Cristopher Drew
Os soldados se agacharam sob o sol escaldante do deserto, aguardando para irromper num vilarejo de condições similares às encontradas no Iraque e Afeganistão. Mas, dessa vez, eles contavam com ajuda de alta-tecnologia, num exercício militar com a intenção de testar novos aparelhos, operados pelos próprios soldados, que podem diminuir o perigo dessas desgastantes missões no futuro.
Com o início do ataque simulado desta ampla base militar, os pequenos veículos teleguiados passaram a pairar pelas janelas das casas do vilarejo observando insurgentes reunidos.
Pequenos robôs - como o R2-D2 de Guerra nas Estrelas - atravessaram algumas das portas, transmitindo ao vivo a posição dos inimigos alarmados. Sensores eletrônicos instalados nas proximidades checavam as rotas de fuga. E uma bateria de mísseis de 1,8 m se mantinha em alerta à distância no deserto, para destruir veículos que tentassem chegar para ajudar os insurgentes.
"Quando estava no Iraque, nós não conseguíamos enxergar o que estávamos atacando", conta o especialista Randall Thompson, que opera os robôs. "Mas com este equipamento, podemos pelo menos dar uma olhada".
O exército tenta distanciar essa iniciativa relativamente pequena, que ainda enfrenta dificuldades técnicas, da sombra de um programa mais amplo recentemente cancelado, que criava uma força armada verdadeiramente moderna, com uma nova geração de veículos de combate e uma vasta rede de comunicação sem fio.
Embora os grandes equipamentos tenham voltado para a mesa de projetos, oficiais do exército afirmam que essas tecnologias menores podem em pouco tempo fazer diferença para soldados em missões de caçada a insurgentes, consideradas mais perigosas.
O novo equipamento, em desenvolvimento pela Boeing e outros fornecedores, tem estimativa de custo de quase US$ 2 bilhões para as primeiras sete brigadas. Cada uma tem ao menos três mil soldados, com previsão de que o equipamento esteja em campo daqui a cerca de dois anos. Até 2025, o exército planeja equipar e melhorar todas as suas 73 brigadas reservistas e em operação.
As mudanças são um exemplo de uma mudança nos contratos do Pentágono visando a melhorias graduais e a um maior uso de tecnologias comerciais. Como exemplo, a iRobot, empresa de Massachusetts que desenvolve robôs de usos domésticos e industriais, está construindo os robôs do exército.
Oficiais afirmam que os novos aparelhos ajudarão na transformação das mais básicas brigadas de infantaria, que carregaram nos ombros a maior parte dos combates de ambas as guerras, mesmo tendo menor proteção e poder de fogo que unidades blindadas.
As aeronaves teleguiadas se parecem com cortadores de grama voadores, do tamanho de um barril de cerveja, e pousam sobre quatro pés de arame curvado. Com as câmeras de reconhecimento desses aparelhos, os mísseis de lançamento terrestre, chamados de "foguetes encaixotados", poderão ser usados por soldados para a destruição de forças hostis a mais de 30 km de distância, sem a necessidade de pedir o apoio de unidades de artilharia ou outra aeronave, segundo oficiais do exército.
Os robôs também podem fazer buscas em cavernas e carros em postos de checagem perigosos. E sensores podem cuidar de postos avançados e monitorar áreas livres de insurgentes, liberando mais soldados para o combate.
"Acredito que a diferença vai ser enorme", disse em entrevista o tenente-general Stephen M. Speakes, vice-chefe do estado-maior do exército.
O coronel Lee Fetterman, que está ajudando a supervisionar os testes, disse que as novas tecnologias são "métodos de transferir o risco de soldados a máquinas, algo do qual todos somos a favor".
O secretário de Defesa, Robert Gates, interrompeu a iniciativa mais ampla de modernização do exército, chamada Sistemas de Combate do Futuro, em junho. Sua preocupação envolvia potenciais aumentos de custo - podendo chegar a até US$ 160 bilhões - e havia dúvidas se os novos veículos de combate propiciariam proteção suficiente contra bombas artesanais em estradas.
