O cantor e compositor Gilberto Gil participou de uma sabatina durante o festival youPIX, denominado o maior evento de cultura de internet do País, na noite desta quarta-feira, no Porão das Artes, no Parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo. Durante o evento, Gil afirmou que o mundo da internet ainda está em fase de transformação.
"É um fenômeno que não encontrou ainda o seu perfil, nem no tempo nem no espaço. O YouTube tem seis anos, o Facebook menos de 10, o Orkut talvez um pouco mais. Rede social, essa expressão, só começou entrar no léxico há dois anos. Quando se falava nisso, você pensava em mobilização operária. Não tem, portanto, definição. Ainda está em processo de transformação. A lenha dessa fogueira está chegando só agora. As pessoas ainda estão indo na floresta trazer a lenha para abastecer esse fogaréu. A resposta para a definição é a indefinição", afirmou Gil.
Ao ser indagado pelo jornalista Bob Fernandes, editor da Terra Magazine, sobre o "choque do mundo de ontem e o mundo de agora", em citação ao premiê britânico David Cameron, que teria manifestado a intenção de interromper algumas redes sociais na Inglaterra após os episódios de violência naquele país, o ex-ministro do governo Lula afirmou que esse embate já está acontecendo, mas que a evolução tecnológica não é recente.
"O choque já está acontecendo, em vários graus, em várias medidas, números, em quantidade de pessoas. A expectativa é que aumente, mas também existe a expectativa que isso diminua. (...) Na base dessas iniciativas de 40, 50 anos atrás, ideologicamente, já se queria a transformação (tecnológica). O telefone celular foi desenvolvido para que fosse além do telefone fixo. Pode ser que (o choque) aumente, mas pode ser que diminua por causa da adesão das pessoas (à tecnologia)", disse Gil, que lembrou que a democracia é o regime que melhor permite a transformação da política e da sociedade.
"Estamos sim entrando na fase popular da história, onde a democracia parece ser a que mais se adequa porque é a que permite a "invasão" nos Estados pela mentalidade popular. O sucesso do governo Lula foi em parte disso, por atender demandas no campo social. A popularidade dele, que é altíssima no Brasil, se deve a isso. Eu acho que isso cresce no Brasil e no mundo inteiro. O pêndulo começa a pender definitivamente para esse lado, pela facilidade de acesso. Com essa tendência, viabilizada economicamente, você vai ter um pouco isso, a transformação da política. A política vai ser cada vez mais participativa e cada vez menos representativa", disse o cantor e compositor.
Ainda se dirigindo a Bob Fernandes, que o questionou sobre a privacidade na internet e até onde a sociedade ir a partir da tecnologia, Gilberto Gil disse que os limites serão estabelecidos pelas próprias pessoas que utilizam os meios.
"Nas redes sociais vemos um desejo inverso. Quem vai estabelecer os limites, de novo, são os indivíduos. Vemos a invasão (de privacidade) por interesse. Cada um de "nozes" (disse, aos risos, em referência a um dos vídeos mais populares do YouTube, "As Árveres Somos Nozes") temos que decidir até onde vai (a privacidade) e até onde a gente deixa assar a castanha. Por isso que as formas participativas de governanças são cada vez mais participativas. Os limites estão sendo ampliados ali, no espaço privado", afirmou Gil, sempre bem humorado.
Jovens querem "saltar de galho em galho"
Sobre a derrocada das gravadoras com o avanço dos downloads de músicas na internet e o surgimento de novos artistas que se popularizam com ajuda da rede, Gil afirmou, em resposta ao jornalista Alexandre Matias, editor do jornal O Estado de S.Paulo, que os jovens de hoje em dia querem ser "plurais" e não se preocupam em ter uma carreira profissional consagradora.
"Muitos dos meninos, eu tiro pelos filhos, já não almejam mais uma carreira consagradora. Eles querem saltar de galho em galho, eles querem fazer muitas coisas. Eu tenho um filho que quer ser jogador de basquete, quer ser investidor, quer ser músico...ele quer ser um bocado de coisas, mas ele não quer escolher nenhuma delas. Eles percebem que a realidade cada vez menos permite esse desejo, e ao mesmo tempo que gostam de ser plurais, gostar de ser multi habilitados. Essa é a condição pós-moderna. A modernidade é que exigia "o grande cantor", o "grande estadista". Só que a condição fragmentária na pós-modernidade acaba com isso (...). Eles ficam ali e depois eles vão embora para ficar com outra", disse Gil. O músico encerrou sua participação cantando ao violão Aos Pés da Santa Cruz.
A sabatina contou com a participação de Marimoon, apresentadora da MTV Brasil; Alexandre Matias, editor do Estado de S. Paulo; Bob Fernandes, editor da Terra Magazine, Mona Dorf, jornalista multimídia; Bruno Ferrari, repórter de tecnologia e web da revista Época; Rosana Hermann, jornalista, roteirista, blogger e escritora, além de Rafinha Bastos, apresentador do programa CQC, que chegou de surpresa para participar do bate-papo. O cantor e compositor Gilberto Gil também respondeu perguntas enviadas pela internet e do público presente no auditório.
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