A mixina (do grego myxa, muco), também conhecido como peixe-bruxa, é uma criatura sem nenhum glamour.
Ele nada em águas muito profundas, com baixa visibilidade, sempre procurando por comida. Seu prato predileto são restos de baleias mortas.
Mas ele tem uma interessante "carta na manga". O truque está na sua estrutura corporal, que se parece com a de uma cobra. Nas laterais, glândulas soltam uma substância viscosa abundante e altamente concentrada que, na ausência de mandíbula para morder os inimigos, serve de autodefesa.
Pesquisadores filmaram recentemente o que acontece quando um tubarão morde uma mixina. Sua boca e guelras são rapidamente cobertas pelo muco e imediatamente desistem do ataque para não morrer asfixiado.
Gelatina com fibras
Esta meleca liberada pelo estranho peixe está chamando a atenção dos cientistas.
Uma mixina possui cerca de 100 glândulas produtoras de muco, localizadas ao longo do seu corpo. Elas dispersam uma substância leitosa, mas que é rica em fibras.
Quando a substância leitosa se mistura com a água do mar, ela se expande, criando grandes quantidades de um muco translúcido, composto por fibras extremamente fortes e elásticas.
Estas fibras, quando esticadas na água e, logo em seguida, secadas, se tornam sedosas.
As maiores espécies de mixina podem chegar a até 1,2 metro, mas a maioria chega a apenas 30 centímetros.
Contudo, mesmo com o pequeno tamanho, apenas um peixe-bruxa possui centenas de quilômetros de filamentos de muco dentro do corpo.
Cientistas acreditam que o muco da mixina - ou ainda outras proteínas similares a esta substância viscosa - pode ser transformado em roupas esportivas ou, ainda, em coletes de proteção contra armas.
Durante anos, cientistas têm tentado encontrar alternativas para substituir fibras sintéticas como o nylon, lycra ou o spandex, que são produzidos a partir do petróleo - uma substância de fonte não-renovável.
O muco de peixe-bruxa teria assim potencial para gerar uma fonte natural e renovável para produzir tecidos.
Seda de peixe
Como criar peixes-bruxa em cativeiro não parece ser a solução - a espécie parece não se reproduzir bem em condições de cativeiro - os cientistas esperam reproduzir artificialmente as proteínas que são encontradas no muco do peixe-bruxa em laboratório.
Este é o mesmo método que está sendo feito com a seda de aranha. No entanto, por conta das fibras das proteínas da seda de aranha serem muito grandes, isso seria extremamente complexo (seria como tentar extrair as mesmas proteínas de uma cabra transgênica).
No caso do muco do peixe-bruxa, há ainda muitas qualidades similares ao da seda de aranha, mas com uma grande vantagem: as proteínas extraídas da mixina são muito menores e, em teoria, seriam mais fáceis de replicar.
Ninguém conseguiu produzir sequer um carretel com os fios extraídos da proteína do muco do peixe-bruxa, mas diversos grupos estão trabalhando para que isso aconteça.
"Estou tentando retirar com pinças as fibras como se estivesse puxando isso pra cima", explica a professora Atsuko Megishi, enquanto tenta puxar o que mais se parece com a nata formada numa caneca de leite quente.
Essa "nata" com a qual os cientistas trabalham é como se fosse uma membrana muito fina formada pela proteína extraída do muco do peixe-bruxa. Quando a membrana é destruída, pequenas fibras são formadas. Assim, os cientistas conseguem as puxá-las com as pontas dos dedos.
Outros membros do projeto Guelph estão ainda tentando outro método. Eles utilizam uma bactéria geneticamente modificada que pode extrair as fibras ao longo de todo o corpo do peixe.
Se os cientistas tiverem sucesso na extração dessa nova fibra, eles poderão trabalhar com a indústria têxtil para levar novos produtos ao mercado.
Mas, como "roupa de meleca de peixe-bruxa" não parece ser algo muito atraente, os pesquisadores afirmam que já estão procurando ideias para melhorar a impressão da sua "substância viscosa".
Inovação Tecnológica