Em comparação a aquela visão mais ampla, "parece que muitas expectativas foram reduzidas a algo bem menor", disse o deputado democrata Neil Abercrombie, do Havaí, que chefia o subcomitê da Câmara que supervisiona o exército.
Gates, que ordenou o exército a levar os veículos de combate de volta à prancheta de desenhos, e líderes no Congresso como Abercrombie pressionaram os militares a disponibilizar as melhorias para a infantaria o mais rápido possível.
Assim, 1.150 soldados, a maioria com experiência no Iraque ou Afeganistão, têm testado o maquinário em Fort Bliss e na área de testes de mísseis de White Sands, onde a combinação de deserto, montanhas e temperaturas de 38° reproduzem as condições dos atuais combates.
A maior parte dos soldados está entusiasmada com as novas capacidades. Algumas unidades do exército já operam pequenas aeronaves e robôs portáteis capazes de desarmar bombas caseiras, enquanto o operador fica a uma distância segura. Mas os novos veículos teleguiados, desenvolvidos pela Honeywell, são projetados para flutuar como helicópteros sobre um ponto crucial do campo de batalha, ao invés de voarem em círculos amplos. E se um esquadrão de ataque precisar, por exemplo, arremessar o robô de 16 kg através de uma janela, e ele acabar caindo de cabeça para baixo, ele será capaz de se virar e iniciar a transmissão do vídeo.
Os sensores, desenvolvidos pela Textron, enviam alertas e imagens do campo ou do interior de edifícios. Um dispositivo, que pode ser enterrado próximo a uma estrada, pode até discernir entre a aproximação ou passagem de homens, caminhões e tanques por meio de leituras sísmicas.
Os mísseis de precisão podem representar um grande avanço. Quinze deles cabem em um lançador do tamanho de uma geladeira. Eles estão sendo projetados pela Raytheon e Lockheed Martin para sobrevoar ou contornar morros e montanhas, corrigindo seu curso durante o voo. As ogivas devem ser poderosas o bastante para destruir um tanque em movimento, tornando as brigadas de infantaria mais potentes do que nunca.
Mas alguns dos sistemas possuem falhas óbvias. Mesmo a centenas de metros de altura, o barulho das aeronaves lembra um cortador de gramas, e a Honeywell está estudando formas de abafar o som. Durante os testes, os soldados também sugeriram mudanças, como reprojetar os sensores de campo para torná-los menos perceptíveis.
E, segundo oficiais do exército, será a capacidade, ainda em desenvolvimento, de conectar todos esses sistemas através de meios de comunicação sem fio que garantirá o maior avanço.
Nos testes, os soldados em controle das aeronaves, robôs e sensores recebiam um vídeo em seus laptops ou outros aparelhos. Mas a rede não tem banda ou alcance suficiente para enviar mais do que fotografias para os líderes de pelotão em Humvees e, de lá, para o quartel-general.
Até mesmo as fotos chegam a ser um grande avanço em comparação às comunicações em uso, que são principalmente de dados e voz. Mas o Exército espera que um rádio novo e sofisticado, cujo desenvolvimento esbarrou em atrasos custosos, esteja pronto para estender a capacidade de vídeo da rede até o novo equipamento começar a ser produzido em 2011.
Uma agência de fiscalização do Congresso alertou que o exército está assumindo um risco ao testar o restante do equipamento sem que o transmissor de rádio esteja pronto. Mas oficiais do exército dizem que estão dispostos a arcar com as consequências para acelerar a implantação dos novos dispositivos.
"É como diz o ditado: uma imagem vale mais do que mil palavras", disse o tenente-coronel Kevin D. Hendricks, comandante de batalhão envolvido no recente exercício.
"Se conseguirmos antecipar um alerta de que um blindado está vindo pela estrada e atingirmos esse veículo com uma munição de precisão antes de meus soldados entrarem em contato com ele, essa é uma maneira que gostaria de lutar todas as guerras", acrescentou.
Tradução: Amy Traduções
The New York Times