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Medo de Amar
Por: Osvaldo Shimoda - shimoda@vidanova.com
“O coração
é bastante grande para conter muito amor.
Quanto mais você o dá, mais você o tem”.
- Victor Hugo.
Você tem medo da intimidade?
Você tem medo de se entregar?
“Por que os meus relacionamentos amorosos não dão certo”?
Esta é a pergunta clássica da maioria das pessoas que me procuram em meu
consultório. Eu costumo responder que a causa do insucesso amoroso está no
medo de amar, no medo da intimidade, de se entregar.
É tanta mágoa, desilusão que se carrega do passado!
Em verdade, sua vida afetiva é péssima porque ainda está presa ao passado
(embora muitas vezes não admita) e existe em você uma quantidade enorme de
desilusão. E o que acontece? Você cria uma resistência em se entregar. Isso
impede que você tenha sucesso na esfera amorosa.
A maioria das pessoas não percebe que essas mágoas, desilusões advindas do
passado, acabam afastando as pessoas boas, amorosas, que são capazes de amar.
Os relacionamentos são ruins porque sua energia não é boa, isto é, você
cultiva crenças negativas a respeito do amor. Muitos dos meus pacientes antes
de se submeterem à regressão, não têm consciência dessas crenças.
Desta forma, o objetivo da TVP (Terapia de Vida Passada) é fazer o paciente ver
suas mágoas, “feridas” e decepções de seu passado que o impedem de se
entregar nos relacionamentos amorosos. Não há espaço para se realizar
afetivamente se você ainda está preso ao seu passado.
Em muitos casos, essas “feridas” se originaram de um passado mais remoto, em
vidas passadas, e continuam abertas pelo fato de você ter sido criado num lar
onde o desamor, a violência e o descaso estavam presentes.
Levine, um biólogo americano, numa investigação feita com ratos demonstrou
que além do desenvolvimento físico, mental e social, também os processos
bioquímicos são afetados pela ausência de estímulos e contato físico.
Levine fez a experiência com 3 grupos de ratos (filhotes), colocando-os em
gaiolas separadas. No 1º grupo (A), ele dava pequenas descargas elétricas; no
2º grupo (B), ele manuseava os ratos, isto é, pegava-os para colocá-los em
outras gaiolas; e simplesmente ignorou os ratos do 3º grupo (C); não deu
choque elétrico e nem os pegou. Só deu comida e água.
Após 3 meses de experiência, adotando os mesmos procedimentos diariamente com
esse 3 grupos de ratos, Levine os colocou juntos numa gaiola maior e observou o
comportamento deles. O grupo A (que levou descarga elétrica) demorou para
explorar o novo ambiente, mas acabou buscando comida. O grupo B (o manuseado)
imediatamente resolveu explorar o ambiente para buscar comida e o grupo C
(ignorado) ficou encolhido, com os ratinho amontoados entre eles, trêmulos e em
nenhum momento exploraram o ambiente.
Levine concluiu, portanto, que qualquer estímulo, ainda que negativo, é melhor
do que nenhum. Transpondo para nós, seres humanos, podemos dizer que um beijo
é melhor que um tapa, mas quando não o obtemos, pelo menos vamos buscar um
tapa, melhor do que a indiferença. Aqui explica, em muitos casos, o porquê da
criança ir mal na escola, ficar doente, ter comportamentos agressivos em lares
onde impera o desamor e, pior, a indiferença. Explica também o porquê de
muitos casais cultivarem um relacionamento tóxico, doentio, na base da
agressividade, violência, ofensas, maus tratos, etc.
Em verdade, nós incorporamos o modelo relacional de nossa família. Se você
foi criado num ambiente de afeto, ternura, aceitação, reconhecimento, atenção
e contato físico, a tendência será de se recriar esse ambiente saudável em
seus relacionamentos social, conjugal, familiar e de trabalho.
Entretanto, se foi criado num ambiente familiar de pouco afeto, atenção, violência,
de maus tratos e humilhação, você desenvolverá sensibilidade para reproduzir
com as pessoas esses comportamentos destrutivos. Daí porque muitas pessoas,
apesar de receberem elogios, atenção, carinho, não se sentem bem, ficam até
agressivas ou mesmo bastante constrangidos.
Mulheres que apanharam muito dos pais na infância, costumam receber com mais
naturalidade a violência do marido. Um estudo dos psicólogos da Vara da Infância
e Juventude de São Paulo, constatou que crianças espancadas tendem a se tornar
futuros pais espancadores. Da mesma forma, crianças abusadas sexualmente tendem
a se tornar adultos abusadores. Em verdade, muitos estupradores foram estuprados
quando eram crianças.
Boa parte da amargura das pessoas tem algum problema grave na área da ternura.
Neste sentido, a ternura tem uma força sobre as relações humanas e com a
atrofia dela, você se torna seco. Sofre do que eu chamo de “secura de
afeto”.
O pior é que muitas pessoas não percebem que são secas, isto é, são
disfuncionais do ponto de vista amoroso. São aquelas pessoas que respondem só
o necessário, não conseguem intimidade com ninguém. Como estão no
auto-abandono, costumam experimentar a dolorosa sensação de solidão. O pior
é a solidão a dois. O casal está junto fisicamente, mas não se entrega, não
sabe ser íntimo. São dois estranhos morando e comendo no mesmo teto. Mas o
pior ainda é a solidão familiar. Cada um em seu canto, não há proximidade física
e nem tampouco afetiva. Não há espaço para diálogo, afeto, ternura, porque não
há confiança mútua. Dar boas gargalhadas, um abraço bem “redondo”,
cumplicidade, elogios, reconhecimento, não há.
O intercâmbio de toques positivos é desestimulado. Toques positivos convidam
as pessoas que recebem a sentirem-se bem.
Agem no sentido de valorizar, qualificar, aprovar, aceitar e incentivar o
crescimento e aumentar a auto-estima. Ex.: “Eu te amo. Adoro sua companhia”.
Toques negativos são aqueles que criticam, reprovam, diminuem ou rejeitam as
pessoas, convidando-as a sentirem-se mal. Por isso agem no sentido de
desestimular ou mesmo bloquear o desenvolvimento das potencialidades individuais
e baixam a auto-estima. Ex: “Eu te odeio. Suma da minha frente. Não tenho
tempo para perder com você”.
Por outro lado, não importa de que família você vêm. O mais importante é
você se tornar uma pessoa de transição na sua própria família. Ser uma
pessoa de transição significa barrar em você a transmissão dessas tendências
negativas que lhe foram passadas pelos seus pais e não reproduzí-las para as
outras pessoas.
Se você veio de uma família mal humorada, extremamente crítica e condenadora,
deve mudar isso, e se tornar uma pessoa mais amorosa primeiramente consigo
mesma, se permitindo ser mais alegre, levar a vida de forma mais ‘light’,
aprender a se elogiar e elogiar as pessoas. Terá de exercitar mais, até que se
torne livre dessas tendências, dessas inclinações negativas. Então, você
terá se transformado numa figura de transição em sua família.
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