"Troll", figura da mitologia nórdica, é o mesmo que
gnomo, um ser mágico, que nas histórias e lendas
traz mau agouro. E eles se fazem presentes também na
realidade virtual, envenenando a internet. Eles
estão por todo lado e são anônimos. Do mal,
disseminam veneno e amargor, magoam e ofendem as
pessoas. Eles se infiltram em fóruns de debate,
redes sociais e wikis, sabotam blogs. Sua meta é
perturbar a comunicação na internet.
Os trolls
ofendem quem participa de discussões e disparam
palavras de ordem racistas. São sabichões, reclamam,
provocam, espezinham. Alguns se consideram
especialistas, dão suas opiniões indiscutíveis.
Outros só querem destruir, como uma criança que pula
em cima de uma escultura de areia construída com
todo o cuidado na praia. Alguns incomodam de
propósito, para provocar, outros agem de forma
passional, por não conseguirem conter as emoções
quando excitados sobre algum tema.
Não é preciso procurá-los por muito tempo. Uma
espécie peculiar deles faz parte das páginas de
curtidores de clubes esportivos no Facebook. Esses
hooligans da internet se dizem torcedores, mas não
escondem a decepção com o desempenho dos próprios
times. Quando começam a desfiar seu repertório de
injúrias, também os outros usuários logo se espantam
com a rapidez com que o nível dos comentários pode
baixar, sobretudo em seguida a uma derrota.
Difícil de aguentar
Pior ainda é o que se encontra na página hatr.org,
que lista comentários realmente nocivos encontrados
em páginas de conteúdo sociopolítico. As principais
metas neste caso são os blogs antirracistas,
feministas ou homossexuais. Nesses contextos, os
trolls usam termos que na vida "normal" fariam com
que a pessoa que dissesse aquilo fosse processada de
imediato.
Há de tudo: de palavrões de conteúdo sexual e
degradante, passando por um vocabulário extremamente
violento e fantasias de violência, até idolatria de
Auschwitz e uma coleção de atrocidades. O hatr.org
alerta antes que o usuário abra a página: "O
conteúdo deste site pode desencadear lembranças
traumáticas e medo. É difícil de engolir... Favor
pensar bem se você quer mesmo se confrontar com
isso".
Mas o hatr.org não quer apenas apresentar as
obras completas dos freaks perturbados e com déficit
de atenção. "Queremos capitalizar os trolls, com
todo o sangue-frio", diz o site. "O dinheiro
recolhido, queremos disponibilizar para projetos
legais". Em uma de suas páginas, o site promete
investir o dinheiro por uma boa causa.
O designer de comunicação Stefan Krappitz
escreveu sua tese de doutorado sobre os trolls de
internet. Ele acredita que eles não possam mais ser
eliminados da rede. "São também mais velhos que a
própria internet", diz Krappitz à edição online do
semanário Die Zeit. E dispõem hoje de um
potencial artístico ou político. Mas suas ações
podem ser vistas como arte? Possivelmente, acredita
Krappitz. "Um bom troll não proporciona diversão
somente a si mesmo, mas a muita gente", completa.
Cultura do incômodo
Fato é que os trolls fazem parte da cultura de rede
como todo o resto. A internet é livre e não conhece
a diferença entre o bem e o mal, saber discernir
fica a cargo do usuário. O que determina a cultura
própria desses trolls é o fato de eles terem criado
uma linguagem própria, um código para uma
determinada rede, que está sempre se renovando.
E assim vão surgindo diversas subculturas. A
chamada trollface surgiu primeiramente em páginas
obscuras como o 4Chan - um palco para aficcionados
da rede de todos os tipos. Hoje já é até possível
obter um aplicativo deformador de rostos. Há as
histórias em quadrinhos com ragefaces, tirinhas que
nunca acabam bem e desembocam num sonoro "FFFFFFUUUUUU-".
Os trolls menos engraçados, que causam danos e
dor às outras pessoas, tampouco poderão ser expulsos
da rede. Por sorte, a maioria dos fóruns e blogs com
muito movimento conta com medidas de segurança. Os
posts são controlados por redações antes de serem
publicados e só aí são liberados. No Facebook,
certos termos são censurados. E se, vez por outra,
alguma frase imbecil escapa, trata-se, decerto, de
obra dos trolls de plantão.