Juntando os pedaços

Sexóloga afirma que é possível reconstruir uma relação

* Por Maria Helena Matarazzo

As relações têm bons e maus momentos. E, às vezes, nas horas difíceis, os parceiros ficam sem saber o que fazer. O desgaste é enorme, pois as toxinas pairam no ar e tudo é motivo para agressões. Continuar ou acabar? Não é fácil recuperar um relacionamento, mas é possível. Descobrir as causas dos problemas é o passo inicial do processo de reconstrução.

Não é difícil perceber quando uma relação começa a destilar toxinas psicológicas. O cheiro de veneno paira no ar. Qualquer comportamento de um dos parceiros dá margem a respostas agressivas, que por sua vez detonam mais provocações. O importante é saber se uma relação imperfeita é apenas imperfeita ou totalmente irrecuperável.

É preciso ter consciência dos sintomas de um relacionamento venenoso para poder desintoxicá-lo. Um dos indícios mais comuns é o sentimento de impotência e de desesperança. Impotência significa falta de poder para mudar o que precisa ser mudado. Essa sensação se parece com uma queda emocional em parafuso, na qual você pensa ter perdido o controle de si mesmo e dos problemas na relação. Essa caída o faz sentir-se submergindo e incapaz de encontrar uma solução.

Por outro lado, o desespero leva-o a acreditar que seu relacionamento, sua vida, nunca vai mudar. Essa percepção de que se encontra num beco sem saída, ou "quase sem saída", cria um círculo vicioso. O começo de um processo para desintoxicar um relacionamento é eliminar as emoções negativas e procurar alimentar as positivas. Isso evita que as relações naufraguem em águas rasas.

É preciso reconhecer que reconstruir uma relação é um processo. Você deve ver as soluções dos seus problemas como algo contínuo e não acreditar simplesmente no "tudo ou nada". Isso implica aprender a avaliar o relacionamento em termos relativos e pensar: " Como era antes e como está agora? " . Toda relação de amor tem seus momentos melhores e piores. Pode ser comparada à conta corrente no banco, em que o saldo ora está mais alto, ora está mais baixo, e às vezes assustadoramente no vermelho.

Uma das grandes pressões que os relacionamentos tóxicos produzem é essa dúvida entre ficar na relação, tentando mudá-la para melhor, ou cair fora e suportar a dor desconhecida que essa separação pode trazer. "V ale a pena continuar tentando mudá-la, ou o melhor é acabar com tudo? " . O ir e vir pode dar a impressão de que você se encontra naquela escolha proverbial entre "o diabo que você conhece ou o diabo que você desconhece". Isso pode fazer uma pessoa apavorar-se e ficar paralisada, sem ação. Na verdade, você não se sente sem esperança porque não existe solução, mas, sim, "acredita que não exista solução precisamente porque sente muito medo". O que se pode fazer para vencer o medo?

Para aumentar a coragem é preciso entender que o medo nunca vai desaparecer enquanto os amantes estiverem crescendo, enquanto continuarem a ampliar a capacidade de amar e a correr riscos. Entretanto, a melhor maneira de perder o medo de fazer alguma coisa na vida é fazendo! Por isso, quando você está na dúvida, a atitude é: " Não existe volta, vou seguir em frente da melhor forma possível " , " A vida não é justa, a gente joga com as cartas que recebeu " .

Mas por que o medo caminha junto dos parceiros? Sabe-se que existem coisas que eles podem controlar, enquanto outras estão além de seu domínio. Porém, se eles se julgarem sem condições de influir no próprio destino, aí todos duvidarão de si mesmos, de sua força. As forças dos amantes desenvolvem-se ao aprenderem a lidar com os desafios reais, com a experiência de cada dia. Em meu livro "Encontros, Desencontros e Reencontros", digo: " Não deixe seu amor morrer de medo ou de susto. Lute por ele! " . A vida é uma luta difícil. Acontece que fazer dá poder, portanto, sinta o medo e lute assim mesmo pela própria sobrevivência e pela sobrevivência de seu amor.

* Maria Helena Matarazzo é sexóloga e autora de, entre outros, "Coragem para Amar", da Editora Record.

 

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