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Da
contracultura à menopausa
Como envelheceram as mulheres que fizeram a revolução
Aos
vinte e poucos anos, Selma Ciornai se reunia com outras mulheres do movimento
Women's Lib (libertação das mulheres) para desmistificar o prazer sexual
feminino. Compartilhando o conhecimento de ídolos da sexologia como Shere
Hite e Masters e Johnsons, Selma e suas amigas trouxeram à tona a liberdade
sexual e fizeram muito barulho. Passados 30 anos, com a carreira de psicóloga
estabelecida e já na menopausa, ela se reúne novamente com outras mulheres
que participaram do movimento da contracultura para compreender a nova fase da
vida. Por que a menopausa tem tanto peso em suas vidas? Por que elas não se
sentem aptas para desfrutar do prazer do relacionamento e da liberdade sexual
que tanto buscaram? O resultado da pesquisa está publicado no livro Da
Contracultura à Menopausa, da mesma autora, pela editora Oficina de Textos.
A geração que questionava os valores de sua época e dizia que não se pode
confiar em ninguém com mais de 30 anos envelheceu. Mas continua se deparando
com os mesmos problemas de quando tinha vinte anos, como o prazer sexual. Por
que as mulheres, quando estão prestes a parar de menstruar para sempre, se
sentem como se sua feminilidade tivesse diminuído? Por que internalizaram
tanta discriminação?
A psicóloga afirma que ninguém deveria se acomodar e deixar de buscar
companheiros. "A menopausa é uma fase difícil mas compartilhar os
sentimentos com outras pessoas que sintam o mesmo ajuda a se valorizar e se
sentir desejada", incentiva Selma. Segundo ela, ninguém deve abdicar de
sua sexualidade e de sua afetividade nessa fase da vida. Selma arrisca que o
início do preconceito pode estar, entre outras coisas, na associação entre
beleza, sexo e fertilidade, feita pela cultura ocidental.
Como resposta para os preconceituosos, Selma cita a hipótese do fisiologista
americano Jared Diamond, que diz que a fêmea humana é uma poucas das espécies
de mamíferos que continua vivendo e transando mesmo depois de ter perdido a
condição de fazer filhos. Gatas e cadelas não têm menopausa. Elas procriam
até a morte porque os filhotes dependem pouco delas e sobra-lhes mais tempo
de vida para procriar. Jared Diamond sugere que o fim do ciclo fértil e o
papel feminino depois da menopausa se justifica pela necessidade humana de não
apenas dar à luz aos filhos mas garantir a preservação da espécie pela
transmissão dos valores da cultura.
Essa hipótese não atribui à mulher o mero papel de avó ou de educadora,
transmissora de memórias. O fato das mulheres continuarem capazes de
desfrutar do sexo mesmo depois de cessar o ciclo menstrual não está à toa.
"Curiosamente, a natureza presenteia a mulher na menopausa com mais tempo
para o prazer da intimidade, do afeto e do sexo", diz Selma, com mais uma
possível interpretação sobre a tese de Diamond.
Os mecanismos de prazer não mudam com a idade, apenas o corpo físico
envelhece. Segundo Selma, a capacidade de dar carinho, afeto e de ser íntimo
um do outro só melhora, não com a experiência, mas, pelo menos, com o
amadurecimento. "As mulheres mais velhas já se machucaram muito em seus
relacionamentos e algumas delas aprenderam com a experiência. Tiveram mais
tempo para se dedicar a pensar seus erros e acertos nas relações afetivas e
o fizeram. Ficaram mais sábias, compassivas e com menos medo da
entrega", opina Selma.
Para saber mais:
Why women change?
Leia no link abaixo, o
artigo de Jared Diamond (em inglês) publicado na
Discover_Magazine,
July, 1996:
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