Lançada sonda européia que vai estudar a Lua

Will Knight *,

Da New Scientist
Gisele Ribeiro,
Do UOL

A ESA, agência espacial européia, acaba de lançar sua primeira missão à Lua. Às 19h02 (horário de Brasília), o foguete Ariane 5 partiu do espaçoporto europeu em Kourou, na Guiana Francesa, levando o conjunto Smart-1, composto por uma sonda científica e por um satélite comercial.

O Smart-1, sigla em inglês para Pequena Missão de Pesquisa Avançada em Tecnologia, levará cerca de 15 meses para chegar à Lua, testando um sistema de propulsão solar-elétrica que poderá ser usado em missões futuras de longa distância. Na chegada à Lua, a sonda entrará em órbita polar do satélite, o que vai permitir que observe a superfície lunar de todos os ângulos.

A sonda então passará seis meses vasculhando a superfície lunar em busca de sinais de água congelada, e mapeará a distribuição dos produtos químicos e minerais presentes na superfície.

"A despeito de décadas de pesquisa, não conseguimos jamais descobrir completamente de que a Lua é composta", diz Manuel Grande, do Laboratório Rutherford Appleton, no Reino Unido, responsável pela construção do espectrômetro de raios-X instalado na sonda.

As missões Apollo norte-americanas ofereceram oportunidades de analisar apenas áreas limitadas da Lua, perto da linha equatorial do satélite. Mais recentemente, a sonda Lunar Prospector, da Nasa (a agência espacial americana0, usou um espectrômetro de raios gama para criar um mapa lunar completo da presença de metais pesados como o ferro na superfície do satélite.

O Smart-1 tem por objetivo completar esse retrato. Seu instrumento de pesquisa na banda dos raios-X determinará a distribuição de metais como o magnésio, alumínio e silício. Esses materiais produzem raios-X diferenciados depois que absorvem a luz solar.

Apostolis Christou, astrônomo e pesquisador do Observatório de Armagh, na Irlanda do Norte, diz que esse é o aspecto mais importante da missão Smart-1.

"Precisamos desse quadro completo, a fim de testar a teoria de que a Lua no passado remoto esteve recoberta por um oceano derretido", disse Christou à "New Scientist".

As observações em raios-X também poderiam oferecer o primeiro vislumbre de uma espécie de rocha da Lua -conhecida como manto lunar- que talvez esteja exposta na superfície do satélite, naquela que é considerada a maior das crateras do Sistema Solar.

Um quadro mais completo quanto à composição mineral da Lua poderia ajudar a confirmar a teoria de que a Lua se separou da Terra devido a uma imensa colisão com um objeto do tamanho de Marte, no passado distante.

Jato azul

Outro espectrômetro será usado para procurar pela assinatura infravermelha de água congelada escondida nas sombras das crateras lunares. Esse instrumento pode também detectar o dióxido de carbono e o monóxido de carbono congelados presentes na superfície da Lua.

Um aspecto importante desse projeto é que a presença de água congelada na superfície poderia oferecer uma fonte de abastecimento para a instalação de bases permanentes na Lua.

Já durante o seu percurso em direção à meta, a sonda não estará ociosa. O espectrômetro de raios-X será dirigido a cometas brilhantes observados ao longo do trajeto, a fim de testar a teoria de que o vento solar tem a capacidade de excitar os gases que cercam esses corpos misteriosos, fazendo com que emitam raios-X.

Em sua longa jornada pelo espaço, a sonda de formato cúbico testará um revolucionário sistema de propulsão elétrica. A energia elétrica gerada pelos painéis solares da espaçonave será usada para estimular o gás xenônio, que por sua vez gerará empuxo por meio da emissão de um jato azul de íons.

Os sistemas de propulsão iônica são menos poderosos do que os foguetes químicos convencionais, mas podem funcionar por até 10 vezes mais tempo, com o uso de massa semelhante de propelentes. Isso torna possível atingir o objetivo de uma viagem com um propulsor muito menor, o que reduz dramaticamente os custos gerais de lançamento.

A sonda Smart-1 é minúscula, se comparada a muitas espaçonaves. Pesa 367 quilos e mede um metro de aresta, ainda que seus painéis solares, quando plenamente estendidos atinjam um comprimento de 14 metros.

A missão é parte de uma campanha da Agência Espacial Européia para reduzir o custo e a complexidade de seus projetos espaciais. Essas missões serão todas identificadas pela sigla Smart [inteligente], ou Small Mission for Advanced Research in Technology.

Viagem científica

Uma equipe multinacional de cientistas e engenheiros usará a Samrt-1 para conduizir diferentes pesquisas e testar novas técnicas para missões espaciais.

Sistemas EPDE e Spede - esses instrumentos vão monitorar o sistema de propulsão solar-elétrica da sonda, que permite à nave se deslocar pelo espaço a partir da interação com os fenômenos elétricos e magnéticos naturais que ocorrem ao seu redor. O EPDE e Spede vão analisar os efeitos dessa interação, como erosão de superfícies, curtos-circuitos provocados por fagulhas, interferência nos sinais de rádio, acúmulo de poeira e desvio de direção.

KaTE e RSIS - pequenas alterações nos movimentos da Smart-1 vão revelar a precisão do sistema de propulsão iônica. Como radares de velocidade, o RSIS vai usar o efeito Doppler para ver como a velocidade altera o comprimenhto de onda dos pulsos de rádio. Ele vai usar as ondas curtas do KaTE. O objetivo inicial do KaTE é demonstrar a próxima geração de links de rádio entre a Terra e as espaçonaves lançadas para longe. Microondas na banda Ka, com cerca de 9 mm de comprimento, podem ser comprimidas em raios de luz relativamente estreitos pelas antenas da sonda.

Laser Link - experimento de comunicação de satélites de telecomunicações com a Terra. O objetivo é testar esse contato com a Terra por meio de raio laser.

Oban - espaçonaves futuras serão mais auto-suficientes no seu direcionamento pelos caminhos pré-definidos para destinos distantes. O Oban vai avaliar a técnica computacional para navegação de bordo autonôma, usando como orientação estrelas, Terra, Lua e possivelmente asteróides visualizados pela câmera Amie.

Amie, SIR e D-CIXS - diferentes tipos de luz visível e invisível vinda da superfície lunar poderão fornecer pistas sobre a composição química e geológica do satélite. A Amie é um câmera ultra-compacta que pesquisará o terreno lunar tnato na luz visível quanto na quase-infravermelha. SIR, um espectômetro de infravermelho, vai mapear os minerais da Lua, e o telescópio de raio X D-CIXS vai identificar os elementos químicos-chave da superfície lunar.

XSM - instrumento que vai monitorar a emissão de raios X do Sol e estudar as variações solares.

Spede - experimento elétrico que vai observar os efeitos da corrente ininterrupta de partículas eletricamente carregadas deixadas pela lua nos ventos solares.

RSIS - em conjunto com o sistema KaTE e a câmera Amie, esse experimento de ráido vai demonstrar um novo modo de medir as rotações dos planetas e de suas luas.

 

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