Medo de ser feliz

Mulher de 40 anos, divorciada.


Veio ao meu consultório me indagando sobre o porquê de tanta infelicidade em sua vida. “Tudo é complicado e difícil em minha vida”, disse a paciente. Ela me relatou que já contraiu inúmeras doenças e se submeteu a 11 cirurgias (3 vezes para tirar mioma, mais as trompas, ovário, seio e vesícula). Sofre de tireóide, anemia muito grande, problemas nas pernas (febre reumática), osteoporose e dificuldade de andar por conta de um acidente de carro (colisão). Recentemente caiu e fraturou o braço esquerdo. Já teve embolia pulmonar e parada cardio-respiratória, ficando 32 dias em coma; felizmente não teve nenhuma seqüela. Para terminar de relatar a lista de doenças que teve, disse-me que já teve também pancreatite aguda e foi submetida duas vezes à cirurgia de intestino.

Não tinha um sono profundo, cochilava e costumava acordar assustada. Tinha problemas de insônia e quando chegava a madrugada, perdia o sono e não conseguia mais dormir. Ela me confessou que sentia uma tristeza profunda que a acompanhava desde criança. Disse-me que quando criança também contraiu quase todas as doenças infantis.
Portanto, queria entender o porquê de tantas doenças, essa tristeza profunda e angústia que a perseguiam desde criança.

Ao regredir me disse: “Estou entrando num porão. Sinto um cheiro de coisa velha, estragada, de mofo. Sinto falta de ar, estou passando mal (paciente começa a respirar de forma ofegante)...
É um corredor, eu ando nesse corredor para chegar ao porão. Tem uma mesa, minha mãe está lá. Tem uma mulher deitada na mesa... Oh, meu Deus! (a paciente começa a chorar e gritar). Minha mãe tira a criança, está fazendo um aborto. A moça está deitada, cheia de sangue, ela grita muito... Minha mãe tirou a criança.
Mas não é só uma criança, ela abortou muitas crianças. Essas crianças vão me culpar. Que cheiro, meu Deus! (chora copiosamente).
Eu ajudei minha mãe na prática dos abortos; enterramos muitas crianças... Eu também tirei um nené. Estava grávida. O pai da criança não quis ficar comigo. Eu não tinha como cuidar dela. Eu tirei um nené de 3 meses. O espírito do nené ainda hoje me odeia.

Minha mãe me falou que tínhamos que ganhar dinheiro praticando o aborto. A gente tirou muitos nenés. Eles estão com muita raiva de mim.
Eu escuto o choro deles! (paciente fecha os ouvidos com as mãos). Minha mãe é uma mulher gorda, grandona, suja, cabelos desarrumados. Ela é muito feia. Vejo muitos espíritos escuros do lado dela. Eu sou muito magra, minhas mãos são muito grandes, cheias de calos, muito sujas”.

Peço para que a paciente prossiga na cena.
“Eu tenho que parar com tudo isso. A minha mãe está no porão. Se ela sair do porão vai continuar a matar mais crianças. Eu tenho que prendê-la. Vou fechar o porão lacrando a porta”...
O que foi que aconteceu com a sua mãe, indago-lhe?
“Eu fechei a porta, ela está presa lá dentro. Ela não vai mais poder fazer mal a ninguém. Estou do lado de fora. Eu saí do porão, mas não tenho para onde ir, estou sem destino. Agora estou correndo e caí, bati a cabeça numa pedra... Foi aí que eu morri”.

Peço para que a paciente descreva o que aconteceu depois de sua morte física.
“Estou fora do meu corpo. Sinto muitas mãos querendo me pegar. Estou num lugar escuro, cheio de fumaça. Tem uma mulher vindo em minha direção. Oh, meu Deus! É a minha mãe. Ela morreu no porão. Ela está com muita raiva de mim...
Vejo gente caída, atolada, elas ficam pondo a mão em mim. Eu preciso sair daqui. Socorro! Socorro! (paciente começa a chorar e a gritar). A minha roupa está suja, eu não consigo nem andar”.

