Jovens
latinos adoram tatuagens, mas governos não
Marcar
na pele um desenho que os acompanhará pelo resto da vida ou atravessar o
umbigo ou a língua com uma argola de metal não é algo que intimide os
jovens latino-americanos, mas a moda preocupa as autoridades e muitos países
aprovaram normas para regulamentá-la.
Prova do interesse que
esta forma de arte desperta no continente foi a Convenção Internacional
de Tatuagens e Arte Corporal, que, em meados de setembro, reuniu em Lima
meia centena de especialistas de França, Escócia, Estados Unidos,
Argentina, Uruguai, México, Chile, Venezuela e Peru, assim como centenas
de apreciadores e curiosos.
Também a capital
uruguaia sediou em outubro a Convenção Nacional de Tatuagem, com
convidados de Brasil e Argentina, na qual, além da troca
de modelos e técnicas,
foi realizada uma conferência sobre um tema que preocupa cada vez mais as
autoridades: as condições sanitárias em que
a atividade é praticada.
"No Uruguai, há
centenas de tatuadores e ninguém os controlava.
Nós mesmos pedimos às
autoridades uma regulamentação", disse à AFP Eduardo Sasía,
presidente da Associação Uruguaia de Artistas Corporais, que organizou a
reunião. "Alguns trabalham com seriedade, com material descartável
e esterilizadores, mas na realidade nada nos obriga a fazer assim",
acrescentou.
Chile, Uruguai e México
foram alguns dos países que no último ano aprovaram normas que proíbem
tatuagens ou piercings em menores de 18 anos, a menos que contem com
autorização expressa de seus pais. As leis obrigam ainda os tatuadores a
obter autorização sanitária, a fim de evitar o risco da propagação de
infecções como a hepatite B ou mesmo o Vírus da Imunodeficiência
Humana, HIV, responsável pela aids.
No México, a cada ano
mais de 30 mil jovens tatuam ou perfuram o corpo, e mais de 150 mil
pessoas se dedicam a fazer tatuagens ou perfurações. Mas, até 2001, 85%
deles operavam clandestinamente, sem contar com medidas sanitárias mínimas
nem pagar impostos, segundo uma investigação do Partido da Revolução
Democrática (PRD, esquerda), divulgada há três anos.
No entanto, o tatuador
Miguel Cicatriz, proprietário de um estúdio na Cidade do México,
mostrou-se cético quanto à lei aprovada em março em seu país. "Vêm
sendo expedidas permissões para as pessoas que trabalham nas ruas, e acho
que isso é injusto, pois essas pessoas não cumprem as medidas de higiene
que nós aplicamos", disse.
O especialista disse que,
há 20 anos, quando teve início a moda dos piercings no México,
"colocar uma argola no nariz era uma atitude contestatória. Mas
atualmente, usar uma argolinha no nariz é algo bastante feminino".
Mas o que em alguns países é uma questão de moda, em outros pode ser
perigoso. Na América Central, as tatuagens são vistas como sinal de que
a pessoa pertence às quadrilhas de delinqüentes juvenis, o que pode
acarretar problemas com a polícia.
Mas as leis, as detenções
e os riscos de se contrair uma infecção não parecem suficientes para
dissuadir o crescente número de jovens decididos a seguir a moda e
adornar o corpo.
AFP
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