto
de ficar doentes", como descreve a pesquisa; 9%
falam ou compartilham experiências sobre o uso de
drogas; e 3% viram ou leram sobre formas de cometer
suicídio.
Outro problema a que as crianças estão expostas é
pelo compartilhamento excessivo de dados da vida
pessoal, que pode causar constrangimentos ou mesmo
riscos à segurança. Do total de pesquisados que
estão nas redes sociais, por exemplo, 86% já
postaram fotos que mostram claramente seu rosto, 69%
divulgaram o sobrenome, 28% informaram a escola onde
estudam, 13% publicaram o próprio endereço e 12%, o
número de telefone.
Isoladamente, essa tendência poderia não causar
preocupação, mas ao ser analisada com outros dados
revela que o risco não se restringe à esfera
virtual. Dos usuários de 11 a 16 anos, 23% já
tiveram contato na internet com alguém que não
conhecia pessoalmente, e aproximadamente um quarto
destes chegou a encontrar a pessoa. Some-se a isso o
fato de que 41% das crianças não sabem bloquear as
mensagens de uma pessoa, 56% não sabem bloquear spam,
e 59% não sabem comparar diferentes sites para saber
se as informações que receberam são verdadeiras.
"A internet é uma forma do mundo real, e também
pode ser uma fonte de constrangimentos. Ninguém
deixaria o filho sozinho na praça da Sé às 18h, mas
deixa ele navegar na web sem nenhum cuidado. Essa é
uma perspectiva que não ajuda muito", afirmou
Juliano Cappi, coordenador de pesquisas do Comitê
Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Despreocupação paterna
Outra informação que alarmou o CGI.br foi a baixa
percepção de risco por parte dos pais ou
responsáveis. Entrevistados sobre o uso da internet
por seus filhos, 68% acham pouco ou nada provável
que eles passem por algum incômodo ou
constrangimento, 60% creem que podem ajudar o filho
a lidar com alguma situação assim e 58% pensam que a
criança tem capacidade para lidar sozinha com
situações que a incomodem.
Além disso, 71% dos pais consideram que seus
filhos utilizam a internet com segurança, e apenas
6% acreditam que eles tenham passado por alguma
situação de constrangimento ou incômodo nos últimos
seis meses. "A construção do conhecimento na família
é fundamental. Mas se os pais acharem que está tudo
bem, será que terá espaço para discutir o assunto?",
perguntou Juliano Cappi.
Uma das razões para a falta de conhecimento do
assunto, segundo os pesquisadores, é a grande
diferença de gerações: 53% dos pais não utiliza a
internet. No entanto, acrescentam eles, mesmo que o
responsável não seja familiarizado com a web, é
possível orientar ou acompanhar os filhos no uso.
A função de orientação das crianças, porém, em
geral é relegada pelos pais a outras instâncias. Dos
pesquisados, 61% afirmam que a escola é responsável
por informar sobre o uso seguro da internet, 57%
delegam o papel à mídia e 30% ao governo - apenas
29% disseram que a família é importante nessa
instrução.
Os resultados do estudo, segundo o gerente do
CETIC.br, devem orientar o governo para reforçar as
políticas educativas sobre a segurança na internet
e, principalmente, sobre sua forma de divulgação.
Atualmente, há cartilhas sobre o assunto disponíveis
para download na internet - mas apenas 8% dos pais
buscam informações por esse meio.
Brasil supera a Europa
A pesquisa, realizada a partir de 1.580 entrevistas
com crianças e adolescentes de 9 a 16 anos, mostra
que 70% das crianças possuem o próprio perfil numa
rede social, 13 pontos percentuais à frente das
europeias.
Segundo o estudo, a presença das crianças e
adolescentes brasileiros nessas redes aumenta de
acordo com a faixa etária: 42% dos usuários de 9 a
10 anos têm o próprio perfil, proporção que alcança
83% na faixa etária de 15 a 16 anos.
"Chama atenção o fato do uso das redes sociais no
Brasil superar o uso na Europa entre crianças nessa
faixa etária, onde o uso atinge 57%", declara
Alexandre Barbosa, gerente do CETIC.br