Peço-lhe que avance mais para frente nessa cena.
“Vejo agora duas pessoas, um casal que me tira desse lugar. Eles estão me levando e falam que eu tenho que dormir porque eu estou muito cansada. Estou com sono, estou machucada. Eu preciso me curar. Eu falo que não mereço dormir. Eu tirei o meu nené, matei minha mãe e muitas crianças”.

Peço para que pergunte para o seu Eu espiritual o porquê de tantas doenças, tamanha angústia e tristeza na vida atual?
“Porque Deus não vai me perdoar. As vozes, os choros dessas crianças falam que nunca vão me perdoar. Será que um dia Deus me perdoa?
Agora estou dormindo. Estou num quarto, é tudo verde. Vejo uma mulher, uma senhora de cabelos esbranquiçados. Está vestida de azul. Ela fala que vou ver algumas pessoas. Estou flutuando, é noite, estou num lugar, não estou mais machucada. Estou dentro de uma casa. Essa senhora está comigo e diz que vou morar naquela casa.
É uma casa grande, está todo mundo comemorando alguma coisa, mas ninguém vê a gente. Vejo uma mulher grávida. Essa senhora diz que ela será a minha futura mãe e vou vir de novo à vida terrena. Está todo mundo comemorando a gravidez dela. As pessoas escrevem seus nomes num livro. Na capa do livro está escrito: 1964.
Eu estou com medo, eu não quero voltar. Se eu voltar tenho medo de errar novamente. Lá no porão, eles (os espíritos das crianças) falaram que Deus vai me castigar. E se eu reencarnar novamente, ele vai me castigar. Mas essa senhora diz que eu vou ter que voltar... Porque tenho que morar nesta casa? Eu nem conheço essa moça (futura mãe). Eu quero ir embora, eu tenho que dormir, não quero voltar, eu já falei! (fala com raiva).
No lugar onde estava (no mundo espiritual) eu me sentia bem, eu ajudava no jardim, gostava da biblioteca, lia muito. Eu não quero mais voltar. Eu quero ficar lá. (fala alto)”.

Peço em seguida para que ela se sinta no 1º trimestre de gestação no útero de sua mãe na vida atual.
“Eu quero ir embora. Minha mãe fica chorando porque tem medo de me perder. Eu quero ir embora, sair daqui (começa a gritar).
Aquela senhora que cuidou de mim no astral fala para eu ter paciência, que é para o meu bem reencarnar novamente. Mas eu não quero ficar aqui. Minha mãe chora porque tem medo de me perder. Mas eu nem a conheço”!

Vá agora para o 2º trimestre de gestação, peço-lhe.
“Que lugar apertado! É muito apertado! Eu preciso sair desse lugar. Eu quero sair daqui, que droga! (esmurra o divã). Quero ir embora, voltar para minha casa (no mundo espiritual)”.

Vá agora para o 3º trimestre de gestação, peço-lhe.
“Minha mãe está feliz. Mas eu não. Eu sinto que não vou ser feliz porque pequei. Deus vai me castigar”.

Vá para o momento de seu nascimento, peço-lhe.
“Eu me sinto triste, eu quero ir embora, não quero nascer”.

Qual o seu propósito para a vida atual, pergunto-lhe.
“Aquela senhora me diz: ‘Você precisa se perdoar. Se você se perdoar irá sentir que Deus te perdoou’... Agora me vejo deitada no berço”.
Sinto a presença dessa senhora nos momentos mais difíceis de minha vida atual”.

Após o término da regressão, a paciente me disse que estava se sentindo muito bem. Ela compreendeu que o seu maior desafio para esta vida atual era se perdoar e que essas doenças que contraíra, foram uma forma de se autopunir. Não era castigo de Deus, mas era sua alma que estava lhe cobrando pelo que fizera nessa vida passada.

Após exercitar o autoperdão, na 10ª sessão, ao encerrarmos o nosso trabalho, a paciente me confidenciou algo que me deixou muito feliz: Ela me disse que resolvera construir um orfanato.

Osvaldo Shimoda é terapeuta e trabalha com técnicas de hipnose e terapia de Vidas Passadas em seu consultório em São Paulo.
Email: shimoda@vidanova.com

 

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