Déborah Salves
Dia 10, é celebrado o Dia da Internet, data instituída pela ONU em 2006. Embrionária em 1969 como ARPAnet, uma rede de computadores do Departamento de Defesa americano, a internet como se conhece hoje só se consolidou em 1991, com a criação do sistema WWW, nove anos após o protocolo de transmissão TCP/IP ser adotado. Nesses longos (ou curtos?) 21 anos, a web ganhou importância, viabilizou produtos e serviços. Por outro lado, casos como o das fotos vazadas da atriz da Rede Globo Carolina Dieckmann nua trazem à tona uma preocupação: a internet deixou a vida das pessoas mais vulnerável?
Em entrevista ao Terra, o cientista de computação graduado pelo ITA e especialista em segurança digital Rogério Saran observa os dois lados da questão e lembra que, apesar de a internet oferecer facilidades como a publicação e o compartilhamento de informações que conectam pessoas ao redor de todo o planeta, tais fatores também abrem espaço para as pessoas se exporem mais, e consequentemente ficarem mais vulneráveis.
"Hoje você pode se expressar, mas isso naturalmente é uma possibilidade maior de exposição", diz, ressaltando que em alguns casos essa exposição pode ser de informações que sejam de terceiros - como o caso recente das fotos vazadas da atriz global. Em outros casos, no entanto, a internet eliminou algumas das vulnerabilidades. "Se antes você corria riscos ao sair com altas somas de dinheiro para fazer uma transferência, hoje pode fazê-la online, se expondo menos", exemplifica.
Os ricos à segurança em um ambiente virtual, para Saran, estão diretamente ligados a dois pontos: educação e consciência. O primeiro diz respeito ao conhecimento que as pessoas têm da rede, de como funciona e do que é capaz, para que saibam como lidar com ela - o que inclui se proteger dos perigos que a rondam. O especialista cita como exemplo o início dos serviços de bancos pela internet. "Ninguém achava que era seguro, há 10 anos. As pessoas e as instituições viram roubos de senhas, golpes via e-mail, mas com o tempo todos aprenderam a lidar, houve reforços nos sistemas dos bancos, as pessoas aprenderam a olhar se tem o cadeado no pé da página, e hoje o serviço é largamente usado", enumera.
A questão da consciência Saran resume em uma frase: "o cuidado que se tem deve ser compatível com as informações que se quer preservar". No mundo offline, ele exemplifica, dinheiro é guardo em cofre, para mantê-lo seguro. "Se você tem uma foto que não quer que os outros vejam, não deveria deixá-la no seu celular, pois se ele for roubado, quem encontrar poderá olhar", ilustra. De novo no mundo "analógico", lembra que se as fotos ainda fossem impressas, filmes e ampliações seriam muito bem guardados. E 'bem guardados' aqui não inclui o computador desktop de casa. "Se você leva para consertar, a pessoa que vai fazer isso terá acesso a esses arquivos", continua.
O especialista em segurança lembra que os dispositivos digitais como computadores e smartphones são lugares fáceis para tirar e colocar informações - e que a conexão à internet, da mesma forma que facilita essas trocas desejadas, também permite a invasão não autorizada. "Toda informação sensível, seja ela uma foto que você não quer que os outros vejam ou um documento com segredos industriais, deve ser bem guardada. Você pode salvar em um pen-drive e colocá-lo em cofre, ou guardar o cartão de memória da máquina fotográfica neste cofre", sugere.
Mas e quanto ao que não for tão sensível? A primeira dica é usar senhas, principalmente no smartphone, que pode ser roubado ou perdido. Nas redes sociais, Saran sugere verificar as configurações de privacidade, mas alerta: "nada (online) fica escondido". Embora restrições permitam publicar dados a que só pessoas selecionadas podem ter acesso, o especialista lembra que uma dessas pessoas pode, por inúmeros motivos, "passar adiante" aquela informação. "Se você falar mal do chefe, xingar alguém, as pessoas vão ver. Antes, você tem que pensar o que quer que os outros vejam (sobre si)", insiste.
Mas estar na web e usar a internet vale a pena?
Apesar dos riscos que os usuários da internet podem correr, por outro lado a
web abriu uma série de possibilidades, lembra Saran, usando a expressão de que
"vale o preço". "A internet aproxima as pessoas, permite que
você mantenha contato com amigos, com parentes distantes, e de uma forma
dinâmica", resume.
Além disso, ele ressalta a questão da aculturação no processo de melhoria da segurança online. Segundo ele, a geração que "já nasceu na internet" toma a onipresença da rende como natural. A existência desses jovens, bem como a rápida expansão do acesso a partir dos smartphones, criam referências para que os que nasceram há mais de duas décadas possam acelerar o aprendizado. "Agora, alguém que está começando tem um filho, um vizinho, alguém que saiba (lidar com a web). Antes, a pessoa não teria para quem perguntar sobre o comércio eletrônico, por exemplo, hoje já tem alguém que lhe diga, 'entra na loja tal, eu já comprei e é seguro'", exemplifica.
Segundo Saran, hoje um brasileiro médio tem contato com a web primeiro em um lan house ou na casa de um amigo, mas a rede também está presente no trabalho e na escola. "Esses cenários favorecem demais a educação e a segurança (digital)", explica. O especialista também menciona o papel essencial dos smartphones no processo. "A internet antiga exigia computador, modem, telefone fixo; hoje o acesso começa a nascer na TV a cabo, no 3G, não é preciso mais ter um computador, e por isso o tamanho do público aumentou bastante" continua.
O crescimento do acesso, conclui, vai aumentar o conhecimento que as pessoas têm da internet. "A pessoa com um smartphone pode não saber exatamente o que é uma 'página' ou como funciona o e-mail, mas ela tem um perfil no Facebook e posta nele do celular", ilustra. A ressalva que faz, do momento atual até o momento em que os usuários terão mais consciência sobre como preservar sua segurança online, é que "o conhecimento tácito leva um tempo para se formar".