Numa velocidade que ele mal poderia imaginar,
documentos privados e pensamentos íntimos de Albert
Einstein - o que inclui devaneios políticos, cartas
secretas à sua amante e um rabisco da célebre
fórmula "E=mc2" - em breve estarão chegando à
internet.
Passados 57 anos da morte do físico
ganhador do Nobel, uma universidade israelense que o
teve como cofundador disponibiliza a partir desta
segunda-feira cerca de 80 mil documentos que
Einstein legou à instituição em testamento. A
Universidade Hebraica de Jerusalém diz que ainda irá
ampliar o site alberteinstein.info, com o objetivo
de no futuro digitalizar todo o arquivo do
cientista.
Um dos itens de maior destaque é o raríssimo
manuscrito da equação proposta por Einstein na sua
Teoria da Relatividade Especial (1905), E=mc2 (a
energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao
quadrado). Mas igualmente curioso é o lote com duas
dúzias de cartas, previamente publicadas, que
Einstein escreveu para aquela que seria a sua
segunda mulher - numa época, porém, em que ele ainda
estava casado em primeiras núpcias.
No momento, estão disponíveis apenas alguns
documentos anteriores a 1923, quando Einstein tinha
44 anos. O site contém a digitalização dos textos
originais, escritos em alemão, com notas e traduções
em inglês.
Hanoch Gutfreund, chefe da comissão que
supervisiona o arquivo, disse que o site "vai ser
não só algo para satisfazer a curiosidade dos
curiosos, mas será também uma grande ferramenta de
educação e pesquisa para acadêmicos". Ele admitiu
que, no caso de alguns itens muito pessoais, os
arquivistas debateram a conveniência de divulgá-los.
Isso inclui as 24 cartas de amor que o cientista
escreveu à sua prima Elsa, com quem ele teve um
romance de vários anos até finalmente se divorciar
da primeira esposa, Mileva Maric. Albert e Elsa
Einstein se casariam em 1919. "Se você deixa um
tempo suficiente transcorrer, então é 'kosher'",
disse Gutfreund, usando um termo religioso judaico
para indicar que algo é adequado ao consumo.
O site ainda não inclui - mas está exposta na
universidade - a carta em alemão que Einstein
remeteu ao jornal árabe Falastin, propondo a criação
de um "conselho secreto" para contribuir com o fim
do conflito entre árabes e judeus na Palestina,
então um protetorado britânico. Einstein propunha um
comitê com oito judeus e árabes - um médico, um
jurista, um sindicalista e um clérigo de cada lado
-, que fariam reuniões semanais. "Embora esse
'Conselho Secreto' não tenha autoridade fixada, ele
irá afinal levar a um Estado em que as diferenças
serão gradualmente eliminadas", escreveu Einstein.
"Essa representação irá se erguer por sobre a
política da época", afirmou.
O cientista, que trocou a Alemanha nazista pelos
EUA, foi um tradicional apoiador da comunidade
judaica na Palestina. Mas ele às vezes demonstrava
certa ambiguidade com relação ao Estado de Israel,
instituído durante a guerra de 1948. Em 1952, ele
rejeitou uma oferta para se tornar presidente do
país, um cargo protocolar.