DNA de campeão

Bonito e talentoso, Nelsinho Piquet, destaque na F-3 inglesa,
deve ir para a Williams em 2004

Eduardo Hollanda

Ele tem apenas 17 anos, mas já é a nova sensação da Fórmula 3 inglesa, ocupando a terceira colocação no campeonato deste ano. Em consequência dos resultados obtidos – duas vitórias, dois segundos lugares e um terceiro em 12 provas –, ele foi convidado para uma série de testes com a Williams-BMW da Fórmula 1 no final do ano. A experiência não será apenas prêmio para jovens pilotos que se destacam, e sim um teste de trabalho. Se tudo der certo, o garoto será o piloto de testes da equipe inglesa no ano que vem, uma preparação para em 2005, provavelmente ao lado do colombiano Juan Pablo Montoya, tornar-se piloto oficial da equipe na Fórmula 1. O novo prodígio do automobilismo mundial tem nome e sobrenome de campeão. Ou melhor, tricampeão. Ele é Nélson Ângelo Piquet, filho do primeiro brasileiro tricampeão do mundo. Para o pai, Nelsinho, ou Piquet Jr., como os ingleses o chamam, já está em um estágio superior ao que ele próprio tinha alcançado quando, aos 24 anos, se mudou para a Europa para competir na Fórmula 3. “Ele corre desde os oito anos, está com dez de carreira e é mais técnico e perfeccionista do que eu. É melhor do que eu fui quando corria de Fórmula 3. Vai ser um campeão do mundo”, afirma, com um sorriso orgulhoso, o tricampeão mundial.

A trajetória de Nelsinho Piquet rumo à Fórmula 1 começou dez anos atrás, quando o menino, então com oito anos, decidiu mudar-se de Nice, na França, onde vivia com a mãe, a holandesa Sylvia Tamisma, para Brasília. Foi na capital federal, sob a supervisão do pai, que ele fez os primeiros testes com um kart. “Foi paixão à primeira vista. Tive certeza de que minha vida ia ser a de piloto”, afirma Nelsinho. O olho clínico do pai percebeu que o menino calado e sério tinha herdado o seu talento para pilotar. E montou uma equipe de kart. “Nunca fiz pressão. Nelsinho é que sempre me surpreendia com sua vontade de treinar cada vez mais, de melhorar sempre. Os resultados (tricampeão brasileiro de kart, 40 vitórias e 50 pole positions) foram a consequência da sua dedicação”, afirma Piquet. O passo seguinte foi competir na Fórmula 3 Sul-Americana, em 2001. O garoto teve que esperar até o dia 25 de julho, quando completou 16 anos, idade mínima, para disputar o campeonato. Mesmo correndo só metade das provas, terminou em quinto lugar, ganhando uma corrida e se tornando o piloto mais novo a vencer na categoria. “Montei uma equipe só para o Nelsinho porque vi que não havia muito profissionalismo na categoria”, afirma Piquet. Em 2002, Nelsinho ganhou 13 das 18 provas disputadas, fez 16 pole positions e ganhou o título sul-americano com quatro provas de antecedência.

O mesmo esquema da equipe, com o engenheiro Felipe Vargas no comando e os mecânicos Antônio Bandeira e Agnaldo Furlam Camba, foi transplantado para Oxford, na Inglaterra. Piquet bancou o custo inicial, em torno de US$ 400 mil, logo coberto por patrocinadores como Oi, TAM, Taurus, CEB e Unibanco, entre outros. O sucesso do projeto, previsto para durar dois anos, está garantido. “Em um campeonato altamente competitivo como este, ele, um estreante, está enfrentando de igual para igual pilotos como o sul-africano Alan Van der Merwe, o atual líder, que está na sua terceira temporada”, comenta Piquet. Na verdade os planos de Piquet para o filho já vão ser mudados para melhor. Depois da reunião com Frank Williams e Patrick Head no dia 23 de junho, o segundo ano de Nelsinho na F-3, em 2004, não deverá ser necessário. Frank Williams viu Nelsinho correr – e ganhar – em Silverstone, uma das catedrais do automobilismo. Seu filho Jonathan é um dos maiores entusiastas do garoto, tendo se tornado figura frequente nas corridas de Nelsinho Piquet. O convite para os testes no final do ano com a F-1 foi
uma consequência natural.

