A importância de ser homem

Professor da University College London, o britânico Steve Jones, o mais respeitado geneticista da atualidade, é autor do livro sobre o cromossomo masculino Y: A Linhagem dos Homens. Na quinta-feira passada, o editor Eduardo Salgado falou com Jones pelo telefone e colheu dele o seguinte relato:

"Depois do lançamento do meu livro, houve uma descoberta inesperada. Há cerca de dois meses, o geneticista David Page publicou um trabalho que descreve grandes seqüências de DNA invertidas e repetidas no cromossomo Y. Antes desse trabalho, tudo o que sabíamos sobre o Y era que se tratava de um cromossomo com um gene muito importante, que é o que faz os machos. Quase todo o resto não fazia nada. A maioria servia para manter o cromossomo vivo. Page descobriu que há mais genes. Talvez sessenta ou setenta, o que ainda é pouco. Descobriu também que há grandes segmentos de DNA, que estão presentes como genes repetidos. Um é o espelho do outro. Não apenas com quatro letras, mas com milhões. Se o Y está mesmo em decadência, por que teria tantas cópias tão perfeitas? É uma pergunta que faz sentido. Por que não acumulam erros e mutações? A única resposta é: não sabemos. Page tem uma hipótese que é a seguinte: se alguma vez acontece uma alteração, os genes voltam, de alguma forma, ao que eram antes.

Não acredito que os machos da espécie humana vão desaparecer. A evolução mostra que, uma vez que aparecem na natureza, é bastante difícil se livrar dos machos. No reino animal, várias espécies, como répteis e anfíbios, se tornaram inteiramente femininas, mas geralmente não vão longe. Param de se diversificar e tendem à extinção.

Claro que podemos fazer alguns cenários pouco realistas, mas possíveis. Um mundo com menos machos, por exemplo. Afinal, pode-se engravidar todas as mulheres da Europa com a ejaculação de um único homem. Dito isso, acho que não será possível renunciar totalmente aos machos para procriação. É preciso lembrar do poder que uma boa noite de sexo tem, a terapia do desejo. O desaparecimento do cromossomo Y não quer dizer que os homens serão varridos da Terra. Os pássaros machos não têm o cromossomo Y. O mesmo acontece com crocodilos.

As previsões do fim do cromossomo Y estimam que isso ocorra em milhões de anos. Não podemos esquecer que a espécie humana existe há apenas alguns milhares de anos. Estamos fazendo estimativas de longuíssimo prazo. Algo entre 5 e 10 milhões de anos. Particularmente acho que em 5 milhões de anos não haverá mais humanos sobre a terra. Ou seja, a existência do Y não fará a menor diferença. Se falarmos de forma racional acerca do futuro, sobre os próximos 1.000 anos, tenho muito mais medo de Albert Einstein do que de Charles Darwin. A estupidez dos machos é muito mais um motivo de preocupação. O problema é o holocausto causado pela bomba atômica. É isso que pode acabar com os homens e, infelizmente, com as mulheres também".

Veja-online

 

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