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Internet dá mais velocidade
à mentira
da Folha de S.Paulo
A ferramenta de busca Google deu como resultado, no dia 19 de abril, 460 mil
registros para a palavra mentira. "Lies", mentiras no plural em inglês,
obteve 4,33 milhões no mesmo dia.
Para estudiosos, a mentira é vista sob vários ângulos. "A mentira é a
mola da ficção na literatura", afirma a professora do programa de pós-graduação
em semiótica da PUC-SP e professora convidada da Universidade de Limoges, na
França, Jerusa Pires Ferreira. Tirando a mentira que lesa o indivíduo, ela
é uma das formas mais intensas da fabulação humana, argumenta a professora.
Na sua opinião, a mentira é transgressora e por isso é punida pela
sociedade. A docente acredita que a mentira ganhou mais velocidade, uma vez
que a internet é um suporte.
Indagada se a rede pode potencializar a mentira, com a criação de falsos
personagens em salas de bate-papo, Jerusa Ferreira afirma que a internet
restaura a conversa em grupo. "Quem afirma que a web destrói formas de
comunicação está equivocado. O que a rede faz é deslocar a oralidade para
novas condições."
Quando o assunto é conteúdo na internet, o problema não é a mentira. É o
que afirma a artista multimídia e professora de pós-graduação Giselle
Beiguelman. "O problema na internet é que você se sente
desaparelhado." Na opinião de Beiguelman, "nada se autentica por si
só". No mundo fora da rede, os livros, por exemplo, são autenticados
por editoras conhecidas no mercado.
O que falta, de acordo com Beiguelman, são filtros para verificar a
autenticidade do conteúdo. A professora dá dicas para quem procura textos
originais na internet: "Preste atenção na hora de digitar um endereço".
Ela cita ainda a ferramenta de busca Google. "É um dos melhores
instrumentos para aferir grau de credibilidade."
Quanto ao charlatanismo, a internet não produziu o sujeito que ludibria, diz
Beiguelman, "ela só abriu um canal de visibilidade, assim como a
pedofilia e os sites pornográficos". "Nem por isso, deve existir um
órgão regulador de conteúdo", diz.
O coordenador do Comitê Gestor da Internet, Artur Pereira Nunes, é da mesma
opinião. "A internet se desenvolveu na área acadêmica, que tem como
tradição o respeito à liberdade de opinião." O que tem de ser feito,
diz Pereira Nunes, é criar mecanismos de segurança que dêem ao usuário a
opção de ver o que ele quiser.
Para questionar os critérios de autenticidade na internet, o professor
universitário Cícero Inácio da Silva criou uma revista on-line de conteúdo
falso. A "Plato em Linha" (www.pucsp.br/~cicero/plato/port.html)
faz parte de um projeto de doutorado. Com um soft, Inácio da Silva criou
algoritmos de texto usando autores que existem ou existiram na vida real.
Os textos da revista são escritos por geradores eletrônicos.
Se o internauta prestar atenção, vai perceber que a maioria do conteúdo não
faz sentido algum. Trata-se de um projeto artístico e acadêmico que vai
trabalhar com a teoria da apropriação. "A única diferença é que me
aproprio do nome próprio", diz o professor de artes e comunicação.
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