Bonifácio bilhões (Boni)

Num dos raros momentos, Boni fala da vida pessoal,
diz que ainda sonha em comprar o SBT, mas está feliz
com a estréia da sua tevê Vanguarda

Aziz Filho e Eliane Lobato

A compra e instalação de uma afiliada da Rede Globo por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, tem provocado um frisson na mídia na mesma proporção do surgimento de um magnata da comunicação. Com este exagero vem se noticiando a inauguração de sua emissora, a Vanguarda, prevista para estrear oficialmente no sábado 20. Trata-se de uma retransmissora com 46 estações no Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo, região com cerca de dois milhões de habitantes. “É uma redezinha”, desdenha ele. Aos 67 anos, Boni diz enfrentar com prazer o novo desafio.

ISTOÉ – A Vanguarda está provocando tanto estardalhaço porque é a televisão do Boni?
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho –
O estardalhaço é porque há um certo desejo de que realmente a gente mexa um pouquinho na televisão brasileira como um todo. Mas não é o caso. A Vanguarda é uma estação pequena.

ISTOÉ – Ela não é muito pequena para a dimensão do Boni?
Boni –
Não é minha. Meus filhos é que vão mexer com a Vanguarda. Minha função maior é colocar no ar. Daí para diante, eu passo a atuar apenas como consultor.

ISTOÉ – O sr. espera parar na Vanguarda ou é possível
que as pessoas se surpreendam com o anúncio de que
Boni comprou o SBT?
Boni –
Tive o cuidado de me separar da Vanguarda, tanto que não
sou acionista. Quando você adquire uma afiliada da Rede Globo, há
uma cláusula de fidelidade. Ficou claro para a Globo que não tenho nenhum vínculo com a empresa, o que me deixa livre para
eventualmente tocar um novo projeto.

ISTOÉ – De zero a dez, qual é a possibilidade de esse “eventualmente” se concretizar?
Boni –
No momento, eu diria que é zero porque não basta ter o desejo.
É preciso ter a oportunidade.

ISTOÉ – Isso gera frustração pessoal?
Boni –
Não. Enquanto há esperança não há frustração.

ISTOÉ – Sua fama na Globo era péssima. Seus memorandos e gritos causavam tremores. Depois que o sr. saiu, parece ter virado “santo” e só se fala dos “bons tempos” do Boni.
Boni –
O grito era folclórico. Os memorandos duros eram precisos, objetivos, para criar normas, procedimentos. As pessoas sabiam que tinham de fazer bem, não para me agradar, mas sabendo que eu iria avaliar. O receio não era da pessoa do Boni, mas do avaliador. Construí uma convivência amigável. Não é que virei um santo. Acho que, depois
da primeira impressão de alívio, sentiram falta.

ISTOÉ – Se não tivesse ido trabalhar em televisão, qual
profissão teria escolhido?
Boni –
Gosto de medicina. Leio bula, tenho um dicionário de especialidades farmacêuticas no escritório e no computador, mas não sou hipocondríaco. Também não sou médico, mas em caso de emergência me apresento como tal. Sou um charlatão.

ISTOÉ – Esse charlatanismo já foi útil alguma vez?
Boni –
Lá na Ilha da Jipóia (Angra dos Reis), onde tenho casa, às vezes não tem um médico à mão e sou obrigado a me virar. Uma vez um cachorro mordeu a boca de uma menina e eu fui lá costurar. Aprendi um pouquinho com o dr. Ivo Pitanguy, que é um improvisador incrível. Eu já o vi costurar gente com um anzol. Transformava o anzol em agulha e costurava. Costurei a menina com os apetrechos certos porque tenho tudo em casa: bisturi, linha, tudo. Dei uma costuradinha e depois mandei a menina para o dr. Ivo dar um retoque, um acabamento.

ISTOÉ – Como vai sua saúde?
Boni –
Eu me cuido. Faço check up, alguns procedimentos a cada três anos. A saúde está bem, dá para encarar uma nova televisão. Se for o caso, uma rede mesmo.

ISTOÉ – A Vanguarda conta com investimento de R$ 12 milhões.
Foi do seu bolso?
Boni –
Não. Nós pegamos empréstimo em banco, como todo mundo faz. Imaginamos que poderemos pagar em torno de cinco anos.

ISTOÉ – Roberto Marinho fundou a Rede Globo quando tinha 60 anos. O sr. está com 67. Dá para começar uma nova Globo?
Boni –
Dá. Dá para começar uma nova rede porque não é
um trabalho solitário. É trabalho coletivo, tem gente boa, vai
ter gente boa no mercado.

ISTOÉ – O sr. pensa na morte?
Boni –
Com 32 anos achei que fosse morrer. Sempre tenho a visão
de que estou exposto. Tenho saúde ótima, sou homem de movimento, ativo, mas, como tive uma vida difícil e desregrada, qualquer hora
acho que posso ir embora.

ISTOÉ – Desregrada como? Vinho demais?
Boni –
Vinho faz bem para a saúde. Desregrado é não ter horário, ficar gravando dois ou três dias sem dormir, comendo mal.

ISTOÉ – Naqueles anos, era comum o uso de drogas por altos executivos para ficar acordados. O sr. já cheirou cocaína?
Boni –
Nunca.

ISTOÉ – Nem fumou maconha?
Boni –
Não. Minha droga é a televisão mesmo. Sempre gostei da minha lucidez, da minha consciência. É postura. Nunca pude pensar em ficar incapaz de tomar uma decisão, fazer alguma coisa. Nem de uísque eu gostava. Sempre fui muito ansioso. Minha brincadeira é vinho, cerveja, que têm baixa dosagem alcoólica e eu bebo com prazer. Quanto às drogas, não sou juiz de ninguém, cada um faz o que quer. Mas eu não gosto, não me sinto confortável.

ISTOÉ – Consta que o sr. era assediado por mulheres bonitas, que teve casos com as atrizes mais desejadas. É verdade?
Boni –
Isso é folclore. Para elas, não adiantaria nada porque eu sempre elegi o talento como fundamental para crescer. Eu me casei três vezes. O primeiro casamento durou quatro anos; o segundo, 15, e estou com a Lou há 17. É evidente que, nos intervalos desses casamentos, sempre tive namoradas, atrizes, não atrizes, gente do meio, gente de fora. Mas nós elegemos como droga, namorada, e objetivo de vida, a televisão.

ISTOÉ – O sr. é vaidoso?
Boni –
Sou relaxado. Minha mulher reclama o dia inteiro. A Lou é
muito engraçada. Ela me fez jurar que, se por acaso ela morrer,
não vou sair para a rua sem fazer a barba, sem cortar o fio da sobrancelha ou sem abotoar a camisa.

ISTOÉ – Já fez plástica?
Boni –
Já. Não fiz com o dr. Ivo porque ele é muito amigo, tem essa
coisa de não cobrar dos amigos e eu fico constrangido. Fiz com o Paulo Müller. Não foi por vaidade, acho que foi por questão de saúde. Fiz um lifting de leve para não ficar muito esticado. É porque estava ruim,
tinha que dar uma ajeitadinha.

 

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