Lá pelos idos de abril de 1999,
assisti ao lançamento de um produto bastante original. Em princípio,
era um programa tradutor. Mas apresentava duas características
que o diferenciavam de seus concorrentes. A primeira era o modo
pelo qual identificava a palavra ou expressão a ser traduzida, um
método proprietário de OCR (Optical Character
Recognition ou reconhecimento ótico
de caracteres) que “lia” o texto diretamente na tela, o que o
tornava compatível com qualquer programa: bastava pousar o cursor
do mouse sobre a palavra e acionar uma tecla de atalho para
traduzir a palavra. A segunda era o fato de ser grátis, bastando
baixar da internet (de www.babylon.com)
e instalar. Era o Babylon.
Semana passada, entrevistei Alex
Azulay, presidente e CEO da Babylon, e perguntei como era possível
oferecer um bom programa por tantos anos sem cobrar nada dos usuários
(o programa permaneceu gratuito de 1997, data do lançamento da
primeira versão que não incluía o português, até 2001). E ele
me contou uma história interessante.
O Babylon foi desenvolvido e lançado
em Israel, onde fica a sede internacional da empresa. A versão
inicial fazia apenas a tradução do inglês para o hebraico e
vice-versa. Mas a grande sacada do programa é seu método de
entrada, o dispositivo OCR que “pega” o texto da tela,
evitando incompatibilidades com formatos de arquivos. Com ele nas
mãos, bastou incluir novos dicionários para ampliar a base de
idiomas. Hoje, ele abrange 25 dicionários e glossários em 13
idiomas, incluindo chinês, holandês, francês, alemão,
italiano, japonês, russo, espanhol e sueco, além do inglês,
hebraico e português – cada um deles com mais de três milhões
de palavras.
Não obstante isso, o produto era
oferecido de graça. Como pode? Bem, segundo Alex, a idéia
inicial era sustentar a empresa com a receita obtida da
publicidade que seria incluída nas janelas do programa. Ilusão
que perdurou até 2000, quando eclodiu a crise das “pontocom”
e a bolha estourou.
Caso brasileiro
Nessa altura dos acontecimentos,
já com mais de 12 milhões de usuários cadastrados, a empresa se
deu conta de que precisava mudar sua estratégia de fazer
dinheiro. Como tinha nas mãos um bom produto, acreditou que os
usuários estariam dispostos a pagar por ele desde que o custo
fosse razoável. E em 2001 começou a comercializá-lo sob duas
formas diferentes: licença de uso permanente, que hoje (no
Brasil) custa R$ 143, e uma assinatura anual a R$ 71 (quem prefere
a assinatura anual tem direito a atualização gratuita caso seja
lançada nova versão; quem compra a licença não). E seguiram
adiante.
A experiência mostra que a base
de usuários de produtos originalmente gratuitos costuma encolher,
quando passam a ser cobrados. A do Babylon cresceu. Na verdade,
dobrou. Hoje são 24 milhões, dos quais quase dois milhões e
meio estão no Brasil, seu segundo maior mercado (o primeiro é a
Alemanha), o que fez com que fosse criada uma representação
local que pode ser visitada em www.babylon.com.br.
Mas, segundo Azulay, a mudança
de estratégia não se resumiu a isso. Ela incluiu também o lançamento
de novos produtos (todos baseados no mesmo OCR engine) e a
incorporação do chamado “conteúdo premium”, criado mediante
parcerias com os principais editores de dicionários e provedores
de conteúdo, como Larousse e Michaelis.
Com ele, mediante um valor
adicional (da ordem de R$ 30), o usuário tem acesso ao conteúdo
completo das publicações oferecidas (no caso da versão em
português, os dicionários Michaelis de português e espanhol).
Sem falar nas soluções corporativas, que permitem a adição de
glossários especificamente ligados às atividades da empresa e o
uso do método de acesso do Babylon para consultar os bancos de
dados da empresa (ou seja: clique sobre o nome de um cliente na
tela de qualquer aplicativo e obtenha imediatamente sua ficha
cadastral, por exemplo).
A versão corporativa foi adotada
por empresas internacionais do porte Lufthansa, Cisco Systems,
Motorola, Philips, Sony, Bayer, Ford e até mesmo, quem diria,
Oracle e Microsoft. Além da Petrobras, aqui na terra. E o Babylon
Pro, para uso individual, continuou sua carreira bem-sucedida. Com
isso a Babylon cresceu. E o programa continuou evoluindo. Prova
disso é o lançamento da versão Babylon 5.0, cujo desempenho
motivou a visita de Alex Azulay ao Brasil.