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Quero
ser jovem!
Um anestésico e
suplementos que incluem de vitaminas
a aminoácidos tornam-se mania entre os que desejam
adiar o envelhecimento
Juliane Zaché
A mais nova promessa de juventude e vitalidade a fazer sucesso
no Brasil neste momento tem a forma de uma injeção. Dentro dela,
está a procaína, um anestésico usado há décadas por
dentistas. Criticada pela comunidade científica e adorada por
quem a utiliza, a procainoterapia, como o tratamento foi batizado,
é usada para diversas finalidades. Seus poderes combateriam a
depressão, melhorariam o humor, aumentariam a disposição e a
libido, agiriam contra processos inflamatórios, ajudariam a
emagrecer e a enfrentar os problemas sem tanto stress. Ou seja,
uma injeção da substância garantiria, pelo menos por um tempo,
a vida que todo mundo deseja: com beleza, energia e felicidade. É
por isso que a procaína tornou-se mania, principalmente entre os
ricos e famosos. É ela que está por trás da pele reluzente da
atriz Ellen Roche e do pique inesgotável do ex-jogador de vôlei
Bernard, só para citar alguns.
A responsável pela introdução da procaína na lista dos
elixires milagrosos da juventude foi a médica romena Anna Aslan.
Ainda na década de 50, ela teria percebido que quem usava o anestésico
relatava melhora no bem-estar. A partir de então, o uso da substância
transformou-se numa espécie de segredo passado de boca em boca.
Mas como segredos nessa seara – a eterna luta do ser humano
contra o tempo – duram pouco, a procaína ganhou os holofotes.
Principalmente porque artistas e outras personalidades acabaram
expondo publicamente a razão de sua beleza. No Brasil, eles
costumam recorrer às clínicas Anna Aslan para receber as injeções.
E nenhum se importa em pagar em média R$ 5 mil por seis meses da
terapia. É o caso do ator Jayme Periard, 42 anos. Há três
meses, ele toma as injeções duas vezes por semana e está
satisfeito com o investimento. “Minha transformação foi
brutal. Tenho mais disposição física, criatividade, meu humor
melhorou e consigo lidar com traumas passados com maior
tranquilidade”, conta.
De acordo com os médicos que prescrevem a terapia, esses
efeitos estariam justificados. “Vários estudos mostraram que a
procaína melhora a disposição física e mental. O paciente também
se torna menos ansioso, reduz a compulsão por comida e acaba
emagrecendo”, diz Eduardo Monteiro, da Clínica Anna Aslan de São
Paulo. O cardiologista João Bosco Teixeira, do Recife, por sua
vez, garante que o anestésico combate a produção dos radicais
livres, moléculas envolvidas no processo de envelhecimento
precoce. “Por isso, seu uso aumenta a longevidade e a
vitalidade”, diz. O ator Francisco Cuoco, idade não revelada,
assina embaixo. Ele faz o tratamento há oito meses (toma as injeções
duas vezes por semana) e assegura que ganhou mais energia. “Me
sinto com mais vitalidade”, conta.
Controvérsia
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Como toda fórmula mágica de felicidade e beleza,
porém, a procaína também é motivo de polêmica. O principal
argumento dos críticos do tratamento é o de que falta
embasamento científico para sua utilização. “Até o presente
momento não existe evidência científica que justifique seu
uso”, diz o geriatra Alberto Macedo Soares, presidente da
regional paulista da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia. A dermatologista Lúcia Arruda, ex-presidente da
Sociedade Brasileira de Dermatologia, concorda com ele. “Nunca
li um estudo mostrando que a procaína rejuvenesce a pele”,
comenta. O bombardeio não é só brasileiro. Nos Estados Unidos,
o FDA (órgão que regula medicamentos e alimentos) não aprova o
uso do composto com finalidade de rejuvenescimento. No Brasil, a
situação é semelhante. Não há permissão oficial para se
utilizar a procaína com esses objetivos. Por isso, as clínicas e
os médicos que aplicam a terapia podem ser alvo de punição,
embora não se tenha notícia de que isso tenha ocorrido até
agora.
Na verdade, segundo os críticos, até hoje os trabalhos
científicos mostraram apenas que a procaína teria um efeito
antidepressivo em alguns pacientes idosos. Eles mesmos ressalvam,
porém, que é preciso
a realização de mais pesquisas para comprovar o efeito. Os
profissionais também argumentam que o anestésico não é tão
inofensivo como garantem seus defensores. “Estudos mostraram que
ele pode causar convulsão, tremores e até lúpus, uma doença
auto-imune”, afirma o geriatra Soares. O cardiologista Ronaldo
Abud, de São Paulo, vai além. “Utilizar a procaína de forma
indiscriminada pode levar à parada respiratória”, diz. Ele
também levanta outra questão. Pelo fato de
diminuir a dor, o anestésico pode mascarar o aparecimento de
doenças. Para o geriatra Clineu Almada, da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp), a sensação de relaxamento e bem-estar
que os usuários dizem usufruir é efeito placebo, ou seja, não
passa de ilusão. Quem recorre
à procaína, no entanto, não dá bola para a artilharia. O
ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman, 46 anos, adepto do
tratamento há dois anos e meio – toma as injeções duas vezes
por semana –, gosta tanto que já
se tornou uma espécie de garoto-propaganda da terapia. “Tem
gente
que me pergunta se fiz plástica no rosto porque estou muito
melhor
hoje do que antes”, diz.
O desejo de encontrar uma
saída prática e rápida contra o envelhecimento faz parte da
história da humanidade. Antes da procaína, muitas outras
fórmulas fizeram sucesso nos últimos anos. E mesmo hoje, apesar
do reinado do anestésico, há uma enorme variedade de outras
opções de juventude-express, a maioria oferecida em forma de
cápsulas. Entre elas está o Innéov Firmness, criado pelo
laboratório Innéov (uma joint-venture entre Nestlé e L’Oréal).
Trata-se de um suplemento vitamínico que mistura, entre outros
ingredientes, vitamina C e isoflavona, substância extraída da
soja. De acordo com a empresa, a pílula devolve à pele a firmeza
que o tempo tirou. Ainda não se sabe quando o produto chegará ao
Brasil, mas ele já está disponível em países como França e
Alemanha.
As vendas do Innéov, segundo o fabricante, são as
melhores possíveis. A empresa de cosmético francesa Anna Pegova
também investiu na formulação de suplementos alimentares como
forma de garantir a juventude. Um
de seus produtos também é à base de soja. O fabricante garante
que suas pílulas ajudam na formação do colágeno, substância
que
dá sustentação à pele. Outro complemento bastante conhecido, o
Imeeden, também sofreu mudanças para se adaptar melhor à ânsia
de vitalidade e beleza em comprimidos. O laboratório dinamarquês
Ferrosan incrementou seu produto, originariamente à base de
proteínas extraídas de animais marinhos, com licopeno, composto
presente no tomate que teria ação antienvelhecimento.
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