A vida inglesa do garoto, que terminou o segundo grau no ano passado, na Escola Americana de Brasília, é mais confortável do que a do pai, décadas atrás, embora tenha a mesma dura rotina de treinos diários e provas. “Eu tinha 24 anos, era mecânico e tive que ralar muito quando fui sozinho para a Inglaterra. Não dava para mandar um garoto de 17 anos se virar sem gente de confiança junto”, afirma Piquet, que está presente em todas as provas, como uma espécie de chefe de equipe informal e mentor. Nelsinho mora em uma casa com a equipe, onde as tarefas domésticas são divididas entre todos. Tem um preparador físico, Sandor Bálsamo, vindo de Brasília, e cuidados especiais com a alimentação. Nas provas, como a etapa de Castle Combe, no oeste da Inglaterra, assistida por ISTOÉ, além da presença do pai, ele tem contado com a de sua mãe, a holandesa Sylvia Tamisma; da namorada, Bia Antony, estudante de engenharia da UnB que está morando em Oxford há um mês; da irmã, Kelly, 14 anos (também filha de Sylvia e Nelson); e de Viviane Piquet, atual mulher de Nélson. Viviane, 31 anos, que criou Nelsinho desde os oito, diz que ele é como se fosse um filho grande, que ganhou quando se casou com Piquet aos 21 anos. “É um garoto obstinado que vai ser um grande campeão”, afirma. Ela tem dois filhos com Piquet, Pedro Estácio, cinco anos, e Marco, dois, e espera que nenhum resolva seguir a carreira do pai e do irmão. Sylvia, 50 anos, que foi modelo famosa na Europa no final dos anos 70, é a própria mãe coruja. “Claro que senti quando ele mudou para o Brasil pensando em ser piloto. Mas agora sinto muito orgulho de ser a mãe de um campeão. Nelsinho será ainda maior do que o pai, pois é mais inteligente”, garante.

A irmã, Kelly, uma espécie de clone da mãe e fã incondicional do irmão, pretende ser modelo, depois de tentar imitá-lo anos atrás. “Quando tinha cinco anos, insisti para andar no kart do Nelsinho. Coloquei um macacão rosa e amarelo e saí com tudo. Minha carreira de campeã acabou na primeira curva, pois entrei com tudo nos pneus de proteção. Só vi meu pai tentando correr dos boxes em minha direção (Piquet ainda convalescia de um grave acidente em Indianápolis, EUA), apavorado. Decidi que aquilo não era a minha e que o novo campeão seria meu irmão”, conta. Kelly só reclama dos ciúmes de Nelsinho. Ela namora Xandinho Negrão, piloto de F-3, melhor amigo do irmão, e padece com a vigilância de Nelsinho, mesmo a distância, por telefone. A quarta mulher na vida de Nelsinho é Bia, sua namorada desde janeiro. “Ele me paquerou muito em Brasília. Resisti muito, pois ele era mais novo, famoso (Bia tem 20 anos) e temi as críticas”, conta. No começo do ano, Bia ficou na ponte aérea Brasília–Londres. Até que, há pouco mais de um mês, se mudou para Oxford, por exigência de Nelsinho. “Não estava aguentando a situação. Pedi para a Bia ficar de vez e deu certo”, conta ele. Bia trancou matrícula no curso de engenharia da UnB, mas terá que tomar uma decisão em agosto. “Vou ver se consigo uma transferência para Oxford, porque não posso prorrogar o trancamento do curso em Brasília”, admite. Sobre o namoro, afirma que vai cada vez melhor. “Nelsinho é perfeccionista, mandão e ciumento. Mas é um doce, educado, lindo. É bom estar do lado dele”, conclui.

 

 

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