Cor do vazioUm grupo internacional de físicos
descobriu que os saltos quânticos dos elétrons entre duas
nanopartículas de ouro podem mudar a cor do espaço vazio entre
as duas minúsculas esferas.
O experimento, que mostra a mecânica quântica em ação no ar a
temperatura ambiente, mas não dispensa a visão clássica do
mundo, estabelece limites fundamentais para o aprisionamento da
luz.
O fenômeno só ocorre quando as duas nanoesferas de ouro estão
muito próximas, a uma distância menor do que 1 nanômetro uma da
outra.
Ele foi identificado graças a uma mudança de cor no espaço
vazio entre as duas partículas, que passa do vermelho para o
azul.
Túnel do beijo
Quando um feixe de luz branca incide sobre o experimento, o
espaço minúsculo entre as duas esferas adquire uma cor graças às
interações dos elétrons na superfície das duas esferas.
O feixe de luz branca empurra os elétrons, fazendo-os
oscilar, o que dá uma cor vermelha ao espaço. Conforme as
esferas se aproximam, aumenta a concentração de elétrons,
intensificando a tonalidade vermelha.
Mas quando essa distância é reduzida ainda mais, os elétrons
começam a saltar de uma esfera para a outra, graças ao efeito
túnel - o tunelamento permite a troca de elétrons mesmo que as
duas nanoesferas não se toquem, um fenômeno explorado em
microscópios, transistores e sensores.
Essa troca de elétrons diminui a carga na superfície das
esferas, fazendo com que a cor do espaço entre elas passe do
vermelho para o azul.
"Nós pensamos nisso como a tensão se elevando entre um casal
romântico. Conforme seus rostos se aproximam, a tensão aumenta,
e somente um beijo pode descarregar essa energia," comparou o
professor Jeremy Baumberg, responsável pela parte experimental
do estudo.
A comparação tem suas limitações, já que as duas nanoesferas
de ouro nunca se "beijam" de verdade, já que sua distância
permanece a não menos do que 0,35 nanômetro.
Optoeletrônica e robôs
O estudo congregou algumas teorias muito inovadoras no campo
da mecânica quântica. Ele exigiu, por exemplo, a mesclagem da
visão clássica com a visão quântica da realidade.
"Modelar tantos elétrons oscilando nas partículas de ouro em
resposta a um feixe de luz é algo que não pode ser descrito com
nenhuma teoria existente," disse Javier Aizpurua, coordenador do
estudo.
Essa reinterpretação da interação entre luz e matéria em
escalas tão diminutas abre novas possibilidades de descrever e
medir o mundo em escala atômica, abrindo as portas para novas
estratégias para fabricação de dispositivos optoeletrônicos ou
para realização de experimentos no campo da fotoquímica.
Além disso, o experimento venceu vários desafios de
engenharia, que poderão ser aproveitados para estudar diversos
outros fenômenos, como a
força de Casimir, que impõe sérias restrições aos
MEMS e aos
robôs microscópicos.