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Por uma rede
brasileira de cidades digitais
A cidadania digital se sobrepõe à rede física da cidade e, aos poucos,
permite o usufruto das oportunidades e benefícios da Cidade Digital. É
preciso abordar a questão como Infoinclusão social.
Evandro Prestes Guerreiro
O que é a Sociedade em Rede? O que é Cidade Digital? Qual o impacto das novas
tecnologias nas nossas vidas? O que podemos fazer para contornar a dependência
tecnológica cada vez mais intensa? Como gerenciar as novas tecnologias nas
cidades brasileiras? Afinal, quais os efeitos benéficos e maléficos da
tecnologia no desenvolvimento local? A tecnologia em si está a serviço da
sociedade ou precisa ser convertida em tecnologia social?
Para começar, diríamos que toda tecnologia é social por excelência. Começa
com uma necessidade local e soluciona um obstáculo de desenvolvimento social
universalizado e, dessa forma, não é apenas ferramenta e aplicativo, mas,
processo e solução a serem implementados.
A tecnologia é responsável pela melhoria dos bens e serviços consumidos na
sociedade, mas, também, interfere histórica, social, econômica e
culturalmente no processo de desenvolvimento local, provocando mudanças
radicais no modo de agir, sentir e pensar. A tecnologia é ainda, um poderoso
instrumento político-ideológico na formação da opinião pública.
Na Sociedade da Informação e suas múltiplas possibilidades de conexão em
rede, não é diferente. O uso disseminado do computador, o acesso às informações,
a universalização dos meios de comunicação e telecomunicações, conjugados
com a expansão da internet no mundo, possibilita o surgimento de uma rede
institucional de serviços eletrônicos.
O resultado é a difusão social do conhecimento em larga escala de transmissão,
a partir de sistemas tecnológicos inteligentes, com acesso público para o
cidadão em diferentes pontos de conectividade e interatividade nas cidades
atuais.
Quando transitamos pela cidade percebemos que esta é recortada por vias, locais
para encontros, áreas verdes e de lazer, zonas comerciais e residenciais, zonas
mistas, setores industriais, prédios públicos, equipamentos de serviços para
o cidadão, hierarquias, burocracias, planejamento e gestão.
Existe uma estrutura social embasada pela formação e administração de redes
de serviços, bens, conhecimentos e informações diversas que precisam estar
disponíveis para acesso e compartilhamento. Esta dinâmica social de uma rede
coletiva permite ao cidadão circular e viver na cidade.
As novas tecnologias de informação e comunicações – TICs, favorecem a
formação de uma rede de cidadania digital, disponibilizando serviços e ações
de interesse público na cidade.
A consolidação progressiva dessa cidadania digital se sobrepondo à rede física
da cidade e, aos poucos, criando um sistema com múltiplas entradas e saídas
– uma infovia compartilhada, permite o usufruto das oportunidades e
benefícios da Sociedade da Informação local ou o que denominamos Cidade
Digital. Entretanto, anterior a Cidade Digital precisamos estabelecer a
cidadania em rede, tornando barato e acessível à grande parcela da sociedade
local, o meio de comunicação mais elementar na era da informação: o
telefone.
Quanto ao digital, este é a modalidade de inclusão, mas, como a sociedade em
rede é um conjunto, precisamos abordar a questão como Infoinclusão
social, que é a garantia de acessibilidade e conectividade à Sociedade da
Informação, a partir das inovações midiáticas em TICs, gerando melhores
condições de vida e uma cidadania local possível.
As TICs geram um volume de dados e informações como nunca aconteceu antes na
humanidade, caracterizando uma verdadeira revolução nos hábitos, costumes e
valores da sociedade, infelizmente, uma sociedade ainda elitista. O que fazer?
Precisamos gerenciar estrategicamente o progresso, como forma de promover a
sociedade em rede com infoinclusão social. Com isso, como alerta o investigador
norte-americano Neil Postman (1994), entenderemos como as novas tecnologias estão
mudando nosso modo de pensar, nossa visão sobre nós mesmos e sobre o mundo em
nossa volta.
Na era da informação a cidade continua sendo o grande palco da história
humana, agora, interligada por redes eletrônicas. Os atores sociais usam a
internet para se fazerem ouvir livremente em seus projetos políticos e
pessoais. Porém, na sociedade conectada em rede é preciso ficar atento para o
movimento da realidade virtual, sob pena de criar uma dependência tecnológica
na realidade concreta.
A promoção da cultura digital e a valorização da identidade local são dois
aspectos a serem considerados no desenvolvimento da sociedade em rede e da gestão
de tecnologias sociais na emergente Cidade Digital brasileira. Estas questões
foram debatidas no Cybercity 2003, seminário internacional apoiado pelo Ministério
da Ciência e Tecnologia, Fapesp, Senac São Paulo, Cenpec, Cidade do
Conhecimento - USP e outros importantes organismos.
Aconteceu pela primeira vez em São Paulo, entre 23 e 25 passado, com
especialistas da Alemanha, Portugal, Inglaterra e Brasil. A Gestão de
Tecnologia Social – GTS,
organização sem fins lucrativos, realizadora do evento, coloca o 3º Setor na
agenda de debate sobre o tema.
O Seminário alertou para o fato de que as TICs demandam às empresas, governos
e sociedade, relações de convivência cívica e de gestão do conhecimento,
para lidarem com infra-estrutura de rede, educação, qualificação
profissional, trabalho, saúde, ambiente, agilidade nos serviços, otimização
de recursos e outros consumos, tendo em vista a emergência das cidades digitais
no Brasil.
As conferências do Cybercity fazem um recorte entre a origem da cidade e sua
projeção futura, as múltiplas oportunidades abertas com as TICs, o
desdobramento da Sociedade da Informação, a gestão do capital humano e o
impacto na qualidade de vida urbana e rural.
O seminário teve ainda como desafio sugerir a implantação da Rede Brasileira
de Cidades Digitais e criar uma referência de Plano de Desenvolvimento Tecnológico
Local, estratégias estas que serão divulgadas em documento oficial. Informações
pelo site Cybercity. [Webinsider]
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