LONDRES
(Reuters) – As lágrimas podem ser mais um meio de
transmissão da Sars (a pneumonia asiática), mas amostras
recolhidas no canal lacrimal dos pacientes podem também
ajudar a detectar a doença com antecedência, disse hoje
uma equipe de médicos de Cingapura.
O médico
Seng Chee Loon e seus colegas do Hospital Universitário
Nacional de Cingapura encontraram o vírus causador da
doença em lágrimas coletadas de 36 pacientes suspeitos
de estarem com a doença.
A doença,
cujo nome corresponde à sigla em inglês para Síndrome
Respiratória Aguda Grave, infectou mais de 8 mil pessoas
em cerca de 30 países e matou cerca de 800, de acordo com
números da Organização Mundial de Saúde. A epidemia,
que surgiu no sul da China em 2002, foi controlada, mas
algumas autoridades sanitárias temem que ela possa
ressurgir.
No
estudo, três dos oito pacientes que podiam estar com Sars
tinham o vírus em suas lágrimas. Todos haviam sido
contaminados há pouco tempo. Num dos pacientes, as lágrimas
foram a única forma de detectar a doença. "Esta é
a primeira série de casos em que o coronavírus responsável
pela Sars é detectado nas lágrimas, e isto tem implicações
importantes para a prática da oftalmologia e da medicina
como um todo", disse Loon no artigo em que descreve a
descoberta, publicado no British Journal of
Ophtalmology.
A
descoberta sugere que o vírus possa ser detectado e
isolado nos estágios iniciais da infecção. Analisar lágrimas
é um procedimento simples e fácil para os médicos. No
entanto, isto também significa que a doença pode se
espalhar pelas lágrimas, alem das gotículas produzidas
pela tosse ou o espirro. É um risco a mais para os médicos
e a população. "A prática oftalmológica talvez
precise mudar para incluir barreiras mais resistentes. As
medidas apropriadas de quarentena e isolamento são
essenciais", acrescentou Loon.
Os
cientistas atribuem a Sars a um novo vírus da família
coronavírus, também responsável pela gripe e o
resfriado comuns, além de uma variedade de doenças
encontradas em animais.
Loon não
encontrou o vírus nas lágrimas de pacientes em um estágio
mais avançado da doença, e por isso o novo método pode
ser útil para detectar a doença antes que aconteça.
"Nossa hipótese é de que a secreção do vírus
pelas lágrimas só aconteça nos estágios
iniciais", disse. "O estudo também sugere que a
Sars, como outros vírus, pode afetar os olhos".
Outros vírus,
como o da Herpes, da hepatite C e B e da doença de
Epstein Barr também podem ser encontrados nas lágrimas.