O
pote de DNA Chegou
Creme feito a partir de análise genética já
está em uso no Brasil
Mônica
Tarantino
Colaborou Lia Bock
Desde que a ciência decifrou o código genético humano, em junho de 2000, a
sigla DNA (molécula que carrega as informações biológicas que constituem os
seres vivos) está na moda. Recentemente, o tema tomou conta dos consultórios
de dermatologia de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Tudo por
causa de um produto lançado há seis meses nos Estados Unidos que acaba de
aportar no Brasil. Após 45 dias de espera, estão chegando às mãos das
brasileiras os primeiros potes do DNA Face Cream (ou creme facial DNA), a nova
esperança de quem sonha com uma pele mais lisa.
Na semana passada, a paulista Maria Leonor Bastos, 63 anos, esposa do
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, recebeu o seu pote. “A fórmula
é personalizada. Acredito que vá cumprir a promessa de rejuvenescimento
facial”, diz. Leonor está convencida de que o creme de DNA é uma excelente
aquisição, apesar do preço alto (R$ 1,3 mil o pote). “Eu gastava quase isso
com outros produtos”, conta. O dermatologista Otávio Macedo, de São Paulo,
aposta na novidade. “O creme é promissor”, afirma. Para conhecer mais sobre
o produto, ele viajará em agosto aos EUA para visitar o fabricante do creme.
Quem produz a novidade é o LAB21, uma companhia americana de biociências. O
laboratório garante que o DNA Face Cream evita o envelhecimento prematuro da
pele. Os interessados em usufruir de seus propalados efeitos têm de enviar à
companhia uma amostra de tecido retirado da mucosa da bochecha, procedimento
executado por um dermatologista. Conforme o fabricante, o creme é manipulado de
acordo com as informações obtidas da análise do DNA, feita a partir dessa
amostra. A leitura de um grupo de genes associados ao envelhecimento cutâneo
permitiria conhecer, por exemplo, os efeitos dos raios solares e a tendência de
produzir mais ou menos substâncias que determinam a firmeza, elasticidade ou
pigmentação. Com base nesses dados, a empresa criaria uma fórmula individual.
É o que a companhia está vendendo.
Apesar de teoricamente usar análise genética, o creme não precisou da aprovação
do FDA, órgão americano que regulamenta remédios e alguns cosméticos. “O
produto não modifica estruturas da pele”, comenta Veronica Castro, assessora
de imprensa da entidade.
A expectativa sobre o creme é grande. O LAB21 garante ter vendido milhares
de potes em lojas nos EUA e também na Inglaterra. No Brasil,
até agora houve pouco mais de 50 pedidos. Só o dermatologista Macedo fez cerca
de 30 encomendas em junho. No mesmo mês, a dermatologista Patrícia Rittes, de
São Paulo, indicou o pote a sete pacientes. “Como
o creme com DNA é muito novo, algumas pessoas ainda têm dúvidas quanto a sua
eficácia. Mas ele é o futuro”, diz. Menos entusiasmada,
a dermatologista paulistana Mônica Fiszbaum também entrou em
contato com o fabricante para prescrever o creme, porém ainda
não o fez. “Mal não faz, mas deveria haver mais estudos para
comprovar suas vantagens”, pondera.
De fato, restam muitos pontos a explicar. Os especialistas em genética, por
exemplo, duvidam do creme. “Ainda não há possibilidade de descobrir o que a
pele precisa a partir da análise genética de amostras da mucosa. Isso não tem
base científica”, alerta a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São
Paulo. Outra questão é identificar os genes analisados pela empresa. A informação
não foi dada aos dermatologistas. O presidente do LAB21, Nathaniel Benson,
disse a ISTOÉ que o laboratório analisa vários genes associados à saúde da
pele e ao envelhecimento. “Mas não podemos revelá-los até que a patente
seja autorizada”, afirma. O geneticista Walter Pinto, da Universidade Estadual
de Campinas, discorda: “Não se pode analisar material genético sem
especificar quais genes se está estudando. Essa definição é importante para
que o procedimento seja ético.” Na ausência dessas informações, os
mecanismos de ação do creme ainda não estão suficientemente claros. E
parecem milagres de conto de fadas, ou melhor, do DNA.
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