Laser quenteUm exemplo clássico de como uma pesquisa
básica pode revolucionar o mundo, o
laser, inventado há apenas 50 anos, é hoje uma tecnologia
onipresente.
E poderá ser ainda mais importante, quando os engenheiros
construírem um novo laser proposto pela estudante Kathrin
Sandner, da Universidade de Innsbruck, na Áustria.
Sandner estava tentando reduzir o aquecimento de um tipo
especial de laser, chamado
laser de cascateamento quântico, quando se deu conta de que
o calor pode ser usado para gerar a emissão continuada de luz
coerente.
Em termos mais simples, um laser alimentado por calor, que
dispensa totalmente a eletricidade para gerar sua luz.
Laser de cascateamento quântico
Com toda a sua importância, os lasers atualmente cobrem
apenas uma pequena faixa do espectro eletromagnético - nem todos
os comprimentos de onda foram igualmente pesquisados até agora.
Por exemplo, na faixa do infravermelho distante e da
radiação terahertz, a luz coerente é emitida por lasers de
cascateamento quântico, que estão longe de serem eficientes
porque aquecem demais - e, quando o calor é excessivo, a emissão
do laser é interrompida.
Esses lasers são gerados por pilhas de várias camadas de
materiais semicondutores, cada uma com espessura muito precisa e
dopada com elementos diferentes.
"Os elétrons são transferidos através dessa estrutura em uma
série específica de processos de tunelamento e saltos
quânticos," explica o professor Helmut Ritsch, entusiasmado com
a descoberta de sua aluna. "Entre essas camadas, os elétrons
colidem com outras partículas, o que esquenta o laser.
Por essa razão, os lasers de cascateamento quântico só
funcionam quando são fortemente resfriados.
Elétrons, fótons e fônons
Sandner acredita que não precisa ser assim. Na verdade,
segundo ela, o aquecimento dos lasers de cascateamento quântico
não apenas pode ser evitado, como o próprio calor pode ser usado
para fazer o laser funcionar.
O truque consiste em "reverter" o aquecimento, o que pode ser
feito alterando com precisão a espessura das diversas camadas de
semicondutores.
"Uma parte crucial é separar espacialmente as áreas quentes e
frias do laser," diz a pesquisadora.
"Nesse laser alimentado por gradiente de temperatura, os
elétrons são termalmente excitados na área quente e então
tunelam para a área fria, onde os fótons são emitidos," explica
ela.
Ou seja, a energia do calor é absorvida - de uma fonte
qualquer - e simultaneamente reemitida na forma da luz.
"Entre as emissões consecutivas de partículas de luz, um
fônon é absorvido e o laser é resfriado. Quando levamos a ideia
adiante, vimos que a presença dos fônons é suficiente para
fornecer a energia para a amplificação laser," disse Sandner.
Resfriamento de chips
O professor Ritsch reconhece que será um desafio fabricar as
diversas camadas com tanta precisão, mas será um esforço que
valerá a pena.
Segundo ele, além de criar uma nova geração de lasers,
alimentados por calor, o princípio poderá ser usado para
resfriar processadores de computador.
"Além da elegância conceitual dessa ideia, abre-se uma forma
completamente nova de usar o calor dos microchips de uma forma
benéfica, em vez de precisar dissipá-lo por arrefecimento,"
propõe ele.